Uma cogitação problemática – A venda dos Looney Tunes O mero boato é uma aberração a uma das maiores marcas do audiovisual ocidental!

Josué Fraga Costa
(Redator)
Looney Tunes
©Looney Tunes

Quando eu entrei na Anime United em maio de 2022, vim com uma questão que poucos abordam, o motivo por trás de certas obras caírem na obscuridade digital, e não serem mais comentadas ou analisadas, citando Samurai Shamploo, Roujin Z, Máskara e Jovens Titãs. Obras variadas, que tiveram algum sucesso no tempo no qual foram lançadas, e que simplesmente sumiram das discussões, mas que seus valores continuaram intactos.

São obras que estão na posteridade, e que tem espaço na história do audiovisual, algumas delas, de destaque mundial. Mas tem obras que possuem um valor ainda mais impactante, que se confundem com suas empresas, pois em suma, são as representações tácitas de cada uma delas.

O Mickey, por exemplo, mostra a capacidade de criatividade que Walter Disney possuía, até por que, ele desenhou, animou e dublou o rato mais famoso do mundo há mais de um século atrás. Outra gigante da área, que acabou gerando tais ícones, foi a Warner Bros, uma das pioneiras em animações e produções audiovisuais no geral, com a serialização das Merrie Melodies, curtas que entraram para a história, e a jóia da coroa, os Looney Tunes.

Looney Tunes
©Looney Tunes

E eu prometi há muito tempo atrás de falar aqui sobre estes clássicos, por que em grande parte, moldaram o meu gosto pessoal por animações, além de fazerem parte da minha vida, e que me ajudaram a ser o jornalista que sou hoje, e por coincidência, eu e a Warner Bros nascemos no mesmo dia, 4 de abril, separados é claro por 74 anos.

Quando pude assistir aos clássicos da era de ouro da animação, estas obras já eram consagradas no mercado, e em 1997, a Cartoon Network, também da Warner, estava seguindo o grande legado que a companhia fundada pelos quatro irmãos poloneses erradicados nos EUA. E na época, ninguém mais que Steven Spielberg estava à frente de obras marcantes, como Pink e o Cérebro, Freakazoid, Animaniacs e Tiny Toons, seguindo um legado criativo de Leon Schlesinger, grande criador dos estúdios que deram origem aos Looney Tunes, e que logo foi incorporado pela Warner como sua divisão de animações. Detalhe, Leon fundou os estúdios no lote da própria Warner na Califórnia nos anos 30.

As animações até então, eram meios de se fazer o audiovisual de maneira totalmente diferenciada das séries e filmes lançados, numa época anterior até mesmo a televisão, sendo exibidas nos cinemas, as vezes antes dos filmes, e em outras ocasiões, eram a grande estrela. Schlesinger era conhecido pela espontaneidade e liberdade criativa que dava aos seus desenhistas, tanto que, o Pernalonga se tornou a grande estrela, mesmo nascendo depois de Gaguinho e Patolino, que eram a grande dupla das produções.

Warner Bros
©Warner Bros

De onde vocês acham que o “Looney” de lunáticos, surgiu? Se comparado com as obras da Disney, com as Silly Symphonies (rivais das Merrie Melodies), que eram lúdicas e envolviam folclores clássicos, a Paramount com Popeye e suas esquetes envolvendo o marinheiro mais famoso do mundo, os Looney Tunes partiam para o humor pleno e verdadeiramente lunático, que por vezes, mostravam piadas envolvendo a própria equipe de produção.

E este foi seu grande marco, desde o começo, veja que até o próprio Schlesinger apareceu num curta com o Gaguinho e Patolino, uma das primeiras obras que misturaram animação e filmagem. As obras geraram grandes dividendos para a Warner, tendo conquistados vários Óscares entre os anos 40 e 50, além de terem sido um dos percussores da empresa na televisão, apesar de ter sido tardia, visto que os estúdios de William Hanna e Joseph Barbera, dominariam o mercado de animações entre os anos 60 e 70.

Nos anos 90, Ted Turner, fundou a Cartoon Network, tendo já em sua posse a Hanna-Barbera, passando seus clássicos junto com os Looney Tunes, e com a audiência subindo, pôde financiar outras grandes obras, como Johnny Bravo, As Meninas Superpoderosas, e outros grandes clássicos de nossa infância. Os lunáticos ainda fariam sucesso nesta época, com alguns episódios de Papa-Léguas e Coyote, tendo sido animados uma última vez por Chuck Jones, e outros curtas como Carrotablanca (alusão ao clássico Casablanca), lançado em 95, sendo criados.

Carrotablanca
©Warner Bros/Carrotablanca

E entre isto tudo, a grande vinheta da Warner reconhecida mundialmente, seria exibida com ninguém menos que o coelho mais conhecido do mundo, Pernalonga, e uma das músicas mais conhecidas, mesmo aos mais novos como eu. Quando perguntam por que d’eu usar a vinheta nas entrevistas que faço, a resposta está em todo este texto. Descrevi isto tudo para demonstrar quem são os Looney Tunes, basicamente, parte intrínseca da Warner, uma das cinco produtoras mais antigas do mundo.

São 102 anos de história, dos quais 92, com os lunáticos que deram cara nova e grande reconhecimento mundial, de uma produtora de filmes do faroeste e dona de salas de cinema, a uma com os portfólios mais variados e consagrados. Não é pouca coisa, e poderia fazer trocentas matérias somente falando dos Looney Tunes e das Merrie Melodies, e ainda seriam poucas, perto dos 1041 curtas feitos.

Não há como negar que os lunáticos e a Warner são uma entidade apenas, ícones do audiovisual, que criaram verdadeiras lendas do setor, como Mel Blanc, o homem das mil vozes, tendo sido o grande dublador de Pernalonga, criando a célebre frase, “o quê que há, velhinho? ”, ou, “what’s up, doc? ”, além de uma série de outros personagens da Warner, até mesmo os da Hanna-Barbera.

Blackbird Watchmanual
©Blackbird Watchmanual

Até o neoclássico Space Jam, com a lenda viva e realeza aérea, Michael Jordan, que na época, era um dos, se não, o maior atleta em atividade. Se Ferruccio Lamborghini decidiu criar um carro tendo tudo o que a Ferrari não tinha, dizendo as lendas que teve problemas com o próprio Enzo Ferrari, sobre uma embreagem ruim em um de seus carros, assim era a Warner com a Disney, sendo mostrado bem pelas animações com diferentes teores de estórias e personagens.

Walter Lantz conseguiu fazer outros personagens lunáticos, tal qual o Pica-Pau, que nasceu de maneira inusitada, já que em sua lua de mel, Walter foi perturbado inconvenientemente por um, sua esposa tendo sugerido em fazer o personagem por conta disso. A história é simplesmente grande o suficiente, e em termos históricos, muito recente para ser ignorada e não discutida como lhe é merecida.

A mera possibilidade de uma venda da PI (Propriedade Intelectual) dos Looney Tunes pela Warner, já deveria ser considerado uma abominação sem igual. Imagina a Disney vender o Mickey? A Michelin abrir mão do Bibendum? É sandice total!  Como Jerry Beck falou uma vez em análise, sendo um dos grandes historiadores de animação: “Essas são comédias clássicas. Esses são filmes clássicos e não devem ser esquecidos”.

Space Jam
©Space Jam

Surgiu no noticiário recente, boatos da venda dos Looney Tunes pela Warner Bros, após certas ações tomadas pela produtora americana terem sido percebidas pela mídia e por fãs. Todos os curtas Merrie Melodies e Looney Tunes foram removidos do Max nas últimas semanas, o filme Coyote vs Acme sequer foi publicado, e outro filme recentemente feito, Looney Tunes: O Dia Que A Terra Explodiu, sequer está sendo promovido nos EUA, e será lançado em 10 de abril aqui no Brasil, sem nenhum tipo de promoção.

Jeff Sneider soltou o boato, que vale ressaltar, não é uma das fontes mais confiáveis que há sobre assuntos da Warner e DC, tendo sido demitido em 2013 da Variety, um dos sites de jornalismo do entretenimento mais conhecidos na época por “comportamento não profissional”, e teve alguns problemas com a Warner posteriormente.

Mas vale destacar as atitudes estranhas da Warner após a fusão com a Discovery em 2022 com os clássicos da empresa. Ela até agora não apareceu para rebater os boatos, e vendeu Coyote vs Acme recentemente para a Ketchup Productions, com a estreia finalmente tendo data para ocorrer em 2026, ao que tudo indica. E não divulgou nada sobre O Dia Que A Terra Explodiu, animação 2D que honra as tradições lunáticas de Gaguinho e Patolino, a famosa dupla antagônica que gerou grandes clássicos dos curtas, até o grande Duck Dodgers, que de um curta, se tornou uma série em 2003.

Coyote vs Acme
©Coyote vs Acme

E isto é ruim, pois tal boato é muito sério, Jeff disse o seguinte a respeito:

“Disseram-me que parte da razão pela qual a WB decidiu vender Coyote vs. Acme para a Ketchup em vez de receber um crédito fiscal um mês antes do Dia do Imposto (15 de abril), é porque o estúdio está tentando vender os Looney Tunes de uma vez por todas.”

Imagine que num belo dia, surja o boato de que a Audi estaria sendo vendida pelo grupo VW, Audi sendo os braços e pernas do grupo, a grande responsável pelo desenvolvimento da famosa linha de motores diesel TDI, e por administrar a Lamborghini e Ducati. E então, a Volkswagen não aparecesse para desmentir o boato, que poderia muito bem impactar as ações da empresa na bolsa, causando discussões posteriores.

Não é qualquer boato, e sim algo que impactaria completamente o mercado automotivo inteiro. Quem seriam os compradores interessados? Quais seriam as mudanças? A mesma coisa se aplica com o boato, que já é assunto comentado lá fora, e provavelmente sou um dos poucos no Brasil a discutir o assunto mais profundamente.

Looney Tunes: O Dia Que A Terra Explodiu
©Looney Tunes: O Dia Que A Terra Explodiu

Isto é um sintoma preocupante na cultura ocidental, junto com o fracasso astronômico da Disney, com sua revisão anacrônica de Branca de Neve, que está recebendo notas tão baixas, que nem vale a pena mencioná-las, uma revisão que tocou numa das jóias da coroa de Walter Disney, que deve estar revirando no caixão. Venho falando da invasão de animes do Japão aqui no Ocidente que vem ocorrendo nos últimos dez anos, por culpa exclusiva do Ocidente, que ou enterrou suas grandes obras em favor de lixos políticos em forma de filmes e séries fracassadas, ou simplesmente desistiram de fazer novas obras.

E desde que a Cartoon Network foi encerrada em 2024 como canal, sendo exclusivo do Max, e que todo o legado dos Looney Tunes vem sendo mal aproveitado nos últimos anos, por mais que o rumor não venha de boas fontes, não seria de surpresa alguma se tal coisa ocorresse. Nos últimos anos, animadores independentes tem sido o bastião das produções ocidentais, que realmente caíram no gosto do povo, como O Incrível Circo Digital, Hazbin Hotel, Helluva Boss, Lackadaisy.

Esta seria uma boa época de repetir os feitos da Warner de quase 100 anos atrás, quando Leon Schlesinger chamou vários animadores de estúdios menores, animadores proeminentes que estavam sem trabalhos ou subutilizados. Há grandes animadores no mercado, e no mundo globalizado no qual vivemos, a disponibilidade é verdadeiramente global. As Meninas Superpoderosas: Geração Z, foi feito no Japão, por exemplo, da própria Warner.

As Meninas Superpoderosas: Geração Z
©As Meninas Superpoderosas: Geração Z

Se um estúdio no raio que o parta da Austrália, como a Glitch Productions, tem capitaneado vários autores a criarem novas obras, como Cavaleiros de Guinevere e O Distrito dos Lampejos, ambos a estrearem em 2025, uma produtora bilionária e com divisões espalhadas pelo globo como a Warner, deveria ser capaz de bem mais, ainda mais com um dos grandes títulos do Ocidente, quiçá do mundo.

Não tem faltado criatividade no Ocidente, e sim, financiamento de boas obras e oportunidades reais para verdadeiros artistas mostrarem do que são capazes de fazer. Disney fazia isso, Warner fazia isso, Paramount fazia isso, e hoje? Dão espaço para cotas, preenchidas por pessoas incompetentes e sem mérito algum, e o resultado aí está.

Disney dependendo de animações japonesas, o que deve estar fazendo Wall Disney se contorcer ainda mais na cova, além de jogar seus clássicos no lixo, Warner com uma série de títulos originais da empresa inutilizados, Netflix se rendendo aos animes e doramas do Oriente, por que elas mesmas não tem feito o dever de casa

Cavaleiros de Guinevere
©Cavaleiros de Guinevere

O sintoma é autoflagelo, simples e diretamente. Se quando eu assistia aos Looney Tunes de 40 e 50, a obra já tinha seus 50 para 60 anos, e ainda eram relevantes, não seria hoje que se tornariam irrelevantes. Sou fã de carteirinha do Frajola, Piu-Piu, Taz, Eufrazino, Patolino, Hortelino Troca-Letras, e por aí vai. São personagens brilhantes, com personalidade própria, e que deveriam ressonar para outras gerações de crianças e adultos. E sim, se o humor é tão destacado, saiba que antigamente, animações eram feitas para adultos.

O Ocidente caiu no ostracismo total, e há formas de fazê-lo voltar a sua forma original, mas tem de ser feito AGORA. Voltem a fazer os curtas nos quais os lunáticos eram tão famosos, e criem derivados como Duck Dodgers, que realmente aticem o público, mostrando que ao invés de proselitismo modernista, vocês honrem a história. E então, poderemos voltar a sermos o que éramos antigamente, e quem sabe, voltar a rivalizar com as obras japonesas. E que não seja, That’s All, Folks!

Fonte: Aqui!


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