UCCONX 2022, Entendendo um flop! Quais lições devemos aprender com o fracasso?

Josué Fraga Costa
(Redator)
UCCONX
© UCCONX

Eu sempre gosto de falar de um ocorrido ou acontecimento após seu encerramento pra ver o resultado geral, analisar com uma perspectiva mais ampla o que houve, como houve e no que ele resultou de fato, ao invés de falar no momento, pois pouco se tem noção das consequências que aquilo irá gerar. E olha, a UCCONX deu muito pano pra manga no que se diz a respeito do que foi o evento em si, desde a formulação  até sua execução, o que não faltou foi conversa sobre o evento que acabou nascendo de uma forma e acabou de outra. Mas primeiro, vamos por partes e entender o que a UCCONX é, o que a envolve, e o que acabou sendo para termos uma noção do que podemos aprender com este ‘flop’ monumental e suas consequências para a cultura pop, e olha que são muitas e nenhuma delas é favorável.

Os primeiros erros

Aqui um começo de problema, se você não sabia o que significava a sigla, assim como eu, por si só já mostra um primeiro problema desta exposição ter falhado miseravelmente, pois mostra a irrelevância e a desconexão do evento em si para com o público, a sigla significa Universal Creators Conference Experience, numa tradução direta, “Experiência da Conferência Universal de Criadores”, que significa de fato o quê? Espaço de criadores de conteúdo? Quais tipos de conteúdo? O nome já não evoca muita coisa de maneira direta, diferente de uma BGS, que significa Brasil Game Show, ou seja, um show no Brasil de games, ou até a Anime Friends, amigos dos animes, e a coisa fica ainda pior quando você descobre que a conferência abordaria, jogos eletrônicos com eventos de ‘E-sports’, cosplays com competição e exibição, filmes e séries com convidados da área, uma área asiática com temas japoneses, sul coreanos e chineses com animes e mangás, exposição de quadrinistas e artistas do ramo com seus trabalhos, e um tal de ‘urban’, meio desconexo, que tinha até pista de skate. Ou seja, dispararam para todos os cantos, com o objetivo de gerar uma experiência única de cultura pop. Acabou que foi uma metralhadora giratória nas mãos de alguém com mira ruim, disparou um monte e não atingiu nada e ninguém.

UCCONX/Arena Gamer
© UCCONX/Arena Gamer

Só neste resumo eu encontro dois erros básicos de um evento, o nome que não evoca a nada e que mostra a irrelevância no imaginário do público em potencial, e um evento que não conseguiu focar em nada, tentando ter públicos de nichos diferentes numa clara tentativa de alcançar muitas pessoas por meio de diferentes atrações, que geralmente não funcionam com mais de dois elementos distintos.  Mas os erros não terminam aqui, pelo contrário, só começam e explicam o resto dos erros do evento, se você não foi atrás dos meandros do que está por trás de tudo, eu vos trago um resumo. O mesmo começou a ser planejado em 2018 por pessoas que sonhavam em ter um evento de cultura pop sem precedentes, uma empresa estava bancando a coisa toda, várias confusões relacionados aos pagamentos e estruturação ocorreram, e se você quiser ver os relatos de pessoas por trás de tudo com ainda mais detalhes, recomendo a ver estes tuites. https://twitter.com/hugoevmelo1/status/1552381382558720000?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1552381382558720000%7Ctwgr%5E876c4a3cb300799c9f8cc92339f187d7aa52b89e%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Falternativanerd.com.br%2Fseries-tv%2Fucconx-2022-entenda-as-desventuras-do-evento-sem-millie-bobby-brown-e-george-takei%2F

https://twitter.com/akarlatomaz/status/1552104599951384576?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1552104599951384576%7Ctwgr%5E876c4a3cb300799c9f8cc92339f187d7aa52b89e%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Falternativanerd.com.br%2Fseries-tv%2Fucconx-2022-entenda-as-desventuras-do-evento-sem-millie-bobby-brown-e-george-takei%2F

Neles, as pessoas que começaram a trabalhar no evento e deixaram o barco, falam de detalhes da formulação e expõe problemas dos mais diversos, desde pessoas que compraram carros esportivos com a grana destinada ao mesmo, até a empresa que continuou a obra da empresa anterior do evento. A coisa simplesmente vai longe e seria maçante em um texto para que eu escrevesse e para que você lesse, pois são muitos os detalhes da coisa toda, até porquê a razão desta matéria é mostrar o que podemos tirar de proveito disto tudo, e não fazer um exposed. Mas já deu pra notar que o que há de certo aqui quase não vê, certo? O erro fonte aqui é a concepção do evento em si, e a partir dele veremos o que poderia ser dele se o potencial dele fosse usado de maneira sábia, e para isto, vou comparar com um evento que recentemente participei para comparar os pontos a serem mudados e suas consequências.

UCCONX/Divulgação
© UCCONX/Divulgação

Concebendo um evento para o público

Exposição, conferência, salões, enfim, todos são eventos para a exposição de produtos/serviços, e discussões para um certo público sobre algo. Tendo isto em mente, a UCCONX começa falhando nisto, pois, ele tentou reunir públicos de diferentes nichos num só lugar, como se fosse uma olimpíada a reunir vários esportes num só evento, com a diferença que neste caso sendo um evento esportivo, ele reúne públicos distintos dentro de um mesmo nicho, o nicho do esporte. E se você é entendedor, sabe que o público de conteúdos midiáticos é muito variado e diferente, você pode até argumentar que na mesma que as Olimpíadas reúnem diferentes esportes mas que fazem partes do mesmo nicho que é o esporte, assim seria o público midiático, mas receio que a mesma coisa não se aplica ao nicho de mídia, quer um exemplo? Dentro do universo dos jogos, há o público que assiste aos E-sports (competições de jogos eletrônicos), e há o público que compra os jogos e não assistem a estas competições online. Tem a turma que vê animes, mas que não assistem as animações do Ocidente e vice-versa, tem a turma que maratona as séries de maneira mais incisiva, e tem os cinéfilos de cinema. Todos são de um nicho midiático? Sim, mas de uns tempos para cá eles vêm se fragmentando cada vez mais e gerando nichos dentro de nichos, apesar de que é óbvio que há o público geral que está em todos, mas com a fragmentação, esqueceram o público geral completamente.

Ou seja, por mais que pareça ser legal a ideia de juntar públicos diferentes para se criar um público grande com isto, o que foi visto na prática foi um Pavilhão do Anhembi absurdamente vazio, e não à toa. Reverter a fragmentação destes públicos é quase que a questão de 1 milhão de reais, mas que não tem uma solução tão clara, pelo menos não por enquanto, mas já que a situação atual é esta, você tem de seguir o fluxo e se adaptar, se fosse um evento sobre games, como é a BGS, você veria um público maciço e em peso, pois sabe que tudo o que ronda o evento tem haver com o o tema em si, as atrações e convidados irão girar entorno disto, e não terá algo desconexo que não deveria estar lá, tanto visualmente quanto em áudio, assim como em todos os outros temas. Não adianta, temos que cair na real e colocarmos certas cartas na mesa, tem pessoas que não suportam a cosplayers, tem pessoas que não aguentam ouvir a nada que se relacione com animes, tem pessoas que não aturam games e por aí vai, logo, esta mistura de públicos não é tão simples de ser feita, se eu puder fazer uma aposta, tiveram pessoas que não se interessaram neste tipo de ambiente que tentaram formular, logo não me foi estranho ver um vazio incrível do evento. Outro exemplo, imagine unir o Salão do Automóvel de São Paulo com o Lat.Bus 2022, salão de exposições de ônibus, ambos são automóveis, certo? Mas nichos totalmente diferentes, até porquê são veículos com propostas e compradores diferentes, logo, o direcionamento do evento tende a ser distinto entre eles. Se eles ao menos fossem focados num único tipo de público, creio que o resultado seria completamente diferente.

UCCONX
@ UCCONX

O fator X do evento

Se quiser fazer sucesso entre o público, o fator X faz a diferença na quantidade de pessoas que você atrai, mas também no imaginário das pessoas que você quer conquistar, e aqui eles falharam em dois detalhes, o primeiro sendo que não é o único evento do tipo, eu perguntei para dois contatos de São Paulo sobre os eventos do gênero que ocorrem por lá em um ano, e de bate pronto me citaram Anime Friends, Ressaca Friends, BGS e a Comic Com. Quatro eventos, logo, a UCCONX não era novidade, então o fator de ser algo inédito não favoreceu, segundo, por conta do primeiro fator se tornou complicado apresentar algo que fosse diferente a ponto de ser um marco. Entenda o fator X como o diferencial de algo, e que tenha de ser valorizado e destacado por isso, e que é por meio dele que algo consegue algum destaque sobre outros semelhantes. E aqui entro com o evento que participei recentemente e que foi convenientemente perto de casa, falo da Fórmula 200, vocês conhecem kart? Pois a Fórmula 200 é o maior evento do tipo aqui no Centro-Oeste, a competição nasceu aqui em Goiás nos anos 80, mas não realizava corridas em Goiânia, minha cidade, desde 2009. E neste ano de 2022 ela já realizou 3 etapas na minha cidade, uma delas perto de minha casa, com um detalhe, nunca o evento sequer tinha acontecido nesta região, e foi um sucesso total, o mesmo sempre ocorre em circuitos de rua, sendo o maior evento nesse tipo de circuito no Brasil, e por isso ele é totalmente gratuito ao público para acompanhar as corridas. Por meio de incentivos de governos municipais que contratam o evento, o raro momento que concordo que o poder público financie algo para o benefício do contribuinte, as corridas são totalmente abertas ao público, tem arquibancadas cobertas, tem telões para o mesmo acompanhar a transmissão em pontos do circuito longe de determinada parte, tem eventos de exibição de manobras radicais com carros e motos, um show a parte, para além do prato principal que são as corridas. Fora que o público é livre também para tirar fotos dos carros nos boxes, pilotos, andar pelo traçado montado, inclusive estas são algumas das fotos que eu mesmo tirei, tudo isto em dois dias de eventos, sempre nas sextas e sábados, além de transmissão ao vivo no canal do YouTube deles.  https://www.youtube.com/channel/UCpaPS7Ewlp28KEy1vJGvpXg

Fórmula 200
© Fórmula 200

E não é de estranhar que nos dois dias 7 mil pessoas compareceram, totalizando segundo o evento em pelo menos 14 mil pessoas nos dois dias de evento, facilmente contabilizado já que o mesmo tinha arquibancadas móveis, fora a população local que mora entorno do traçado que montaram, abriram suas casas e até colocarem os sofás e cadeiras na porta pra acompanhar a corrida. Nunca vi tantas pessoas reunidas na área de uma só vez, e olha que no primeiro dia, a escola local que fica ao lado do traçado estava tendo uma festa junina, e obviamente perdeu feio em termos de público. Foi divertido, entreteve a todos, a população da área compareceu com o mínimo de propaganda dos promotores da competição, pois numa área onde o acesso ao entretenimento é quase que nulo, qualquer coisa que ocorra é certo de que terá um público muito bom, os feirantes e vendedores de alimentos compareceram em peso e fizeram uma grana com as vendas, tinha desde barracas de pasteis, até venda de churros e bebidas, além de patrocinadores da corrida sorteando kits diversos de seus produtos. Tudo citado faltou na UCCONX, em vídeos de pessoas que foram no evento eu vi uma singela praça de alimentação de pouquíssimos food trucks, não havia atrações que chamassem a atenção do público, tinha uma arena gamer que tudo que é evento de games existe, para que o público use durante o tempo para testar os jogos, tinha uma pista enorme de skate isolada e desconexa do resto, fizeram o que outros eventos já fazem a tempos, logo, não ousou em absolutamente em nada do que trouxe, com isso, ninguém se interessou de aparecer por lá, nem mesmo as barracas de lanches e outras amenidades mostraram as caras, se eu tiver que apostar, resolveram realizar atividades convencionais e certas de renda ao invés de algo batido e que provavelmente tomariam prejuízo. Uma coisa chama a outra, o público vai pra se entreter com algo interessante e com isso os serviços de apoio aparecerem naturalmente, pois eles veem que aquilo vai atrair público.

Errando nos detalhes mais óbvios

O que citei anteriormente é o básico que um evento deve fazer se quiser ter sucesso, ou seja, se quiser ter um público fiel que irá constantemente quando ocorrer. Eu sou um enorme fã de esportes, o automobilismo é um deles, mas na real, há mais pessoas que não curtem esportes, ainda menos pessoas que curtem o automobilismo em si, mas como em dois dias de evento as arquibancadas e arredores estavam lotadas? Foi o acontecimento inédito de uma região que é quase que morta em relação ao entretenimento e lazer, não foi um evento que quis se voltar somente para o fã do esporte a motor, tinham adolescentes em grupos, pais junto aos filhos, cônjuges tendo um momento, idosos, homens e mulheres de todos os tipos, e eu sabia quem era fã mesmo da coisa, e eram poucos, seguindo a lógica dos públicos onde o público geral sempre será maior que o público de nicho. A UCCONX errou e feio nisso, e falo isso como um fã de jogos, filmes e séries, animações, mangás e HQ’s, o evento estava todo focado pra pessoas iguais a mim, de nicho, te digo que pra atrair o mesmo tipo de público como na Fórmula 200, que tinha de todo tipo, seria basicamente impossível, se não conseguiu atrair o de nicho, quem dirá o povão que ainda não conhece e que possa ser o público em potencial.

Fórmula 200
© Fórmula 200

O exemplo mais claro disso, é ver os artistas que eles chamaram para dar um prestígio ao evento, como a Millie Bobby Brown, ela fez a Onze de Stranger Things, George Takei que fez o Sulu na série original de Star Trek, Rupert Grint que protagonizou à Rony em Harry Potter, como os mais conhecidos, e um bando de nomes que nem sabia quem é, como o Ian Somerhalder, Damon de Vampire Diaries. Meu pai assistiu a Star Trek, é um grande fã da saga, mas nem ele lembrou direto de quem era o George Takei, e eu não lembrei de cara quem era a Millie de Stranger Things. Onde estou tentando chegar? Cadê pessoas de destaque de fato das obras? Cadê pessoas como um Tom Cruise que geral conhece? Onde estão os nomes de fato conhecidos e que estão no imaginário das pessoas? O mais absurdo ocorreu logo de cara, quando a Millie e o George cancelaram suas participações alegando o coronga, quando que se descobriu que a Millie na verdade estava ‘cumprindo agenda profissional’, como se não estivesse confirmada para o evento, e jogou uma para a turma, de que não queria se arriscar a contaminar com o coronga, me soa meio como uma desculpa pra não aparecer por aqui, e o George alegou semelhante coisa, alegando que seu cônjuge estava contaminado e não iria arriscar. E pra terminar, tinha pessoas que pagaram 5 MIL REAIS pra tirar fotos e ter momentos com eles, e acabaram tendo que se contentarem com artistas que não pagaram para ver. Resumindo, se basearam muito em pessoas “famosas”, e o resultado foi aquela coisa mais vazia que rua na madrugada. Eu lembro que o Phill Spencer, chefe da divisão Xbox da Microsoft, em 2017 apareceu aqui no Brasil na BGS, e atraiu um público grande, detalhe, ELE que veio, pois é uma feira de jogos num mercado estratégico para o Xbox, deu prestigio ao evento pelo peso que o mesmo estava tendo ao longo de anos de realização. Já dos poucos conhecidos que vieram, só o Rupert conseguiu atrair algum público, ainda que bem pequeno em relação ao espaço. O espaço do Anhembi é ENORME, mais de 140.000 m² de espaço, é espaço pra enormes eventos de prestígio de fato, que a UCCONX não teve desde o nascimento. Eu lembro que a Anime Friends começou em espaços menores, como pátios de colégios até ter público que exigisse um espaço maior, não foram pretenciosos como os organizadores da UCCONX, que deram um salto maior do que a perna e que deu uma vergonha inigualável no Brasil.

UCCONX
© UCCONX

Desconexos da realidade Brasil

Citando novamente a questão dos esportes, os únicos eventos que ocorrem ao longo de um ano inteiro em qualquer canto do planeta, algo que vira e mexe sempre está na discussão quando se trata da quantidade de torcedores em logradouros esportivos é a questão do ingresso. Ao longo das últimas décadas a média de público vem decaindo horrores nos estádios de futebol e ginásios poliesportivos, e um dos fatores é o preço dos ingressos que simplesmente vem subindo a proporções absurdas, 50 reais na mão de uma pessoa é a diferença entre comer durante dias ou se entreter, 50 reais eu falo em números mínimos já que é “normal’’ ver ingressos a 100 reais como os mais baratos, pra ver um jogo no máximo medíocre de futebol, e no evento em destaque eu pude pesquisar e ver os preços dos ingressos e simplesmente achei um absurdo, ingressos variando de 125 a 300 reais, e tendo outras cobranças absurdas como os 5.000 reais para se ter momentos com os artistas “famosos” que citei anteriormente, e exigências ainda piores em relação ao que o público podia levar ao evento, era proibido até usar câmeras profissionais para tirar fotos, pois o evento tinha suas próprias câmeras para vender fotos para o público pela bagatela de 19 reais. Pessoas, estamos saindo de uma crise mundial de você sabe o quê, e agora estamos encarado as consequências financeiras disto, não só no Brasil mas como no resto do planeta, os EUA estão alcançando o status de recessão técnica, preço dos alimentos em alta, combustíveis na mesma, e pessoas cobrando essa bagatela por NADA, não me impressiona que ninguém foi nisto que chamaram de evento, os poucos que estão tendo condições de arcar com os valores já estão escolhendo melhor no que gastar esta grana, e a quantidade de pessoas que não tem como arcar com isto é ainda maior, não estou falando que assim como a corrida que fui eles poderiam fazer de graça no módulo de subsídios públicos, eventos privados tem de se pagar e lucrar. Isso não é algo feio como pregam em nosso país, mas o brasileiro não dá conta de entender o que é lucrar no volume, somente no bruto. Um exemplo, se eu tenho um produto que custa 100 reais e ele vende em 10 unidades, ele me renderá por 1000 reais. Mas, se o mesmo produto fosse 50 reais, ele estaria disponível para mais pessoas que agora podem arcar com 50 ao invés de 100, e ao invés de somente vender 10 unidades e lucrando 1000 reais, agora eu vendo 30 unidades deste produto, lucrando 1.500 reais, vendendo e lucrando mais. Apesar de ter ingressos vendidos à meia entrada e segundo os organizadores mais de 90 mil ingressos gratuitos foram distribuídos, que por outra mão várias pessoas alegaram ter de fazer um cadastro in loco para terem acesso a estes ingressos gratuitos, e na boa? Sou um cara duro que dói, pobre de marrédeci, se eu recebesse ingressos gratuitos, eu compareceria a qualquer coisa do gênero, e não sou o único que pensa assim, como diz o ditado, “de graça até injeção na testa”, então como que estes 90 mil ingressos não se converteram em presença de pessoas? Além do absurdo que cobraram de quadrinistas e artistas independentes, cobrando 800 reais por um espaço numa alameda de artistas que fizeram, e mais 5% do que ganhassem com as vendas de seus materiais, e advinha? Alameda vazia como demonstrado na imagem abaixo.

UCCONX/Artist Alley
© UCCONX/Artist Alley

E não é somente uma questão de valores que está desconexa de nossa realidade, tem outra questão que não vi ninguém citar mas que notei e creio fazer toda a diferença, eu citei alguns eventos do gênero que ocorrem em São Paulo e são 5 de maiores proporções, fora que na capital há três equipes de futebol da primeira divisão do campeonato brasileiro, eventos da área automotiva, corridas da Stock Car, Copa Truck e Fórmula 1, e outros tantos eventos que variam de culinária até eventos religiosos, ou seja, há uma penca muito grande de eventos ocorrendo a todo momento na cidade, mas isto tem uma desvantagem que poucos veem. Em jogos de futebol, é óbvio que torcedores do São Paulo não vão ao estádio do Palmeiras para assistir aos jogos do rival, agora, nada impede de alguém que vá em um evento religioso de ir em um evento de jogos eletrônicos, nem alguém que vá em um evento culinário de ir em um evento automotivo ou esportivo. Agora, com tantos eventos assim numa única cidade uma dinâmica ocorre e que acaba refletindo no apoio e comparecimento do público, ou cada um dos eventos que citei terão maior seletividade e o público irá variar cada vez menos, acontecendo de que algum evento terá mais pessoas do que outros, ou então o público irá diluir entre todos eles e não terão tantas pessoas. Uma dica pra quem promove eventos, o Brasil tem muitas cidades com áreas metropolitanas de 2 milhões de pessoas residindo fora do eixo Rio-São Paulo, a minha Goiânia é uma delas, mas tem Salvador na Bahia que tem quase 3 milhões de pessoas, Manaus tem 2 milhões, e por aí vai. Há público e demanda para eventos “geeks” em outras regiões do Brasil onde simplesmente não há eventos do tipo, e que se tivessem teriam um público totalmente interessado a comparecer. Cito novamente o caso da Fórmula 200 daqui de Goiás, que desde os anos 80 correm exclusivamente nas ruas dos municípios goianos, pois não são muitos os kartódromos para a realização do evento, além de que a realização nas ruas deixa o evento ainda mais próximo do público.

As consequências do flop na cultura

Não fico feliz com este flop monumental por vários fatores, primeiro que só me alegro com a infelicidade de torcidas adversárias no esporte, mas em termos de eventos, eu conheço várias pessoas que organizam shows, casamentos, formaturas e outros e vivem disto, e na concepção do evento vários se pronunciaram que os primeiros organizadores em um determinado ponto anunciou aos funcionários pra trabalharem por amor, pois não receberiam por falta de grana em caixa. Imagino a frustração que estas pessoas passaram com contas chagando e tendo de se esforçarem sem o devido pagamento, pessoas que perderam uma grana considerável para algo que tinha tudo para dar certo e de repente o clima virou 360º. E depois, eventos que flopam assim tem danos para a própria comunidade que o apoia, a se ver que pessoas deram um bolo para o pessoal da UCCONX, como os artistas que citei lá pra cima, além de empresas do ramo como editoras que confeccionam os mangás e HQ’s, vendas de produtos relacionados como camisetas, canecas e etc. Eu não vi entre os convidados que o site mostrou pessoas como, dubladores de personagens, quadrinistas conhecidos do Brasil, cosplayers de destaque, e por aí vai, diferente do que os japoneses fazem no Japão. Eventos geeks são extremamente comuns por lá, e como presenças que são via de regra para a realização da coisa, sempre se vê os dubladores de animes, cantores e/ou bandas de músicas temas dos animes, mangakás e desenhistas de mangás e por aí vai. Eles valorizam os artistas locais e não ficam dependendo de celebridades estrangeiras para que o evento tenha alguma relevância, o que acaba criando uma ligação entre o público e o conteúdo demonstrado. Sabe o que essas falhas todas causarão? Se eventos seguirem a toada da UCCONX, quantas pessoas vocês acham que estarão dispostas a investir ou comparecer ao evento em si? As empresas lá de fora que expõe seus produtos e serviços acompanham o público, sem público à vista elas não comparecerão, e não é exagero pensar que obras animadas não baixam aqui no Brasil com dublagem, ou pensar que mangás e HQ’s não serão disponíveis em português, fora que eventos assim renovam e aumentam o público do gênero, e isso contribui com mais obras para nós, basta ver a quantidade de games que surgiram dublados de uns 5 anos para cá, e de uns 2 anos a quantidade de animações disponíveis em português aumentou exponencialmente, mas que podem ser interferidas por conta disto.

UCCONX
© UCCONX

Conclusão

Resumindo tudo, a UCCONX cometeu todos os tipos de erros, tiveram o olho maior que a barriga ao fazerem um primeiro evento em um local muito grande, ao invés de ganharem o imaginário do público em potencial já deram um salto maior que as pernas, e o tombo foi monumental. Não se focaram e definiram o que eram, dispararam para todos os lados e não acertaram ninguém, não valorizaram o público regional com atrações relevantes do Brasil, a formulação de tudo fugiu da realidade que nos rodeia, preços de ingressos absurdos para quase nada de atrativo, e sendo sincero, se ano que vem conseguirem se reerguer espero que aprendam com os erros que cometeram na edição deste ano, mas pelo andar da carruagem eles não terão a bala na agulha para o fazerem, a considerar que era para ter sido realizado a dois anos atrás e quase ninguém compareceu. Fico triste mesmo que tudo isto fracassou, o potencial existe e fora desperdiçado com uma bagunça desde a formulação até sua realização atrasada feita por uma outra empresa, teria sido melhor não ter acontecido do que ter aparecido da maneira como foi colocado, a coisa já foi denegrida e não sei se impregnará na cabeça das pessoas de forma que no ano seguinte surja na memória das pessoas para que o evento esteja a ser realizado. Lembrem-se, nosso país não se resume ao eixo Rio-São Paulo, criem eventos para fora em outros lugares do país onde há demanda e pouca oferta para o público, sejam focados e concebam algo com foco total em uma única coisa, que seja realizado cada vez mais próximo das pessoas e que se respeite a proporcionalidade de publico e do ritmo de crescimento da coisa em si, fazendo tudo isto, vocês atrairão a novos fãs, estabelecerão os atuais e com isso terão relevância, e os benefícios aparecerão naturalmente para a comunidade em si.

E você, foi na UCCONX ou em eventos do tipo? Diga como foi nos comentários e deixe sugestões para mais textos!


ESCUTE no SPOTIFY
SUA OPINIÃO É IMPORTANTE. COMENTE AQUI!
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião
deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.

One thought on “UCCONX 2022, Entendendo um flop! Quais lições devemos aprender com o fracasso?

  1. ¡Acabo de tropezar con sus comentarios y encontré que sus cómics favoritos son muy similares a los míos! ¡Por lo tanto, tengo que compartir mi cómic más valioso con todos aquí! Debemos enfrentar la emoción y la sorpresa.🥳
    —–>>>http://TELFS-3D.NET/Fk29725hz

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *