Já pude por várias vezes aqui mostrar minhas raízes na cultura dos animes e mangás, que começou com um pequeno Josué em Goiânia no ano de 2002, quando uma pequena moça Nikkei chamada Shinomiya o apresentou um mangá totalmente em japonês de Naruto, e o tanto que isso marcou a minha vida, até chegar aqui no site em 2022.
Mas minha vida com a animação em geral começou com os cartoons que passavam na televisão aberta no começo dos anos 2000, e tive a honra de nascer no tempo certo para acompanhar a era de ouro da Cartoon Network, Nickelodeon, e os bons tempos que a Disney ainda produzia conteúdos de boa qualidade.
Mas pude também conhecer a clássicos da grande era de ouro das animações, como as que foram feitas pela Warner Bros, MGM, Disney, Paramount, Hanna-Barbera, e alguns estúdios independentes que fizeram clássicos como a Pantera Cor-de-rosa, que nasceu para compor a abertura do filme de mesmo nome, e acabou tendo tanto carisma, que deu origem a série de animações entre 1964 e 1980.
E há de se reconhecer o responsável direto por isso, que foi Sílvio Santos. No dia de sua morte, seu grande legado, o SBT, não deixou de passar as animações que eram parte de um marco numa vasta lista de programações pensadas por ele, que fidelizaram todo um público em sua emissora, já que era um desejo pessoal do próprio Sílvio, que mesmo sua morte não fosse um empecilho para seu público.
“Se quiserem tirar os desenhos da grade depois que eu morrer, fiquem à vontade, mas enquanto eu estiver vivo eles vão continuar. O telespectador do ‘SBT Brasil’ de hoje era o telespectador do ‘Chaves’ 20 anos atrás. A criança é a mais fiel dos telespectadores”, disse Sílvio Santos.
Há de fato muito o que falar de um gênio, pois o gênio define todo um marco em seu meio, ou mesmo altera a percepção sobre aquilo, a exemplo do que Pelé foi pelo futebol, que venceu três copas do mundo, uma delas tendo 16 anos, o mais novo até hoje a ter vencido uma copa do mundo, e seus 1283 gols, feitos inéditos no futebol em sua época, e mesmo hoje em dia, incomparáveis.
E Sílvio foi este gênio em relação às animações, pois como ele mesmo disse, “a criança é a mais fiel dos telespectadores”, pois mesmo recentemente na história, quando vários países seguiram uma tendência nefasta sobre proibir a propaganda de brinquedos e artigos infanto-juvenis, por meio de leis e diretrizes, e mesmo tendo o prejuízo por horas sem propagandas, ele ainda manteve as animações aos sábados.
E é um aspecto fundamental para analisar o impacto que as animações tiveram no Brasil por intermédio de seu canal. Nós que nascemos nos anos 80 e 90, e pudemos assistir os clássicos da Warner Bros, e sua ótima fase pela Cartoon Network, que nos deram Jhonny Bravo, As Meninas Superpoderosas, Pink e o Cérebro, Jovens Titãs, ou mesmo já com 30 ou mesmo 40 anos, as obras da impressionante Hanna-Barbera, (outra que estou devendo uma matéria aqui no site), tivemos a honra de acompanhar a última boa era das animações.
Por mais que a concorrência da Globo semanalmente pela manhã, e com uma igualmente vasta lista de animações em seu portifólio, havia algo de especial que o SBT transmitia, e que vinha desde bem cedo. Antes do Bom Dia e Cia, por volta das 7 horas da manhã, os clássicos Looney Tunes e Merrie Melodies já preparavam a audiência, e eram algumas das obras exclusivas na televisão aberta que a emissora possuía.
O próprio Bom Dia e Cia era algo bastante diferenciado, antes mesmo das brincadeiras que premiavam, os primeiros anos de Yuji e Priscila, tinham mostras de datas especiais do Brasil, mostrando uma atenção cultural para com o público.
Havia um ambiente certamente diferente do habitual que podíamos ver em outras emissoras, já que o Band Kids não conseguia chegar perto do que era feito, na Record os desenhos da Universal passavam sem uma chamada específica, e eram esparramados em sua grade, e a TV Globinho, tentou o mesmo formato do Bom Dia e Cia, mas a melhor parte era indubitavelmente sua grade de animações.
Falar dos exclusivos mereceria uma matéria específica e bastante longa, com bem mais pesquisas do que uma opinião geralmente demandaria, e de variedade, rivalizava tête-à-tête com a Globo, diria um empate técnico entre ambos. Mas gostaria de enfatizar alguns momentos que certamente serão lembrados pelo SBT, e que marcaram uma geração inteira de pessoas.
A era de ouro da animação
Imagine que obras com seus 50 ou 60 anos fossem exibidos e que ainda dessem audiência, e num caráter técnico, até humilharia seus semelhantes mais novos? E não posso dizer que sou um saudosista, já que quando Pernalonga foi concebido, meus avós eram jovens que nem imaginavam que um televisor existisse, mas há de se reconhecer o papel fundamental da Warner em solidificar toda uma cultura com suas obras.
E então os clássicos da Hanna-Barbera que dominaram o mercado de animações nos anos 60 e 70? William Hanna e Joseph Barbera criaram um batalhão de personagens originais, além de terem sido os primeiros a licenciar conteúdo da DC em animações, Superamigos é até hoje lembrado com carinho pelos fãs, e tem quase 60 anos, fora que Tom & Jerry, primeiramente animados nos anos 40 pela dupla Hanna-Barbera, encontrou seu lugar na história, e também no SBT.
Originais da Cartoon Network e os super-heróis
Mencionei Jhonny Bravo e As Meninas Superpoderosas, mas a lista é simplesmente abismal, tão grande que por si só, já merece uma matéria dedicada, pois se eu tiver de falar do Laboratório de Dexter, eu terei que falar da Te Xuan Ze, Juniper Lee. Se eu falar de Animaniacs, terei de falar de Tiny Toon, e se eu falar de HI HI Puffy Ammi Yumi, terei de falar de KND – A Turma do Bairro.
E se formos realmente nostálgicos, já falei algumas vezes em outras matérias sobre a Liga da Justiça e Liga da Justiça – Sem Limites. Aliás, a melhor era da animação 2D da DC pode ter sido exibida no SBT e de maneira exclusiva na tv aberta, somente lá você poderia assistir: Super Choque, Projeto Zeta, Jovens Titãs, as muitas animações do Batman, e muitos outros.
Animes
E o que dizer dos animes? Se eu comecei falando de Naruto, aqui eu não posso esquecer do impacto que seu lançamento em 2007 teve no Brasil. Era o assunto na escola, geral tinha um álbum de figurinhas, roupas, brinquedos e por aí vai, só de Naruto. One Piece e o desastroso caso da 4Kids, que por um bem maior, já não existe mais, ainda teve seu momento de fama, mesmo que muito breve. Poucos lembram, mas os filmes da saudosa e maravilhosa Ghibli tiveram seu espaço por lá também, principalmente aos sábados, que era o dia que se exibia filmes animados, como os filmes de Snoopy e Charlie Brown, e que nos deu belos momentos entre os amigos.
O envolvimento de Sílvio Santos com o público infantil é tão extenso e antigo, tão antigo em fato, que as crianças da geração de meus pais conseguiram ouvir em seus vinis as canções infantis compostas pelo próprio Senor, que fazem parte de uma gama de mais de 100 músicas compostas e/ou cantadas pelo apresentador.
E no dia de sua morte, enquanto a mídia parou e merecidamente para falar do legado que o apresentador deixou, sua alegria e irreverência, seu olhar para o público de massas do Brasil, e seus vários programas trazidos e apresentados pelo próprio Sílvio, o SBT respeitava sua vontade e mostrava o grande apreço que ele tinha pelas animações, numa época que as crianças ficaram órfãs de tal conteúdo, e que não conhecerão clássicos do passado, ou os animes japoneses.
Nós lembraremos para sempre destes bons tempos, tempos que antes de irmos à escola, tomávamos o café da manhã com nossos pais, fazíamos a tarefa de casa vendo um desenho na única televisão de casa, isso quando não o fazíamos na casa de nossos amigos, almoçávamos e íamos à escola para fazermos o que não gostávamos, cheio de pessoas repugnantes, em locais xexelentos, que eram as escolas, quando que o ato de assistir as animações nos davam uma boa dose de energia e alegria.
Momentos que nos tranquilizavam, divertiam, uniam, e este último sinal de preocupação de Sílvio Santos, é o grande marco de vida para nós que vimos a última boa era de animações do Ocidente. Por mais que o texto seja meu, e meu amigo Eric Paixão tenha feito um texto sobre o assunto, é algo que faço em nome de todos da Anime United, que assim como eu, lembram da importância que o Bom Dia e Cia e o Sábado Animado tiveram em nossas vidas.
Apesar das diferenças que todas as pessoas têm, suas animações uniam os ricos e pobres, alunos da pública e do particular, fãs de ação e de magic girls, em frente a telinha de tubo, com a certeza que iríamos ter a melhor diversão acessível a todos.
E em nome da Anime United, que me deu este espaço anos atrás para que pudéssemos falar do que gostamos, agradeço ao SBT de Senor Abravanel, pelo carinho que demonstrou para conosco, e desejamos os melhores sentimentos à sua família, e que seu belo legado não morra, mas viva intensamente!
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