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Já vimos que o mundo de Frieren é repleto e casa com a proposta de uma longa jornada, e que seu enredo mostra o porquê desta jornada. Mas, e seu elenco? O que estas figuras realmente trazem à mesa, e que conseguiram conquistar os fãs? Frieren sendo a principal da obra, está numa longa jornada em sua vida igualmente longa, na busca de compreender mais sobre os humanos, principalmente, seus antigos companheiros.
A aventura começa com o objetivo de destruir as forças do mal do rei demônio, e tudo dá certo no fim. O herói Himmel, o guerreiro Eisen, o clérigo Heiter, e a maga Frieren, são os heróis que colocaram o mundo num período de paz, sendo devidamente homenageados em todo o continente. Mas para Frieren, todos estes anos não fizeram um mero impacto em seu tempo de vida, e ela não sentiu o resultado que esta jornada teve. Ok, conhecemos a base do enredo e seu objetivo, e pergunto o seguinte para você, caro leitor, o que fazer com personagens em uma longa jornada?
O que você focaria? Kanehito Yamada, a autora da obra, focou bem no que os personagens realmente trazem para a execução do enredo. Não que haja uma novidade na formulação de personagens, principalmente falando de um mundo de fantasia, com grande inspiração das terras médias, e o folclore medieval. Mas cada personagem explorado, inclusive os secundários, que aparecem em um único episódio, são fundamentais e tem seu destaque devidamente exibido.
O anão guerreiro que defende uma vila a bastante tempo, exibido no episódio 16, participa em algum nível do treinamento de Stark. Além disso, é interessante compreender o motivo dele defender uma aldeia aleatória, mostrando empatia pela aldeia que sua esposa havia amado, mesmo que ele já não se lembre mais de sua feição.
No 15º episódio, Frieren, Fern, Stark e Sein, continuam em sua viagem à Aureole, mas de tão distante que é, ficaram sem dinheiro. Passando por Vorig, conseguem um trabalho inusitado, onde Stark se passa pelo falecido príncipe Wirt, já que a linhagem da família Orden, que comanda a região, é oriunda do mesmo local que Stark, a região de Klee.
Pude abordar no primeiro texto desta série que o mundo de Frieren é realmente vivo, e não um plano de fundo vazio e genérico, todo ele demonstra do impacto de seus personagens, mas também, os personagens são reflexos deste mundo. Os personagens não são personalidades independentes ou somente que combinam com o tipo deste mundo, mas se mostram tão vivos quanto seu mundo.
Fern é uma órfã por conta da guerra, perdendo seus pais a tenra idade e sendo adotada por Heiter, ela cresceu basicamente com os ensinamentos de um clérigo, e não teve contatos com pessoas de sua idade, tão pouco garotos de sua idade, visto que seu relacionamento com Stark não é dos mais orgânicos, o que gera momentos muito hilários, que dão um ar de humanidade.
Sein é um perdido na vida, gosta de fumar e beber sendo um clérigo, e de mulheres mais velhas (talvez não tão perdido), mas ele não é um adolescente como Stark e Fern, e em sua breve convivência com o grupo, mostrou ser um bom contraponto aos dois, além de mostrar que há empatia nele.
Já Frieren sendo uma elfa, é simplesmente horrível em mostrar empatia e compreender as emoções e sentimentos humanos, já que sua longa vida impede que ela experimente como que o ser humano realmente funciona, não só biologicamente, bem como sua alma. Já que a elfa por várias vezes não compreende a fé de Heiter, já que viveu mais de um milênio, vivendo quase o mesmo que uma divindade. Ou mesmo a inexistente noção de amor, chegando ao ponto mesmo de falar que tem uma aversão a própria espécie.
Mas sua experiência dá frutos e andamento ao relacionamento com os outros personagens. Frieren é forte, mas não prepotente, já que sua mestra Flamme a ensinou a esconder sua mana, a um ponto que sua presença só tem impacto por suas ações. E isto é visto durante o arco da guilhotina, quando Aura pensava em ter mais mana do que Frieren, mas nem percebeu que a elfa havia escondido sua presença pela mana.
Somente poucos são os que durante a jornada conhecem quem realmente a grande maga élfica era, e mesmo tendo presença em estátuas espalhadas pelo continente, sua presença é tão fraca quanto suas feições. Seu tom de voz não é dos mais destacáveis, bem contemporizado na dublagem em português, seu corpo não é tão chamativo quanto o de outras mulheres, mas suas ações nunca são vãs e tolas.
As personalidades são bem definidas de acordo com a vida de cada personagem, o que dá identidade clara e gera linhas coesas em suas falas e papéis no enredo. Stark teve uma infância difícil, filho de um lorde guerreiro e irmão mais novo de um grande guerreiro, ele não conseguia se destacar, o que o desonrava bastante ante aos seus.
Eisen o treinou, mas se irou ante ao medo de seu protegido, o que no começo da obra, mostra o medo e hesitação em seus atos, fora a falta de maturidade, já que passou uma vida treinando e negando todo o resto, inclusive o relacionamento com outras pessoas, o que é notável durante toda a obra, já que ele hesita bastante ao agir, e não compreende as dinâmicas de Fern.
Fern acaba tendo um background parecido, mas sendo mulher, se concentrando bastante em seu treinamento, e pouco se importando com outros detalhes que mulheres de sua idade teriam. Porém, ela não hesita em agir, e acaba absorvendo muito da persona de Frieren, principalmente seu semblante neutro e profundo, apesar de ter uma aversão da desorganização de Frieren, seja com as atividades, seja com o tempo.
E o tempo é fundamental, e Fern tem uma notória impaciência com a falta de noção de tempo de sua mestra, já que a elfa não vê problemas em passar anos num local, enquanto que Fern sendo humana, se importa bastante com o tempo, já que o tem em escassez perto de Frieren. As dinâmicas do tempo nos influenciam de tal forma no anime, que os 20 minutos que gastamos em um episódio, são equivalentes a um arco inteiro da obra que pode durar dias, semanas, ou anos inteiros, como a Frieren sentiria.
Há uma organicidade que realmente impressiona e pouco se tem disponível no mercado de animações e mangás. Os personagens aqui têm tempo limitado, o ambiente impacta diretamente nas personalidades dos personagens e em suas ações, sua morte é algo notável, ao invés de ser algo impactante. A vasta maioria das obras, por mais que possuam mortalidade, transmitem um ambiente onde os personagens nos dão uma sensação de invencibilidade e imortalidade inerentes, Frieren transmite isto de melhor forma, sendo mais humano e orgânico.
A obra de Frieren e a Jornada Para o Além é bem composta, há conteúdo de sobra para se fazer temporadas inteiras, pois é detalhada o suficiente para se limitar a uma temporada de 12 episódios como a maioria. Seu mundo é vivo e funcional, mostra suas imperfeições, e como ele impacta na vida de seus habitantes. Seu enredo é fortemente baseado neste mundo e é coerente com seus personagens totalmente únicos entre si. Realmente, uma verdadeira jornada que não cansa, é consistente, e não há dúvidas, uma das melhores animações do século XXI!
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