O Ecchi Por que atacam tanto o ecchi?

Josué Fraga Costa
(Redator)
O Ecchi
©Anime United

Já pude abordar em artigos aqui na Anime United a raiz de certos ataques que animes, mangás, e mais recentemente, os jogos, estão sofrendo nos últimos anos por parte da mídia e uma grande massa de manobra criada por ela.

Já pude abordar por muitas vezes o assunto do ecchi por aqui nestes mesmos textos, e quando falei sobre A Popularidade dos Animes, citei um detalhe fundamental na discussão do assunto deste texto; “Dá pra ver que em várias cenas de ecchi há censuras impostas por aqui e que os japoneses são submetidos, porque colocaram a pauta nesta parte do mundo a “sexualização indevida da mulher’’, pois acham que o ecchi objetifica e blá, blá, blá, caso se importassem com isto de fato, Onlyfans não existiria de forma alguma”.

Ou mesmo no primeiro texto que fiz sobre o tema da Guerra Cultural, quando falava sobre o Anacronismo na Arte: “É por conta dele (anacronismo) que atitudes de censuras ocorrem, um exemplo preto no branco disto é a censura de animes ecchi, por pessoas que creem que isto é sexualização e outras coisas mais, por pessoas que na vida real gostam de pornografia e similares”.

KonoSuba!
©KonoSuba!

O ecchi tem sido um alvo muito fácil de quem deseja atacar as obras japonesas de alguma forma, e tudo isto por conta do momento cultural que o Ocidente vem passando nos últimos anos, e vem sido um alvo por conta da Guerra Cultural que está em andamento contra o Japão e suas culturas.

Já me perguntaram por que falo sobre o tema e o que têm haver com isto, e é simples, temos que enxergar o que está por trás destes ataques, e a Guerra Cultural é algo que existe desde o primórdio dos tempos, quando valores em conflito eram combatidos em todos os meios para que um sobressaísse ao outro.

E aos que acham que defendo a cultura nipônica por cegueira, os japoneses desde o começo do século XX até a Segunda Guerra Mundial, censuraram os coreanos ao ponto de proibirem que eles tivessem nomes em seu idioma original, quando os japoneses invadiram a península coreana. Saibam que isto ocorreu por todos os cantos do planeta ao longo da história, e por mais que fossem em pontos diferentes, o motivo era o mesmo, ter o controle de um ao outro.

KOREAN CULTURAL CENTER
©KOREAN CULTURAL CENTER

E recentemente o Ocidente entrou numa fase de não somente ser anacrônico, mas também de ser hipócrita, principalmente nessa questão. Você tem um crescente na questão de liberação sexual, ao ponto de se tornar uma verdadeira libertinagem que são vistos por meio do Onlyfans, Privacy e outros similares, e se você concorda ou não é uma outra questão, mas a hipocrisia vem por meio da perseguição do ecchi presente nos animes, mangás e jogos japonêses.

E eu não preciso explicar a grande diferença que plataformas que estimulam a prostituição tem de meras cenas de praia como tem Tomo-Chan, ou preciso? Pois sempre que aparece alguma notícia de que um episódio ou cena de anime foram censurados por quê meia dúzia de gatos pingados acharam “ofensivo”, e ao ver a cena em específico não ter nada absurdo, isto tudo vem à tona.

Vejo uma dissonância cognitiva muito grosseira por parte destes malucos, não somente pela censura que é algo desprezível, mas, como eles acham cenas normais, que na vida real também existem, possam ser algo tão profano quanto um ato de prostituição, prostituição essa defendida por eles nas plataformas que citei anteriormente.

Tomo-chan is a Girl
©Tomo-chan is a Girl

Mas ao analisar melhor o que está por trás de tudo isso, percebi dois detalhes fundamentais para essa esquizofrenia em relação ao ecchi, e são tanto a invasão anacrônica de grupos político-sociais no meio da mídia, que estão empurrando goela abaixo narrativas fajutas de “objetificação’’ das mulheres, ou mesmo de que estão representando de maneira irreal ao corpo das mulheres.

E sendo o primeiro fator, eu vejo como o fundamental para tanto esperneio de verdadeiros malucos por aí, fundamental pelo seguinte fator, e queria dar o exemplo vivenciado por mim, e que provavelmente vocês também viveram, a convenção social que é o período escolar, em específico o ensino médio no Brasil.

Eu vivi uma vida inteira estuando em colégios públicos verdadeiramente xexelentos, onde não somente não aprendi nada de útil para a carreira trabalhista, mas também pude vivenciar o creme de la creme da cultura brasileira, resumindo a bestialidade e profanação do ser humano, com as práticas mais chulas que possam existir.

Vi inúmeras apresentações de maneira obrigatória de funk, e se como músico eu já rejeitava veementemente esse “gênero musical”, como pessoa física passei a sentir nojo. As apresentações tinham danças altamente sugestivas de sexo, letras mais pornográficas ainda, e lembro de um grupo com a alcunha de ‘los putos’, isso num longínquo 2011, quando eu estava no 1º ano do ensino médio.

Ishuzoku Reviewers
©Ishuzoku Reviewers

E lembro em específico deste dia por notar a visível hipocrisia da tal ‘objetificação da mulher’, pois na minha frente havia uma moça que provavelmente tinha a mesma idade que a minha, no máximo uns três anos mais velha, dançado de maneira altamente sugestiva logo na minha frente, quando eu indeferi uma reprimenda sobre o ato, pois eu não estava confortável com a situação, é óbvio que a criatura partiu para cima de mim e apelou quando ficou sem argumentos, e depois voltou a se comportar da mesma forma.

Por quê do exemplo? Você me pergunta, e eis a resposta. Se vocês acham mesmo que uma mera cena envolvendo personagens fictícios realmente influenciaria um homem como eu a tratar as mulheres como objeto, bem, pensem novamente e comecem a enxergar o mundo que os rodeia, e você verá que não é assim como as coisas funcionam.

Por mais nobre que possa parecer a causa, sinto muito em ser o arauto das más notícias, mas se querem abordar o tema de objetificação e envolver com isto as obras japonesas, as próprias pessoas que “lutam” nesta causa são totalmente a favor de sites como Onlyfans da vida. Das duas, uma. Ou você é contra a sexualização de fato, ou você apoia plataformas que em troca de dinheiro, expõe um conteúdo sexual explícito, que pelo menos em minha terra chamamos carinhosamente de PROSTITUIÇÃO.

High School DxD
©High School DxD

Vocês creem mesmo que frames de uma obra fictícia teriam a capacidade de tornar as mulheres em objeto sexual de maneira orgânica e plena? A ironia disso tudo é que essas mesmas pessoas que lutam contra isso, ignoram que todos os dias em sites por aí mulheres se vendem aos montes, eu mesmo já cansei de receber via Instagram ou Facebook, mensagens de mulheres querendo vender pacotes de fotos delas para mim, e convenhamos, umas estão precisando receber uma dose de semancol e perceber que o produto delas não é só imoral, mas é plasticamente feio.

É a cena de um maluco querendo vender um Chevette todo detonado e sem documentação por R$50.000, é tanto ridículo quanto imoral. Essa correlação entre a objetificação/sexualização das mulheres com os animes, mangás e jogos, é infantil para dizer o mínimo, chega a ofender a inteligência e intelecto de qualquer um.

E ainda há outra ironia nisso, eu posso elencar a penca de obras do Ocidente, que vão desde American Pie a Premonição, onde cenas de nudez parcial ou completa aparecem de fato desnecessariamente para o espectador.

Sono Bisque Doll wa Koi wo Suru
©Sono Bisque Doll wa Koi wo Suru

E ainda mais novas, já que podem usar o argumento que não há mais isto em obras mais recentes por uma “evolução” de Hollywood, The Last of Us 2, um jogo lançado pela Naughty dog e exclusivo da linha Playstation, com direção do Neil Druckmann, apresenta uma cena grotesca de sexo entre dois personagens do jogo, onde a mensagem que o sexo representa, da união máxima entre duas pessoas, mais parece uma cena de abuso do que qualquer coisa.

Fora que o grafismo da cena é tosco, visto que a personagem envolvida na cena é um Frankstein, pois a cabeça dela veio de uma atriz, o corpo de uma lutadora de MMA e a interpretação vocal de outra atriz, e o homem na cena mais parece abusar do que sentir ou dar prazer, é tosco para quem jogou o primeiro jogo da saga e ver que todo o enredo no segundo, como disse o Amer, que apareceu aqui no Backstage United, “mais parece uma tara do Neil Druckmann”.

E pensar que quando a coisa é explicita em animes convencionais, no máximo que se vê são um par ou dois de oppais, e isso é capaz de dar ignição em algumas redações de portais midiáticos por aí. E nem preciso falar que as redes sociais, acessíveis a todos com Internet, se tornaram um entulho de sexualização plena, não são poucas as recomendações que eu e outras pessoas recebemos de algum conteúdo sexual, às vezes explicito.

Uzaki-chan wa Asobitai!
©Uzaki-chan wa Asobitai!

Há algo a ser dito, essa verdadeira canalhice desses malucos que inundaram redações e produtoras inteiras é confuso e de propósito, pois de um lado pregam uma falsa liberdade sexual, principalmente visando as mulheres, mas quando outros fazem de forma diferente, paus e pedras e muita gritaria.

Pois há nisto tudo um outro detalhe por trás, o tanto que a estética japonesa tem sido superior, tanto quanto para objetos, quanto para personagens, e não há quem possa falar o contrário. Hoje o Tite Kubo é conhecido por desenhar as melhores personagens femininas, coisa que a DC estava fazendo com a Liga da Justiça no começo dos anos 2000, e desde então, a coisa degringolou.

Pega por exemplo os personagens de jogos e cartoons de 2000 para cá, que os americanos e europeus desenvolveram, tanto homens quanto mulheres, como a Lara Croft que foi um sex simbol por mais de duas décadas, e veja a representação mais recente numa animação, e todo o corpo perdeu a beleza das curvas atraentes da icônica personagem dos jogos.

Tomb Raider
©Tomb Raider

E não se engane, não é uma questão moral que estamos vendo, se tem algo que aprendi nestes anos na vida musical, é que muito da moralidade é jogada para debaixo do ônibus por conta do ego. Veja recentemente o que a aventura da DC feita por japoneses no Suicide Squad Isekai causou em termos gráficos, e o quanto a Arlequina foi elogiada em seus traços e personalidade, em comparação com o que a mesma DC nos EUA estava fazendo.

Fora a militância nojenta e hipócrita criada entorno disso, que vilipendiou a imagem da mulher, com traços que não representam a verdadeira mulher no mundo real, que aliás, é o que argumentam ao mencionar os designs das personagens japonesas, quando que o real tópico aqui é o ego inflado dos autores ocidentais.

A beleza dos traços japoneses atraiu um público que estava carente de boas figuras, tanto masculinas, quanto femininas. Tente achar uma figura masculina tão imponente no Ocidente quanto a de Kenpachi Zaraki, ou mesmo uma formosura pura como a Marin Kitagawa, e falhe miseravelmente.

Suicide Squad Isekai
©Suicide Squad Isekai

Não é que vez ou outra você questione certas cenas de ecchi, por exemplo no absurdamente controverso Kodomo no Jikan, de autoria feminina para surpresa de muitos, você vê cenas muito questionáveis envolvendo garotas com 12 anos de idade perto de um professor maior de idade. Mas encher o saco com o design voluptuoso da Hana Uzaki, inclusive tentando argumentar que seu corpo lembra o de uma criança?

É forçar uma barra que nem um louco ousaria, até por quê, tanto o corpo dela, quanto o corpo do Shinishi Sakurai, são usados em várias cenas no desenvolvimento do casal, com vários diálogos e situações entre os dois, e quando você entende que é uma comédia romântica, não há o que achar de absurdo.

Ou mesmo as cenas da Tamaki e seu “imã de luxúria” em Fire Force, que é parte do humor usado na obra, ou mesmo em Interview With Monster Girls, onde a súcubos Sakie Satou luta para que seu poder de sedução não seja um empecilho ao se relacionar com os homens, e nem me faça falar de JoJo, exibir peitorais sarados de seus personagens é uma marca da obra.

Interview With Monster Girls
©Interview With Monster Girls

E a Ilulu, que não consegue fazer sua alteração corpórea corretamente, e tem oppais extremamente desproporcionais, e mãos sem dedos? É parte do humor da personagem que compõe Kobayashi-san. Fora que o ecchi é utilizado não somente como alívio cômico, mas como uma composição inteira de dinâmicas e diálogos entre os personagens, além de mostrar a beleza dos personagens.

Toco no exemplo de Marin Kitagawa, que é uma adolescente muito bela, e encontra um tímido e levemente tapado Wakana Gojo para fazer seus cosplays, e logo no segundo episódio, a adolescente quase leva o garoto a uma sincope ao tirar suas medidas corporais, e com isto, mostra a intimidade entre os dois e seu desenvolvimento nas cenas.

É o que cativou o público que quer ver situações assim, que estavam em falta por aqui, parte da infantilização do conteúdo ocidental se deve também por deixar de lado tópicos mais maduros e sensíveis de fato.

Kobayashi-san
©Kobayashi-san

Não é como em O Incrível Circo Digital, onde não há a necessidade de vermos cenas mais sensuais ou plenamente eróticas, pois são personagens que não necessitam do sex appeal, já que o foco foi no terror e humor sarcástico entre os personagens, mas estes verdadeiros imbecis não são capazes de enxergar isto.

O ecchi traz a beleza que é necessária ao público, e cria dinâmicas inteiras que compõe a obra, ele não objetifica ou menospreza o valor da pessoa, pelo contrário, valoriza a persona. Veja que a Rangiku em Bleach é comumente usada em cenas ecchi, mas o quanto que essa mulher não se deixa ser usada e mostra sua ousadia como parte de si, e não como desespero ou algo do tipo.

O mundo está ficando insano e desconexo da realidade por tabela, e não, não é uma cena de uma obra fictícia que causa algum desprezo a mulheres ou homens, até por que na minha humilde opinião, quando se trata disso, as pessoas já têm feito este desserviço há bastante tempo, e não por conta de personagens que não existam na vida real.

Bleach
©Bleach

Como dizem por aí, se não tiver ecchi eu nem assisto. Ok, não é sempre o caso, mas é um detalhe que é utilizado por autores japoneses de maneira livre, e quando a censura bate na porta de muitos animes e jogos, há o indicador claro de que a liberdade autoral está escancarada para todos, e submeter à censura mostra um sinal de fraqueza tremenda.

Argumentos de “corpos desproporcionais” não colam, já que o fictício não precisa ser moldado pela realidade, e que também na maioria das vezes, venhamos e convenhamos, o que há de inveja não está escrito.

O ecchi é um bom mecanismo e deve ser usado da maneira correta, às vezes funciona, às vezes não, mas considerar isto como algo danoso, é mostrar um mau-caratismo tremendo. A objetificação ocorre já na prostituição, e que na sua vasta maioria, é feita por mulheres, LOGO, querer utilizar o ecchi como danoso à mulher, sendo que as que mais comentem isso são mulheres, é mostrar a real natureza por trás do repúdio a esse gênero, que é a hipocrisia por parte de pessoas, e que sejamos honestos, não tem mais o que fazer da vida a não ser reclamar de inutilidades e sem qualquer argumento congruente. O bom ecchi é sinal de bom humor, apreço pela beleza, e principalmente, da liberdade autoral!


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2 thoughts on “O Ecchi Por que atacam tanto o ecchi?

  1. Ótimo texto! Ajuda bastante a refletir sobre isso. Aliás, nos últimos tempos, especialmente no X e no YouTube, começou uma onda de diminuição e repúdio a animes que fazem piadas e provocações com incesto.
    Essa tendência é bastante estranha; não me lembro de ter visto, nos últimos anos, esse falso puritanismo a respeito de algo que, de fato, é uma piada clichê (que raramente se concretiza, e, quando sim, é apenas entre irmãos não biológicos) e provocativa.

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