Baseado no mangá de mesmo nome, o filme Kimi no Suizou wo Tabetai (I Want to Eat Your Pancreas) é um drama de 2018 do Studio VOLN que possui quase 2 horas e trata sobre o dilema da morte e o sentido da vida, onde ambos os protagonistas compartilham experiências transformadoras e se relacionam de uma maneira tão profunda que vai além do amor e amizade.
Sinopse:
A história começa quando o protagonista, um garoto do ensino médio, encontra um pequeno livro, um livro de bolso chamado “Disease Coexistence Journal” (Jornal da coexistência da doença). O livro de bolso pertencia à Sakura Yamauchi, uma colega de classe, que o escreveu em segredo sobre sua doença pancreática, lá contava detalhes sobre seus dias. Ao passar do tempo o protagonista sente-se atraído por Sakura, porém logo depois conhece uma outra garota que tem uma doença parecida com a dona do livro.
Para esclarecer um pouco, o filme já começa revelando o plot principal e, sem cerimônias, deixando bem claro que não tem a mínima intenção de ser uma história feliz. Seguindo essa linha de “começar pelo fim”, Kimi no Suizou wo Tabetai (I Want to Eat Your Pancreas) traz um desenvolvimento profundo e reflexivo sobre a morte e o significado de viver de verdade.
Acima de tudo, a obra fala de Sakura Yamauchi e Haruki Shiga, dois jovens que se conhecem por acaso em um hospital e percebem algo em comum em questões de saúde, mas acima de tudo, Sakura enxerga em Haruki uma normalidade e uma realidade que ela precisa acima de tudo naquele momento, apenas para buscar fugir de sua solidão e do clima de morte que paira sobre ela.
Sakura é uma jovem extremamente alegre e extrovertida que não trata sua doença como um fardo ou se deixa abater pelo futuro certo que a espera, algo totalmente oposto de Haruki, um rapaz quieto e que tenta não pensar muito nos dilemas da vida. Esses extremos acabam se juntando graças ao acaso e à persistência de Sakura em tentar estabelecer uma relação e uma ligação com aquele garoto tão sério e solitário, mas que consegue entende-la e fazer companhia frente ao que ela está passando.
A morte ali é certa, Sakura sabe disso, seus pais sabem disso e agora Haruki sabe disso, mas uma das partes mais problemáticas da vida dela é o fato dela esconder sua doença de todo o resto à sua volta, com o objetivo de não ser vista com pena por ninguém e não ser rodeada por um clima pesado e fúnebre. Ela queria que seus amigos e colegas agissem normalmente com ela, para que pudesse aproveitar seus momentos de maneira verdadeira, porém nada disso seria possível se a enxergassem com pena e tristeza.
Assim, uma amizade, antes improvável, vai crescendo e se fortalecendo por conta de um triste fato que é a morte. Tudo o que vemos se desenrolar é muito bonito e profundo, além do fato desse longa saber trabalhar brilhantemente a metáfora deixada nos primeiros minutos durante todo o decorrer da história e conseguindo amarrar seu significado também no final. Aqui acompanhamos uma história que, apesar de alguns pontos clichês, consegue se manter surpreendente e envolvente.
O que notamos é que, aos poucos, vamos percebendo como Sakura tenta levar com naturalidade sua vida e suas condições, vivendo cada instante e se abrindo para todas as experiências que surgem. O que se reflete é sobre a capacidade que uma pessoa pode ter de mudar a vida de outra para o bem, onde Sakura traz um furacão de sentimentos e transformações profundas na solidão e exclusão de Haruki que não via muito sentido na vida. Ela surge para mostrar que a vida é muito maior e muito mais intensa, que devemos aproveitar tudo verdadeiramente da melhor maneira possível, apesar de todos os fatos inevitáveis.
Além da certeza da morte, outro fato absoluto em Kimi no Suizou wo Tabetai é a impossibilidade de não se emocionar. O drama que envolve aqueles dois jovens nos ensina muito mais sobre viver de verdade do que a aceitação da morte. Somos ali envolvidos por toda a história de Sakura se aproximando se apoiando na normalidade de Haruki, onde um enredo que não tem nenhum romance traz ainda a mesma magnitude do que se tivesse.
A trilha sonora também não ajuda muito e é cuidadosamente selecionada e colocada em momentos estratégicos para nos prender emocionalmente ao que a história se propõe. Para além disso, por mais que saibamos o que nos espera e fiquemos na expectativa do final fatídico, nada nos prepara para o que realmente acontece e não conseguimos nos desvencilhar do forte apego aos protagonistas, assim é quase impossível segurar aquele nó na garganta com todo aquele desfecho. O destino de Sakura e o final do filme são absolutos, mas ainda somos pegos desprevenidos e nos emocionamos com cada parte da vida deles.
No final, não importa se, como e porque ela morreu, mas sim como ela viveu. Toda a mensagem do filme é justamente sobre a vida e não a morte, por isso temos aquele plot twist tão chocante perto do final. Assim como com Haruki, estávamos esperando um único destino e fomos totalmente pegos de surpresa com o que realmente aconteceu. Um fato interessante é que só descobrimos o nome do garoto nos instantes finais do filme e isso é colocado estrategicamente pelo autor que queria retratar a história dos dois jovens como algo além do acaso e que chegou a tudo que vimos por conta das próprias escolhas de cada um. Extremos opostos que estavam destinados a se encontrarem e se transformarem.
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