Certo dia, o protagonista da nossa história se vê numa situação de vida ou morte, envolvendo outra pessoa e decide agir, num instinto heróico ou mesmo humanista, ele se atira contra o perigo para salvar a vida de um inocente.
O incidente acaba sendo fatal, mas sua vida ainda não terminou, pois, sua alma é reencarnada noutro universo fantástico, que mais lembra o cenário de um jogo, onde a magia, artefatos encantados e criaturas místicas são uma realidade.
Com as memórias de sua vida passada e uma habilidade mágica absurdamente acima da média, nosso protagonista rapidamente se destaca dos demais indivíduos desse universo, isso o faz conhecer outros personagens interessantes e viver aventuras extraordinárias.
Ficou em dúvida sobre qual anime é esse?
Contextualizando
É notável o aumento de animes, mangás e especialmente light novels com a palavra Isekai, esse termo é usado para referir-se a mundos alternativos, ou realidades paralelas (異世界), formado pela junção de dois kanjis: 異 (i) que também pode ser traduzido como “diferente”, “estranho” e 世界 (sekai) “mundo”, formando em uma tradução livre “outro mundo”.
A ideia de universos ou realidades paralelas não é novidade, desde os primórdios da sociedade, se tinha a ideia de um mundo paralelo ao nosso, nas acepções religiosas os termos mais comuns para referenciar essa ideia são: Paraíso, Plano Espiritual, Éden, Nirvana ou Valhala.
Com obras literárias fantásticas tornando-se cada vez mais populares e acessíveis, como As Aventuras de Alice no País das Maravilhas (1865), Vinte Mil Léguas Submarinas (1870) e O Pequeno Príncipe (1943) são os responsáveis por popularizarem a viagem por mundos alternativos à nossa realidade, tornando o tema cada vez mais recorrente do imaginário fantástico das obras produzidas tanto para a literatura japonesa quanto internacionalmente.
Surgindo assim animações e adaptações como Os Doze Reinos, El-Hazard e Guerreiras Mágicas de Rayearth, que graças ao sucesso, receberam séries animadas nas TVs brasileiras entre as décadas de 1990/2000, e popularizaram a proposta de aventuras em outros mundos. Em outras obras mais referenciadas que popularizaram o tema, como Digimon (1997), um dos animes pioneiros a trazer aspectos digitais, além de Caverna do Dragão (1983), trazendo aspectos de trabalho em equipe e sobrevivência em cenários hostis, inspirados no jogo de tabuleiro homônimo, Dungeons & Dragons, e A Viagem de Chihiro (2003).
O Mercado de Isekais está saturado?
O mercado japonês tem uma grande quota de obras com tema Isekai que são lançadas a cada nova temporada, onde o enredo principal se desenvolve a partir da premissa de que o(s) personagem(ns) são transportado(s), presos, invocados, ou reencarnado(s) -não necessariamente em outro ser humanoide-, em um mundo diferente da “realidade” como a conhecemos, geralmente com as regras desse novo mundo sendo definidas com base nos vídeo games, como sistema de hierarquia social baseado em níveis, pontos de experiência e perícias mágicas.
Mas foi em 2012 que houve o verdadeiro hype das obras Isekai, isto porque na temporada de verão desse ano foi lançada a primeira adaptação para anime de Sword Art Online, pontuação de 7.55 no My Anime List e #3 em popularidade, tornou-se um das referências mais aclamadas do gênero e sucesso financeiro de vendas, produzido nos estúdios da A-1 Pictures pelas produtoras Aniplex, Genco, DAX Production, ASCII Media Works e Bandai Namco Games.
Com as editoras e produtoras vendo o potencial desse gênero, começaram a coletar histórias de sites, mangás e light novels, para as produzir oficialmente, fazendo algumas correções, adaptações ou até mesmo adicionando novos conteúdos ou dando um rumo diferente do material original, sendo esse um grande contraponto favorável para os fãs que consumiram o material original.
Acredito que o grande problema da utilização em larga escala desse gênero não chega a ser os clichês recorrentes, como abordado antes do tópico da contextualização, mas consiste na repetição, dada a frequência em que aparecem, tornando muitos enredos previsíveis para os espectadores.
O maior obstáculo das produtoras, tem sido ultrapassar os clichês de uma forma alternativa para impressionar você, que acredito, assim como eu, não assiste animes só por uma boa animação, mas também porque a história, ainda que utilizando o pano de fundo do Isekai, traz elementos novos ou sabem utilizar de forma inteligente os clichês. Afinal de contas, se esse gênero não fizesse tanto sucesso os estúdios parariam de produzí-los. A boa execução de uma premissa recorrente chama a atenção em qualquer cenário.
A enquete da Akiba Souken
Para ilustrar esse ponto de vista, vou me utilizar da enquete do site japonês Akiba Souken, que recentemente lançou e abordou o tema com a pergunta: “Qual seu anime de Isekai favorito?”. A enquete esteve disponível entre os dias 1º e 17 de sbril e teve um total de 9.342 votos, abaixo você confere o rank dos 6 mais votados:
1º – Kono Subarashii Sekai ni Shukufuku wo!
Aposta na comédia para chamar a atenção para os clichês das histórias desse gênero e às vezes quebra a barreira da quarta parede.
2º – Tensei shitara Slime Datta Ken
O protagonista usa de uma forma muito direta sua habilidade especial e não tenta entender o porquê de estar naquele mundo, mas aprende a usar seu corpo de slime e adapta sua habilidade para as mais diversas situações.
3º – Re:Zero kara Hajimeru Isekai Seikatsu
Embora o protagonista não tenha habilidades especiais, além de voltar no tempo quando morre, ele aprende a lidar com as regras sociais, políticas do seu mundo para resolver os problemas de seus amigos e salvar a garota por quem é apaixonado. Além de ser muito sincero. O eixo dessa obra é a resiliência do protagonista para superar as dificuldades e conseguir prosseguir na história.
4º – Isekai wa Smartphone to Tomo ni
Ao invés de ganhar uma habilidade, o personagem principal usa um Smartphone, que nunca acaba a bateria (diga-se de passagem), e aprende a usar os conhecimentos da sua antiga realidade para melhorar e ampliar o leque de magias possíveis no seu novo mundo.
5º – Tate no Yuusha no Nariagari
O personagem principal é invocado em outro mundo, mas além de ter de lidar com monstros e bestas místicas e seu, inicialmente aparente não útil escudo mágico, tem de lidar com a desaprovação social por conta de uma falsa trama armada para desonrar sua reputação. O enfoque dessa obra é sobre a superação do personagem e amizades que ele vai cultivando ao longo de sua jornada para limpar seu nome e salvar o reino e o mundo.
6º – No Game No Life
Os dois protagonistas, que também são irmãos de criação, são transportados para outro mundo em que tudo é determinado por apostas de jogos, as regras e condições da realidade estabelecidas pelos jogos são absolutas. O quê não é problema para Sora e Shiro, que estão entre os mais inteligentes personagens das histórias dos animes. O estilo da animação e o estudo de cores desse anime chama muita atenção também.
E esse é o meu anime favorito, inclusive.
Tipos de Isekais
Reencarnação:
Quando o protagonista falece ou é morto por algo/alguém/alguma coisa, mas acaba voltando a vida em outro corpo e em outro mundo. Normalmente encontramos aqui protagonistas que tinham uma péssima vida e acabam sendo recompensados com uma segunda chance após morrerem, reencarnando em um novo corpo, humano ou não, inclusive podendo reviver como um objeto.
Invocação:
Aqui o protagonista é invocado por pessoas ou entidades para completarem algum objetivo ou missão, por meio de círculos mágicos ou algum outro método que faça a pessoa ser transportada. É comum o protagonista ser invocado como herói para salvar o mundo de algum mal iminente, existindo algumas variações de como um a criação e um portal entre os mundos.
Transferência:
Quando o protagonista não é reencarnado ou invocado por alguém (ou não se tem informações específicas sobre como ele veio parar nesse outro mundo), a obra pode ser classificada como transferência. Podendo haver dele ter sido consumido ou ter atravessado uma porta misteriosa/portal. Nesse tipo de história, é comum que o protagonista mantenha o mesmo corpo que ele tinha no outro mundo, e ás vezes, podendo também voltar para o seu mundo de origem quando bem quiser.
Considerações finais
O potencial da premissa Isekai deve ser utilizado como pano de fundo para contar uma história divertida, emocionante ou fantástica, não pode ser usado para tentar emplacar clichês que estão se tornando cada vez mais recorrentes. Acredito que a fórmula de sucesso para impressionar, cativar, criar engajamento e empatia pela história ou pelos personagens dos Isekais é trazer elementos novos e utilizar de forma criativa os clichês desse gênero.
A boa execução de uma premissa, por mais que seja recorrente, chama a atenção quando é feita com inventividade e de forma direcionada, não adianta querer fazer sucesso às custas do sucesso de outros animes que viraram hypes.
Ser transportado junto com o personagem principal da história para outro mundo é a forma mais fácil de gerar estranhamento e chamar atenção, em qualquer aventura, mas, a forma como se misturam os temperos é que fazem um prato sair do bom para o excepcional.
Brilhante matéria! eu estava justamente outro dia, conversando sobre o tema. E falei pra ele que o primeiro isekai em animação foi Alice no País das maravilhas da Disney. O mágico de Oz também é um exemplo, mas, virou filme muito antes de desenho.aa viagens de gulliver de Swift são também um bom exemplo . Caverna do dragão realmente foi o primeiro a apresentar elementos de Rpg. Mas com elementos de R R Tolkien.
Voltando aos animes lembrei de Monster Rancher, dos anos 90.
Pra um isekai fazer sucesso, pois, é um gênero batido igual ao de garotas mágicas, deve-se fugir dos cliches inovar e ser produzido por um bom estúdio e bom diretor. Overlord saiu dos cliches( adoro o anime e odeio o Ains) . Mas meus favoritos são arifureta e konosuba.
Obrigado pelo comentário Magno,
Gostei do seu gosto!
Bom artigo.
Obrigado!
alguem gosta de isekai no wa smartphone nao ironicamente?