Hoshi wo Ou Kodomo – Viagem Para Agartha Uma viagem para aprender a dizer adeus

Bolinhodearroz
Hoshi wo Ou Kodomo
©CoMix Wave Films / Hoshi wo Ou Kodomo

Vamos falar hoje sobre um filme que nos ensina muito sobre o luto e como enxergar a vida como um ciclo, aproveitando todos os momentos sem ficar preso à perda.

Hoshi wo Ou Kodomo (Children Who Chase Lost Voices ou Viagem Para Agartha) é um longa-metragem disponível em algumas plataformas de streaming que foi lançado em 2011 pela CoMix Wave Films (Your Name, O tempo com você, 5 Centimeters per Second, Suzume, etc.) e dirigido pela lenda Makoto Shinkai.

Hoshi wo Ou Kodomo
©CoMix Wave Films / Hoshi wo Ou Kodomo

Sinopse:

Asuna faz uma perigosa viagem até a terra dos mortos, em busca de seu pai e do misterioso garoto que salvou sua vida do ataque de uma criatura maligna. Lá ela aprenderá a respeitar as regras que existem entre o mundo dos vivos e dos mortos.

Quando assistimos Hoshi wo Ou Kodomo, é possível refletir que a simbologia do filme é, basicamente, como tentamos nos refugiar em outros mundos para buscar uma solução para nosso luto e como enquanto mais submergimos nessa jornada, mais cegos podemos ficar para a vida ao nosso redor. Como se a solução fosse sempre essa obsessão que nos leva para um caminho de sacrifícios e assim nos perdemos de nós mesmos. É muito difícil associar a perda com a realidade e por isso necessitamos recorrer a tudo o que achamos ser necessário para tentar reaver o que perdemos.

Tudo começa com Asuna tentando escutar qualquer sinal de forma de vida além do universo, até que ela ouve algo que a comove e, após esse dia, surge Shun. Ele é um garoto muito diferente que luta contra uma criatura e salva Asuna de ser atacada, mas, além disso, ele é um ser gentil e apaixonante que se revela sendo de um mundo das profundezas chamado Agartha.

Hoshi wo Ou Kodomo
©CoMix Wave Films / Hoshi wo Ou Kodomo

Logo após esse encontro, somos alvos de uma decisão cruel de roteiro que vai tornar todo o filme muito mais profundo do que já demonstrava ser. A primeira meia hora já despedaça seu coração, não prometendo deixar nada restando para o que virá a seguir. E assim seguimos com Asuna encontrando alguém (o professor Ryuuji Morisaki) que também partilha de uma perda significativa e deseja mais do que tudo ter de volta a pessoa amada.

Asuna, nossa protagonista, é uma garota muito solitária e que, praticamente, precisa se virar sozinha no seu cotidiano por ter perdido seu pai bem nova e sua mãe ser uma enfermeira que trabalha muito. Assim, para se manter entretida, ela vive em seu local secreto escutando um rádio cujas frequências vêm de um pequeno cristal dado por seu pai. E é graças a esse cristal que toda a aventura de Asuna se inicia, proporcionando diversos mistérios e incríveis descobertas que farão ela olhar a vida de outra forma.

Hoshi wo Ou Kodomo
©CoMix Wave Films / Hoshi wo Ou Kodomo

Enquanto vemos toda a aventura de Asuna e seus companheiros, ao mesmo tempo somos privilegiados com uma entrega de diversos cenários extraordinariamente detalhados, lindos e bem feitos. Até mesmo antes da jornada, toda a produção deste longa-metragem faz questão de trazer muita beleza, um folclore diverso e recursos visuais impressionantes de background, tornando nossa experiência extraordinária em vários sentidos.

Makoto Shinkai nos presenteia com uma aventura visual deslumbrante, onde cada cenário se transforma em um portal para um mundo de fantasia e encantamento. A arquitetura grandiosa, banhada por uma luz dourada etérea, cria uma atmosfera de admiração e respeito. As cavernas cintilantes e os rios de água cristalina (a vita acqua) reforçam a sensação de um mundo mágico e inexplorado.

Hoshi wo Ou Kodomo
©CoMix Wave Films / Hoshi wo Ou Kodomo

Os campos frondosos e antigos, habitados por criaturas fantásticas e guardiões místicos, exala um ar de mistério e perigo. Assim, Shinkai utiliza recursos visuais excepcionais para dar vida aos cenários, onde a animação fluida e os detalhes meticulosos transportam o espectador para dentro da história, criando uma experiência imersiva e memorável com toda essa atmosfera mágica e encantadora do filme.

E além de toda essa riqueza visual, temos também uma trilha sonora excelente de Tenmon (5 Centimeters per Second) e que combina de forma perfeita com o universo de fantasia, somando-se ao cenário e que, juntos, transmitem emoções, criam suspense e encantam o público com essa experiência inesquecível, típica de outros filmes já feitos por Shinkai e a CoMix Wave Films, uma parceria de respeito.

Hoshi wo Ou Kodomo
©CoMix Wave Films / Hoshi wo Ou Kodomo

Mas quando retomamos, mais uma vez, sobre o conceito principal do filme entendemos a sua mensagem principal sobre o ciclo da vida e como o luto pode ser perigoso se não focarmos em seguir adiante. Enquanto sabemos que o professor Morisaki está em uma busca obsessiva pela ressurreição de sua mulher, por outro lado Asuna é uma personagem cuja motivação de viagem pode não estar clara, mas conseguimos perceber, através de alguns detalhes, que seu maior desejo é poder rever o Shun, na esperança de que ele esteja em algum lugar por lá.

Mas a viagem, apesar de linda e de tirar o fôlego, também possui seus perigos e descobrimos que o povo de Agartha não aceita que ninguém do mundo de fora invada seu tão amado espaço. Podemos entender que em parte eles estão certos por querer manter preservada sua cultura e sua natureza de um povo que é conhecido por destruir tudo o que toca, mas também existe neles um certo preconceito com estrangeiros de qualquer espécie e que é transfigurado (metafórica e literalmente) na forma de criaturas chamadas Izokus que odeiam o sol, a água e os forasteiros, caçando-os e comendo-os.

Hoshi wo Ou Kodomo
©CoMix Wave Films / Hoshi wo Ou Kodomo

E é disso que Hoshi o Ou Kodomo é feito: de metáforas. Sua trama criativa explora elementos fantásticos com o ciclo da vida, onde os habitantes desse mundo maravilhoso acreditam que cada ser vivo serve para um propósito maior e com sua própria função em cada momento de sua evolução. Assim, quando essa função se encerra, eles transcendem para fazer parte de outro ser ainda mais importante, como conseguimos notar em outra cena emocionante que não trarei aqui para não dar nenhum spoiler. E, para além desse propósito, outro princípio do fim da vida dos seres mágicos daquele lugar é como eles emitem uma linda canção quando estão próximos de encerrar seu ciclo e foi esse elemento notável que conectou todo o início da jornada de Asuna.

Enfim, para resumir, existe um contraste subentendido em toda a trama de Hoshi wo Ou Kodomo sobre como cada um lida com sua perda de uma maneira diferente, assim os intrusos que estão obcecados por promessas de ressurreição e não aceitam/compreendem o fim da vida, vagueiam pelo mundo maravilhoso de um povo que entende que não existe um fim definitivo e todos os seres estão incluídos no desígnio de participar do ciclo da vida de todo o mundo de Agartha.

Hoshi wo Ou Kodomo
©CoMix Wave Films / Hoshi wo Ou Kodomo

Esse, portanto, é um filme extremamente comovente e profundo que pode não parecer, a um primeiro momento, mas que se nos deixarmos levar por toda a sua trama, entraremos de cabeça nessa viagem para Agartha, assim como Asuna e seus companheiros. A soma de um enredo bem feito e simbólico, com cenários maravilhosos e uma trilha sonora delicada e intensa, faz com que a experiência multisensorial seja algo transcendental e transmita a mesma sensação emocionante que temos em todas as outras grandes obras de Makoto Shinkai.

Agora deixem abaixo suas opiniões e comentem se já viram, ou não, esse longa-metragem que, apesar de ser menos famoso do que Your Name, por exemplo, ainda é poderoso da sua própria maneira. Não se esqueçam também de compartilhar em suas redes sociais e nos ajudar ainda mais a engajar um publico maior para conhecer essas obras magnificas.


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