Quem vê essas grandes produções de Makoto Shinkai atualmente, não imaginam que ele já teve um passado obscuro como todos os produtores que precisavam lidar com a tecnologia oferecida nos anos 2000. Hoshi no Koe (Voices of a Distant Star) é um curta animado lançado em 2002 e produzido pela CoMix Wave Films, curiosamente o mesmo estúdio de todas as outras obras de Makoto e de alguns outros produtores.
Por ser, assim, uma produção dos mesmos responsáveis por grandes filmes, como Your Name e Byousoku 5 Centimeter (porém com uma staff menor), percebemos como esses nomes galgaram seus degraus no mundo do cinema japonês. Não que Hoshi no Koe seja uma péssima obra, muito pelo contrário, o que proponho a destacar é apenas em relação ao nível da animação e da produção visual que começou tão de baixo até chegar aos monstros que temos atualmente.
De qualquer maneira, ao deixarmos de lado a estética da animação de Hoshi no Koe, o que resulta ao analisarmos minuciosamente sua direção e seu roteiro é uma intensa reflexão sobre o amor que tudo espera e a esperança de um mundo melhor. Ao mesmo tempo que vemos uma protagonista lutar contra alienígenas em seu mecha, acompanhamos o duro sacrifício dela ao abandonar seu mundo e seu amado. Enquanto isso, aquele que a espera se mantém por anos na ânsia de uma mensagem, aquele tão demorado torpedo que pode chegar a qualquer momento, em meses ou anos. Ambos seguem caminhos diferentes, em galáxias diferentes e, com o passar do tempo, idades diferentes, mas aquele único contato por mensagem é a única coisa que os mantém tão ligados.
De início podemos pensar que um OVA de 24 minutos que adapta uma obra escrita não seria suficiente para trazer a profundidade exigida da história, mas só assistindo para entendermos o nível que está Makoto Shinkai e porque ele é um dos grandes nomes da indústria cinematográfica do Japão. Tudo pode até parecer acontecer rápido demais, mas quando nos envolvemos, aquilo demora uma eternidade. Somos puxados para aquele sentimento de desalento, de aflição e de saudade entre duas pessoas que sempre estiveram juntas, mas nunca traduziram em palavras ou ações seus verdadeiros sentimentos. Foi a dor da separação que os levou a cair na realidade do que sentiam e o anseio do retorno que mantinha a chama da esperança acesa, mas uma esperança de ficarem novamente juntos, não se ela conseguirá ou não salvar o universo. Para eles, pouco importa o ataque, pois o que eles mais desejam é voltar ao que sempre tiveram.
Assim, mais uma vez, temos uma obra de Makoto que busca retratar as pessoas e seu sofrimento diante de obstáculos e desafios da vida. Não obstante, um tema ainda mais abordado é a distância ou o fatídico distanciamento físico e/ou emocional de seus personagens, seja pelo tempo ou pelo espaço, algo que foi ainda mais levado à sério em Hoshi no Koe.
Por ser um curta de animação, presenciamos a vida de Mikako e Noboru na terra de maneira muito breve (e põe muito nisso), deixando para focar mais na separação e nas dores da distância.
É aquela velha história de só darmos valor ao que perdemos, já que eles sempre nutriam um sentimento romântico pelo outro e nunca tiveram a chance de revelar, até que a distância surgiu e eles se viram sem essa oportunidade.
Não temos ali nenhum desenvolvimento pessoal, não acompanhamos quase nada da vida dos protagonistas, mas a história te prende e te emociona da mesma maneira. É durante seus 24 minutos que descobrimos os sentimentos dos dois, qual a ameaça que ela combate e porque Mikako foi escolhida, ainda sobrando tempo para tratar a saudade e o amor dos dois.
Acima de tudo, podemos refletir também que parte de todo o drama, fora a distância de quem ama, é aquele sentimento de ficar para trás e ser deixado de lado, de alguma maneira. No caso de Mikako, ela sente isso perante a idade de ambos que vai se diferenciando e aumentando o intervalo à medida que ela avança mais pelas galáxias, mas já com Noboru, essa sensação está na parte mais óbvia que é Mikako ter ido para o espaço e ele ter que viver sua vida na terra sozinho, de coração fechado, esperando suas mensagens que podem chegar a qualquer momento do ano, ou não, já que ele nunca poderá saber se ela ainda lembra dele.
Essa ausência de uma conexão, normalmente, pode prejudicar os pensamentos e sentimentos de pessoas que se vêem distantes, mas o que notamos na história é que eles continuam perseverantes que um dia estarão juntos e, apesar dos medos, não se deixam abalar.
Ela teme ser esquecida e ele teme que ela desapareça para sempre, mas o pouco que vemos mostra que eles ainda permanecerão com a vontade de se reencontrarem.
Portanto, Hoshi no Koe (Voices of a Distant Star) é uma obra típica de Makoto Shinkai e, mesmo com seus defeitos visuais para a atualidade, se mostra com o mesmo nível de dramaticidade que suas outras obras posteriores. Sentimos um amargor ali, aquela aflição da separação e o final pode gerar muito descontentamento, mas existe também uma adaptação para mangá desse curta que leva as coisas por um caminho diferente e traz um pouco de felicidade para quem torce pelo casal.
Por fim, deixo aqui essa análise de uma obra esquecida do Makoto, em homenagem ao seu novo sucesso (Suzume no Tojimari), para conseguirmos entender que apesar dos recursos tecnológicos, seu talento em dirigir e produzir ainda será enorme. Tudo o que ele faz é uma grande obra e o sucesso não é nada mais do que uma consequência de seu talento. E, inclusive, temos outros artigos sobre alguns de seus filmes aqui, aqui, e aqui, por isso não deixem de conferir.
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