Nada é melhor do que aquele cheiro de história promissora pairando no ar. Dessa forma, logo que vi o anúncio de Gachiakuta para anime em 2025, corri para saber qual era a desse mangá e não sai menos do que totalmente satisfeita.
Gachiakuta é o mangá de Kei Urana, lançado em 2022 e em publicação até hoje pela Weekly Shounen Magazine, mas o que deixa a história ainda mais interessante é o fato de sua autora ser uma antiga assistente do grande Atsushi Ohkubo (Soul Eater e Fire Force), o que fica bem evidente quando lemos e notamos os traços marcantes dessas duas obras em Gachiakuta.
Sinopse:
O jovem Rudo habita em um gueto de descendentes de criminosos e vive recolhendo lixo e sendo discriminado, até que certo dia, ele é acusado injustamente de um crime que não cometeu e como punição é enviado a um local em que todos temem! Lá, o rapaz conhece Enjin e acaba tendo um vislumbre de toda a verdade sobre o mundo e também começa a manifestar a sua habilidade: Dar vida às coisas! Assim, começa a jornada de Rudo e seu objetivo de mudar por completo o mundo de merda em que vive!!
Se existem palavras exatas para descrever Gachiakuta, elas seriam: incrível construção de mundo, personagens adoráveis e potencial insano. Logo quando batemos o olho na história, percebemos o quão promissora ela pode ser e quando seu anime lançar pode ser um poderoso hype de 2025. E não é que este mangá seja único, ou realmente inovador em sua história, mas a questão é que ele não precisa ser. Dependendo de como for executado e desenvolvido à medida que progride, pode ser bem genérico, mas ainda assim surpreendentemente bom.
Um dos maiores pontos fortes de Gachiakuta é a caracterização de seus personagens, iniciando pelo seu protagonista que sofre o pão que o diabo amassou, apenas para descobrir que existem pessoas que sofrem ainda mais que ele e, ainda assim, seu ódio gera um grande combustível para seus poderes. Rudo é um daqueles típicos protagonistas anti-herói de shounens que vêm de um passado difícil, sofrendo discriminações pela sociedade, mas que têm grandes reviravoltas nas suas histórias e torna-se cativante pela sua vontade de sobreviver e nas suas jornadas de autodescoberta.
E não só o Rudo, mas os outros personagens que ele encontra no Abismo possuem também suas próprias histórias trágicas, e a forma como suas histórias se entrelaçam traz profundidade ao enredo. Esses personagens têm motivações complexas e, muitas vezes, ambíguas, o que reforça o clima moralmente cinzento da série. E alguns dos personagens gerais até nos surpreendem com o quão sombrios podem ser (vale salientar aqui a garotinha do início da história que me deixou chocada, mas infelizmente ela serviu como exemplo de reflexo daquela sociedade decadente).
No geral, a história de Gachiakuta se passa em um mundo dividido entre aqueles que vivem em uma cidade elevada e próspera, chamada de “Paraíso”, e aqueles que habitam os níveis inferiores, chamados de “Abismo“. A divisão entre classes e os temas de exclusão social são centrais à narrativa de Gachiakuta. A cidade superior, limpa e organizada, contrasta com o caos e a poluição do Abismo, o que reflete simbolicamente a luta entre os que vivem em privilégios e os marginalizados. O cenário distópico, cheio de sucata, lixo e perigos, cria uma atmosfera opressiva e desesperadora, que molda tanto os personagens quanto a trama.
Gachiakuta aborda temas universais de desigualdade, marginalização e sobrevivência em um mundo que descarta aqueles considerados “inúteis“. Esses temas ressoam tanto no enredo quanto no desenvolvimento dos personagens, refletindo questões sociais contemporâneas. Assim, a sociedade elitista que vive acima do Abismo e a luta dos marginalizados ecoam discussões sobre privilégios, exploração e a forma como as classes menos favorecidas são vistas.
Algo muito importante também é o valor do lixo. No Abismo, Rudo descobre que muitos dos objetos descartados têm grande valor e até poderes únicos. Isso funciona como uma metáfora para as pessoas que são desprezadas ou subestimadas, mas que possuem um potencial oculto. E assim se desenvolvem grandes potenciais de enredo em que as mais diversas formas de reaproveitamento e valorização são exploradas. Logo, o que mais temos são pontos de reflexões profundas a cada passo dado por Rudo naquele mundo abandonado e marginalizado. São temas usualmente comuns em obras de ficção, mas aqui vem sendo trabalhado de uma forma impressionante.
Gachiakuta pode ter um pé na fantasia, mas, ao mesmo tempo, ele não tem pena de ser brutal e escandalizar com cada cena forte, seja fisicamente ou verbalmente. A história é pesada e violenta de inúmeras maneiras, começando pela realidade daquela sociedade e terminando na essência humana que busca sangue de qualquer maneira.
E tudo está embrenhado em meio à uma excelente arte visual em que Kei Urana traz uma mistura de sua própria autoria com os ensinamentos obtidos pelo seu mestre, assim desenvolvendo um fascinante estilo visual em que se mistura esse ambiente decadente com designs brilhantemente detalhados. Seus cenários são caóticos, sujos, mas ao mesmo tempo incrivelmente bem desenhados, ajudando a construir a atmosfera opressiva do Abismo.
Outro destaque está no design dos monstros e criaturas extremamente criativo e que reflete a dualidade do mundo de Gachiakuta, com formas grotescas e bizarras que representam o medo e a hostilidade do ambiente. Além disso, os personagens possuem expressões faciais poderosas, que transmitem muito das suas emoções, seja raiva, desespero ou determinação. Cada página deixa sua marca e nos traz grandes sensações a respeito daquela realidade tão contrastante.
Dessa maneira, Gachiakuta é um mangá que mescla habilmente ação, fantasia e comentários sociais em um universo sombrio e intrigante. O protagonista, simboliza a luta contra a opressão e a busca por justiça, o que torna a narrativa instigante para o público que busca mais do que batalhas típicas do gênero shounen. A arte de Kei Urana, com seus detalhes únicos e estética crua, contribui para a imersão dos leitores no mundo degradado do Abismo.
Se continuar a manter sua consistência de enredo e a exploração de temas complexos, o mangá tem o potencial de se tornar uma série influente na cena dos mangás contemporâneos e trazer à vida o hype que sentíamos esperando por capítulos de outras grandes histórias como Jujutsu Kaisen, Boku no Hero Academia, etc. Essa é uma obra que ainda pode crescer muito mais e se popularizar cada vez mais, basta que falemos muito mais sobre ela. No entanto, devo ficar receosa quanto ao reflexo da popularização do mangá com o seu desenvolvimento, haja vista que as exigências do público sempre acabam influenciando nas decisões do autor, mas deixo minhas esperanças ainda vivas para que seu fim não seja desperdiçado como outras obras que conhecemos.
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