Vamos hoje falar sobre um filme que tem muitas qualidades e plot twists sensacionais para seu estilo de narrativa. Bokura no Nanokakan Sensou é uma produção de 2019 do estúdio Ajia-Do e que vale muito à pena dar uma conferida e ver o que ele tem para oferecer.
Sinopse:
Em um dia quente, pouco antes das férias de verão, todos os alunos do primeiro ano do ensino médio de uma escola desaparecem. Foi um acidente? Um sequestro em grupo? Na verdade, eles estavam escondidos em uma fábrica abandonada perto do rio e a usavam como área de libertação para se rebelar contra os adultos. Os adultos estão em grande confusão pelas operações grandiosas e inesperadas coordenadas pelos alunos, envolvidos em casos reais de sequestro, uma eleição duvidosa de prefeito e até mesmo pais e repórteres de televisão que ficam emocionados com a frente de libertação.
Assim começamos vendo esse longa animado que só parece ser bem despreocupado, leve e divertido, mas traz uma filosofia de liberdade muito profunda. Você começa a assistir, como quem não quer nada, só para saber onde tudo irá levar, mas aí termina de boca aberta e refletindo como tudo passou despercebido aos seus olhos e não consegue acreditar como que o enredo e a estética te deram todos os sinais do que realmente estava implícito ali, mas a diversão das situações fez com que a profundidade de tudo não fosse percebida imediatamente.
Partimos, portanto, do início de forma inocente, esperando uma aventura com um grupo de crianças que só queriam fugir um pouco de suas vidas e compartilhar um acampamento de sete dias em uma mina abandonada antes da partida de uma delas, mas acabou que tudo se revelou muito mais surpreendente do que poderia ser.
Todas as reviravoltas iniciam com a descoberta de uma criança imigrante também refugiada naquele local e esse grupo, simplesmente, decide protegê-la e tentar encontrar sua família para que ela não seja arrastada pelo governo e presa. E assim temos uma enxurrada de momentos divertidos e com a “garotada” dando o seu melhor com muita inteligência para impedir todos de levarem o garoto embora ao usar e abusar de estratégias militares ensinadas por Mamoru (um grande fã de guerras). Tudo isso me lembrou aqueles filmes da Sessão da Tarde onde as crianças se juntavam e faziam várias armadilhas para “pegar os homens maus”.
Mas é claro que, como a grande maioria esmagadora dos longas animados japoneses, esse também possui boas reflexões implícitas envolvidas. Entre elas, podemos destacar o impacto do poder nas mãos de homens sem valores morais, a submissão daqueles que só querem proteger seu futuro e sua família ao aceitarem todos os caprichos e ordens desses mais poderosos, além de como todos os erros dos adultos influenciam, seriamente, na personalidade das crianças que se veem obrigadas a “amadurecerem” mais rapidamente para conseguir suportar tudo isso.
O protagonista é aquele típico garoto isolado que não é notado por ninguém, mas que guarda muita coisa dentro de si. A grande ideia de fugir por sete dias partiu dele que tinha como esperança conseguir se declarar para sua amiga de infância, Aya, que estava de partida para outra cidade contra sua vontade. Se não fosse a iniciativa desse tímido garoto, nenhuma daquelas crianças teria se aberto para seus maiores medos e anseios, nem descoberto o significado de enxergar a diferença do outro.
Quando esses jovens se aventuram no desconhecido e na convicção de um mesmo propósito, eles passam a se entender e se respeitar, mesmo sofrendo a pressão dos adultos ao seu redor. Pressão essa que se mantém completamente presente nas ações de todos aqueles homens que querem forçar sua entrada em um local de refúgio para aquele grupo.
Em toda a história vemos como essas crianças são forçadas a seguirem valores e padrões de comportamento impostos pelos adultos ao seu redor, tendo como única escolha libertária e independente a de proteger um objetivo próprio e expressar seus descontentamentos sem medo de represálias. Eles são apenas crianças, mas os adultos ao seu redor esquecem isso e os obrigam a amadurecer antes do tempo, como na cena de Aya e seu pai quando ela afirmou não querer ir embora com ele. Todos esses detalhes são constantemente reforçados nos poucos diálogos e nas ações dessas crianças durante o acampamento. Elas estão ali literalmente e figurativamente encurraladas pelas figuras adultas e, quando se libertam de seus opressores ao expor as intenções deles para todos, eles também se sentem libertos de si mesmos em alma, ocasionando um dos melhores momentos que foi as revelações finais do filme.
Ali, todos revelam estar reprimindo algo para buscar se encaixar no ambiente em que vivem e que precisavam manter essa constante imagem perfeita para que seus medos e segredos jamais fossem revelados para a sociedade, até que eles percebem que era isso o que eles precisavam para se abrirem verdadeiramente.
E o plot twist de milhões, durante as explosões de sentimentos de todos com a descoberta de seus segredos mais profundos sendo revelados para toda a Internet foi o evento mais marcante desse filme.
Bokura No Nanokakan Sensou (Nossa Guerra de 7 dias) é literalmente uma guerra que dura 7 dias, mas não apenas a guerra física entre as crianças e os homens que estão tentando invadir o local, eles também possuem seus próprios conflitos internos que chegam ao seu ápice nos últimos momentos do filme. Só pensar que é algo como “Clube dos 5” em que um grupo singular de pessoas que jamais fariam amizade ou se aproximariam em circunstâncias normais, agora sabem os sentimentos mais íntimos um do outro e partilham uma experiência única na vida que ficará para sempre nas memórias. Eles se uniram com um objetivo em comum e a partir disso entenderam que seus medos não levariam a nada.
E vocês podem até perguntar como que se chega nessas reflexões em apenas um filme sobre aventuras juvenis estilo Sessão da Tarde, mas a resposta está em cada entrelinha daquela história, motivando as ações e as personalidades daquelas crianças. Tudo que vemos é um reflexo do que as vidas desses garotos eram. Porque viver na sombra dos adultos tirou sua liberdade de escolher o que ser e como ser.
E um dos grandes pontos positivos desse filme é sua estética leve e colorida, com um bom balanço de interações e cores, deixando uma impressão juvenil e suave para aqueles momentos de liberdade, enquanto que pesa um pouco mais nos tons quando os adultos entram mais em destaque. Sua trilha sonora também é linda e gostosa de se ouvir, equilibrando-se com toda a estética delicada, divertida e profunda. Bokura No Nanokakan Sensou é um filme para qualquer idade, podendo oferecer diversão e sérias reflexões ao mesmo tempo. Sua mensagem final é que se deve aproveitar a vida e não deixar que seus medos tomem conta de você, vivendo cada fase como deve ser. Não é à toa que ele ganhou como melhor filme animado na Sitges Film Festival.
Então uma boa sugestão para momentos de leveza, sem foco em romance e com muita diversão é Bokura No Nanokakan Sensou. Para quem já viu, deixe aí nos comentários quais foram suas impressões, mas aqueles que ainda não deram uma oportunidade, eu recomendo fortemente que experimentem a sensação. Você não cansa assistindo e se surpreende com todos os detalhes ali.
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