Big Fish & Begonia – A vida é feita de jornadas Alguns peixes nunca podem ser aprisionados, porque eles pertencem ao céu.

Bolinhodearroz
Da Yu Hai Tang
©B&T / Da Yu Hai Tang

Big Fish & Begônia (Da Yu Hai Tang) é uma obra de arte sobre o amor,  generosidade, sacrifício e liberdade. Essa animação chinesa demorou cerca de 12 anos para ser produzida e finalmente foi lançada em 2016, mas podemos encontrá-la facilmente na Netflix para assistir e compreender como toda essa espera valeu totalmente à pena, nos levando a refletir a sua imensa qualidade de produção, mesmo com diretores estreantes e estúdio de animação relativamente novo.

Da Yu Hai Tang
©B&T / Da Yu Hai Tang

Sinopse:

Em um mundo dentro do nosso mundo, ainda não visto por qualquer humano,  os seres míticos que o habitam controlam  o tempo e a mudança das estações. No dia em que Chun, um desses seres, faz dezesseis anos, ela é transformada em um golfinho para explorar o mundo humano. Na volta para casa é resgatada de um vórtice por um menino humano ao custo de sua própria vida. Chun fica tão comovida com a gentileza e a coragem do menino que decide dar-lhe a vida novamente. Mas para fazer isso, ela deve proteger a alma do menino, um peixe minúsculo, e alimentá-lo para crescer. Através da aventura e sacrifício, o amor cresce, mas agora ela deve libertá-lo de volta ao mar, de volta à vida no mundo humano.

Da Yu Hai Tang
©B&T / Da Yu Hai Tang

O longa-metragem de pouco mais de uma hora, ao mesmo tempo que nos encanta com sua magnífica produção, também traz um amargor em seu final que pode dividir opiniões entre o público. No entanto, toda a nossa jornada é de profunda reflexão e admiração sobre a plena liberdade e a genuína generosidade de um ser vivo que entende a complexa e intangível relação entre a natureza e os seres humanos, algo que sentimos a todo o momento por meio dos simbolismos presentes em toda a obra. Este é um daqueles filmes que podemos considerar como obras de arte. É tão lindo em tantos aspectos que além de apreciar como entretenimento, também acabamos admirando toda sua magnitude.

A história inicia com a personagem Chun e alguns membros de sua comunidade chamada de “Os outros”, passando por um ritual tradicional onde os jovens de 16 anos enfrentam uma jornada pelo mundo humano, em forma de golfinhos, para aprender um pouco mais sobre esse outro mundo tão diferente deles.

A garota escuta todos os conselhos de seus familiares e entende que não pode entrar em contato direto com os seres humanos, mas ainda assim acontece uma fatalidade que resulta nessa aproximação e na morte prematura de um jovem.

As proibições impostas e a determinação da garota de burla-las são as maiores catástrofes que os moradores daquele mundo sofrerão, apesar de um motivo bom, ainda perturbou todo o equilíbrio.

Da Yu Hai Tang
©B&T / Da Yu Hai Tang

Basicamente este é o plot inicial e em que se baseia todo o decorrer da história, mostrando as consequências boas e ruins das ações de dois seres, mesmo sendo totalmente puras e na melhor intenção. No entanto, apesar dos contratempos, de toda a difícil jornada e por seu enredo ter algumas falhas narrativas, ainda conseguimos entender sua lição final e que essa sensação melancólica depende inteiramente do nosso ponto de vista e de como nos aprofundamos na história.

Tanto o desenvolvimento pessoal dos personagens quanto seus relacionamentos, apesar de breves, demonstram um enorme cuidado em deixar que as interações, sejam elas silenciosas ou não, digam tudo que precisam.

Até mesmo os personagens secundários possuem seus momentos fortes e um desenvolvimento pessoal e  emblemático para a jornada de Chun e Kun, embora partes desses relacionamentos acabem sendo abordados de uma maneira excessivamente rápida e confusa em determinados momentos, por fim banalizando os sentimentos de Chun com as pessoas à sua volta. 

Da Yu Hai Tang
©B&T/Da Yu Hai Tang

Vemos em grande parte o ciclo da vida de uma maneira muito simbólica e profunda (nós como parte de um todo), mostrando como as experiências e vivências tornam as pessoas mais abertas, mais conectadas com a natureza e mais contemplativas para a vida em sua mais pura essência.

O simbolismo também do equilíbrio é muito utilizado nessa animação que nos mostra como o fluxo da natureza precisa ser imutável, pois qualquer sinal de perturbação gera um caos sem precedentes em todo esse equilíbrio natural. Na história o peixe Kun não deveria existir naquele mundo, mas Chun se viu em dívida com a bondade do jovem e escolheu abandonar sua vida em todos os aspectos para que ele retornasse vivo ao seu mundo, mesmo assim fica muito ambíguo se os sentimentos da garota são apenas de gratidão, ou também de amor, dúvida que se estende até os últimos segundos do filme.

E sobre a simbologia presente no longa, quando pesquisamos mais a fundo alguns dos elementos dispostos pela animação, vemos que nada foi escolhido pelo acaso e todas as suas características estão intrinsecamente ligadas à reflexão que buscam passar.

Falamos do equilíbrio da natureza e do ciclo da vida, mas também podemos falar dos próprios protagonistas que carregam uma grande simbologia: A Begônia é uma flor típica da Ásia e que traz consigo o significado da inocência, da felicidade, da lealdade e da delicadeza, além de que seu nome “Chun” significa a primavera (florescer), enquanto que o grande peixe (Big Fish) vem da mitologia sobre um peixe que crescia nos mares e tinha a capacidade de voar, também se relacionando com a crença de que as nossas almas são peixes que viveram há muitas eras onde tudo ainda era apenas oceano. E nem vou tocar no assunto Qiu e toda sua lealdade e significados, porque virou meu tópico sensível.

Da Yu Hai Tang
©B&T/Da Yu Hai Tang

Dessa maneira, nada ali foi inserido por acaso (sobretudo por ter sido uma adaptação baseada em um livro clássico taoísta de Zhuangzi) e a sensação que temos desde seus primeiros minutos é de uma imersão total que só se encerra quando os créditos sobem. É tudo muito intenso, tanto no roteiro, quanto visualmente.

E por falar em imersão, muito se pode dizer que é pela sua história e toda essa simbologia destacada aqui, mas em grande parte nos sentimos extasiados com a obra por conta de sua excelente direção, qualidade de animação e trilha sonora extremamente sensível.

Tudo ali flui como as águas do oceano e o nado dos peixes, com técnicas inteiramente detalhistas e refinadas que demonstram muita competência, carinho e atenção aos diversos elementos do longa-metragem, inclusive até presenciamos um pouco de inspiração no Studio Ghibli em determinado momento.

Da Yu Hai Tang
©B&T/Da Yu Hai Tang

Temos ali um show de cores, vibrações, luzes e as mais diversas nuances de efeitos visuais, tão ricos que combinam excepcionalmente com a fluidez de sua trilha sonora e a profundidade e simbologia de sua história. Toda a ludicidade, a ambientação e o jogo de cenas engrandecem ainda mais essas técnicas de animação belíssimas.

Eis que, para finalizar, devo acrescentar também que a narração da personagem principal meio que entrega um “spoiler” de seu final para os olhares e percepções mais atentos. Existe ali um tom trágico por toda a obra, mas também destaca-se por não colocarem um “inimigo terrível e malvado”, mas sim os dilemas mais profundos do ser humano retratados de uma maneira inteiramente lúdica.

Da Yu Hai Tang
©B&T/Da Yu Hai Tang

Dessa maneira, deixo aqui uma reflexão sobre os momentos finais de Big Fish & Begônia: Seria Chun a heroína de sua história ou apenas mais uma garota levada pelas suas emoções e determinações? O caos gerado em torno de suas decisões e a maneira como tudo finalizou, lutando pela liberdade e pela felicidade, apesar das perdas, se fundamentam pela famosa frase “os fins justificam os meios”?

Deixem aqui abaixo suas respostas (para aqueles que viram, claro) e se sentiram motivados a assistirem (para vocês que estão dormindo no ponto). Não se esqueçam de também compartilhar e debater conosco suas opiniões para enriquecermos ainda mais nossas postagens.


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One thought on “Big Fish & Begonia – A vida é feita de jornadas Alguns peixes nunca podem ser aprisionados, porque eles pertencem ao céu.

  1. Incrivel como a cena final não atraiu a ira de certas pessoas que parecem se preucupar mais com jovens ficticias do que com crianças reais em bailes funk…

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