Olá, hoje vim ‘inspiradaço’ pelo último post que fiz aqui na Anime United, inclusive, se você ainda não o viu recomendo ver, pois não é só um merchã meu, mas algo que está ligado com o tema que abordei nele.
Além deste, recomendo a leitura de minha colega Bolinho de Arroz, pois o texto de hoje é altamente inspirado no dela, e está muito bem inscrito e resumido.
Aliás, não somente altamente inspirado, mas também como uma espécie de complemento ao dela, falei nos bastidores com ela e a mesma gostou me deu permissão pra seguir no texto. Continuarei da pergunta que ela deixa em aberto no ar.“Ainda assim deixo o seguinte questionamento: será que existe um limite para essa grande diversidade de temas nos animes?’’. Minha resposta de bate pronto será: Não! Porque essa impressão verdadeira sobre a variedade de temas gerados pelos animes e mangás demonstra isso. Antes é importante conhecer, mesmo que só a camada mais primária, de como a indústria de mangás e animes começou, funciona, e segue até os dias de hoje para termos uma noção clara sobre o que essa indústria quase que sem fundo dá a entender que não há um limite do que se pode criar de temas, personagens, acontecimentos, desenvolvimento e etc.
O começo de tudo
A primeira animação que se tem conhecimento no Japão foi ‘Katsudou Shashin’, uma animação feita numa sequência fotográfica, sobre um pequeno garoto vestido de marinheiro escrevendo caracteres japoneses num quadro, de 1907, apesar da data ser estipulada de algo entre 1907 e 1911, tudo sobre ele e sua história está nesta matéria aqui mesmo na Anime United.
O curioso desta animação é que ela foi descoberta somente em 2005 em Kyoto, uma cidade do Japão. Mas se remontarmos ainda mais no tempo, descobriremos que a história artística do Japão dá mais fundamentos para o que se tornaria os mangás e os animes, e falo do período Edo, de quando os Samurais governavam o Japão, e sabe como eu comecei a saber deste detalhe? No episódio 4 de Samurai Champloo, o qual se desenvolve entorno de um artista de pintura Ukiyo-e, um estilo de pintura japonesa muito comum entre os séculos 17 e 19, eram desenhos feitos a mão sobre paisagens, pessoas (comumente mulheres), profissões, lendas e histórias japonesas, seu pintor está envolvido num escândalo sexual, no qual ele envolve jovens modelos para que durante as sessões elas fosses sequestradas e traficadas para a Europa. Anime também é cultura! O estilo Ukiyo-e apresenta textos junto de seus desenhos narrando a imagem ou descrevendo como foi fazê-la e/ou também a sua fonte de inspiração. Era muito comum em toda Ásia, principalmente por conta dos documentos mongóis (quem jogou Rise of the Tomb Raider se lembra dos documentos achados no jogo com um formato de bloco de papéis) e por conta das pinturas anteriormente citadas, onde as pinturas descrevessem a cena em seus mínimos detalhes, ou pelo menos o que o artista queria transmitir, isso facilitava e muito a comunicação que é mesmo complexa entre os falantes das várias línguas da Ásia. O Ukiyo-e caiu em desuso com a chegada da era Meiji, a era que desbancou os samurais e restaurou o império japonês e a abertura para o exterior, com isso novas tecnologias levadas pelo Ocidente começaram a desbancar alguns trabalhos mais manuais. O próximo passo já avança pra metade do século 20, mais precisamente no pós-guerra, onde o Japão estava dizimado, mas se reconstruiu e cresceu muito, principalmente com a participação que os EUA teve neste processo de reconstrução japonesa, com isso muita coisa inspirou os japoneses a se recriarem e restabelecerem, dentre estas coisas vieram as HQ’s. Conhecidas também como ‘quadrinhos’, elas já tinham revolucionado na forma de comunicação com sua escrita misturada a artes nos anos 30, grandes lendas da área começaram ali e estão até hoje, tais como a Detective Comics (DC) e Marvel. Com A mais B e você chegará ao C, o formato de pequenos quadros mais o estilo japonês de desenho criou uma união que mudaria completamente a maneira como estórias são contadas no Japão. Só que até então as animações japonesas estavam longe de estórias como conhecemos de uns tempos para cá, as primeiras eram mais institucionais, como a demonstração de funções sociais e serviços, e pequenos curtas com estórias, limitados em tempo pela tecnologia da época, inclusive, recomendo este vídeo no YouTube que faz um breve resumo sobre as animações ao longo dos anos no Japão.
A grande mudança
O primeiro anime que foi conhecido em massa por nós no Ocidente foiAstroboy, seu mangá ficou em produção de 1952 até 1968, foi a primeira série de fato ao invés dos curtas e pequenos filmes lançados até então, além de ter sido também a primeira adaptação de um mangá para uma versão animada, o que transformou ainda mais a indústria, já que os curtas feitos eram muito baseados em lendas e histórias do Japão ou em algo envolvendo diretamente o país asiático. Daí para frente é pura história, diversas animações seguiram a mesma fórmula de sucesso, algo típico do Japão como cultura, se algo dá certo se verá todos indo naquela direção, cada um encontrando seu espaço na sociedade da sua forma, e isso é importante notar, pois depois do primeiro tópico mostrando um pouco de como a arte se desenvolveu no por lá, já se é capaz de começar a entender o que veio para frente disto. Como eu disse, se algo dá certo no Japão outros por lá seguirão o mesmo caminho, basta ver que antes da segunda guerra mundial o país já tinha as maiores indústrias da Ásia, desde o ramo de automóveis, o ramo de comunicação, elétrica e bélica (só não falo marcas aqui já que não estou recebendo cota publicitária, (patrocina nóis Toyot…), sendo assim, nos mangás e animes não fora diferente, vários gêneros foram sendo gerados ao longo das décadas até os dias de hoje, independentemente se você está lendo esta matéria no dia de sua publicação ou não, aliás, falando de gêneros… (consegui finalmente ser resumido hehehe, valeu Bolinho de Arroz!!)
A genialidade japonesa nas animações e mangás
Já vimos como tudo isso nasceu e como foi o estopim, agora vem a parte que começo a responder a pergunta feita lá no começo do texto. Obviamente os japas não foram os primeiros a adaptar conteúdo dos quadrinhos, seja nas animações ou em live actions, pois Flashgordon já estava em 1936 tendo uma série, Batman e Robin em 66, entre tantos outros na época, MAS, contudo, entretanto, todavia, os japoneses escolheram um caminho e os americanos a outro, ambos até hoje seguem o mesmo caminho e ambos com suas consequências. O Japão seguiu na fórmula de adaptar mangás em animações, separando para filmagens prioritariamente os Tokusatsu (特撮), que literalmente significa algo filmado com efeitos especiais, que nos anos 60 e 70 tiveram um boom no mundo todo, alguns tokusatsus conhecidos são: Ultraman, Ultra Seven, Power Rangers, Jiraya (não o sensei tarado de Naruto), só recentemente na história, os japoneses começaram a fazer versões filmadas de animes, os adaptando tanto para o cinema quanto para a televisão, e expandindo até para o mundo dos jogos (mais disto à frente). Os americanos no outro lado do Oceano Pacífico tomaram rumos bem diferentes, os quadrinhos foram sendo adaptados para a televisão em várias séries e para os cinemas, e ocasionalmente ganharam animações na TV, até que boas como: Os Super Amigos, quem se lembra deste clássico daHanna-Barbera? Aliás, William Hanna e Joseph Barbera foram os primeiros detentores sobre direitos de animação da DC em larga escala, dominando no final dos anos 60 e durante toda a década de 70, a Marvel foi um pouco mais tímida, mas conseguiu lançar animações do Homem de Ferro nos anos 60, já que estavam mais focados nas vendas de HQ’s, chegando com força nos anos 80 e 90. E quais as consequências? Bem simples de explicar, os japoneses com a revolução do mangá começaram a ver esta nova fórmula de conteúdo que havia sido feita e seguiram nisto, disseminando entre toda a população e facilitando o acesso de artistas da área, literalmente colocando todo tipo de pessoas no papel de mangakás, outro dia eu vi a história do autor de Re:Zero, Tappei Nagatsuki, sobre como ele criou a cena do Subaru sendo triturado pelos coelhos (aquela mesmo), ele se inspirou no tempo que estava trabalhando como açougueiro… nem preciso dizer o resto se você viu aquela cena. Tiveram e tem mangakás que fazem outras coisas na sua vida cotidiana, de jornalistas a motoristas, de açougueiros a bancários, de redatores até músicos e por aí vai, é meio que um fator cultural do Japão, lá a arte é bem disseminada durante o período escolar, de música até pintura, o que acaba inspirando homens e mulheres a ingressarem ou se interessarem nesta área, ou seja, ao longo de anos o Japão passou a contar com uma quantidade imensa de mangakás de TODOS OS TIPOS, deem um Google e verão isto pelos seus próprios olhos. Os americanos por outro lado, focaram em quadrinhos de super-heróis, a DC nasceu como uma produtora de quadrinhos de detetive/polícia, daí o nome Detectic Comics, e viu a principal rival Marvel, principalmente na segunda guerra mundial com Capitão América sendo usado como propaganda americana contra o nazismo do bigodinho, e sim, aquelas primeiras cenas do Capitão América até mesmo aparecendo em teatros nos EUA e em campos do exército mais longes das batalhas são inspiradas do mundo real, nisso ela criou desde o Batman até o Super-Homem, fora deste eixo basicamente estavam produtoras menores e até mesmo a Disney tinha quadrinhos de seus personagens, eu lembro de ter lido Urtigão, Zé Carioca, Tio Patinhas, Pateta, Mickey nos quadrinhos dela, quem mais aí lembra? Mas que descontinuaram, não por não fazer sucesso, mas por não alcançar ou superar os das outras duas. Basicamente os autores independentes foram poucos até hoje, e diferente dos mangakás, a arte não foi tão bem disseminada na população, a exceção da música, a quantidade e proporcionalidade é indubitavelmente superior para os japas, o que consequentemente limitou a quantidade de gêneros e visões de mundo, a impressão que temos de que tem animes e mangás de quase tudo vem daí. A maior parte de animações dos EUA vieram pela Warner Brothers, com suas Merrie Melodies (um dia falarei sobre suas animações, podem cobrar do tio aqui).
A Hanna-Barbera que dominou nos anos 70 mais com 70% do bolo de animações, época que a WB parou de fazer animações, ficando num hiato que só foi encerrado nos anos 90, a Disney estava mais focada em animações para os cinemas, a Universal ficou bem atrás, esporadicamente lançando novas versões do Pica-Pau, dentre outras animações mais isoladas, porém conhecidas como a Pantera Cor de Rosa, A Caverna do Dragão, Thundercats e tantos outros. Com as HQ’s basicamente focadas em heróis, não é à toa que fica a impressão de não haver muito além disto, ainda mais recentemente onde começaram a fazer filmes de heróis a rodo, era um Homem Aranha aqui, um Quarteto Fantástico ali, de vez em quando um filme do Batman, e na última década a invasão da Marvel, enquanto os japas estavam criando de sci-fy’s até isekais, fora a quantidade ridiculamente grande de hentais (ou eromangás), vindo a torto e a direito do Japão. Do lado asiático temos animações virtualmente infinitas, já que são adaptações do mangá, do lado americano temos basicamente um único gênero, e os cartoons que foram fonte de inspiração para os japoneses, perderam muita força e qualidade ao longo das décadas, tendo muitas subidas e recaídas, tendo animações incríveis no começo do século 21, mas que não foram para a frente por não venderem brinquedos o suficiente, dá pra acreditar? O que dá a aparecer é que no Japão, eles conseguiram criar 1 único produto, já os americanos tomaram um rumo de inconsistência, quer um exemplo? Quantos Batman, Super-Homem, Homem-Aranha tiveram em filmes diferentes ao longo dos anos? Fora animações diversas feitas por várias empresas distintas, sem uma padronização, variando conforme as mudanças de propriedade. Animações que dependiam de vendas de brinquedos e outros merchãs, um rolo só, enquanto os japas conseguem de um só lugar criar um universo só, pego o exemplo de Konosuba, que veio tímido lá em 2016 e conseguiu virar um sucesso, ele é uma adaptação de mangá, mas surgiu primeiramente como uma web novel (artes conceituais e ilustrações feitas junto a textos curtos de falas ou situações, te lembra algo?), após o sucesso do anime, o mangá vendeu ainda mais, a obra ganhou jogos para celular, vende merchãs mundo afora, e ele não foi o único, outros tantos animes seguiram no mesmo caminho, fazendo de tudo isso, da web novel, passando pelo mangá, chegando aos animes, todos feitos de um só lugar, de uma só fonte, criando de tudo isso um único produto. As animações além de terem uma fonte virtualmente sem fundo, ainda servem como impulsionadora de vendas de mangás e/ou light novels, e aqui vem a genialidade, além de termos hoje conteúdo de tudo, estes conteúdos não morrem tão facilmente, e se é gerada toda uma cultura envolta disto.
Conclusão
Eu poderia aqui também falar a respeito de outras consequências de ambos os mercados, a venda de HQ’s nunca foi tão fraca, onde somente Kimetsu no Yaiba vende mais que o top 50 dos quadrinhos dos EUA, e até mesmo recentemente tiveram que contratar mais editoras nos EUA pra confecção dos mangás já que as editoras contratadas lá não estavam aguentando a alta demanda. Também com a grande audiência de animes e mangás por lá os mimizentos começaram a reclamar do ‘’ecchi’’, da ‘’sexualização’’ e de outras bobagens que só existem na cabeça deles, e bem, não deu muito certo, pois as vendas de mangás e a distribuição de animes lá humilha o mercado local dos EUA (tópico para um próximo texto), mas resumindo, com a minha infância marcadas por animações de ambos os países, e com os quadrinhos de ambos os países, conheço quase de cor e salteado o catálogo inteiro da Hanna-Barbera, crianças da minha época levantavam cedo pra ver os Merrie Melodies e outras grandes animações, e posso afirmar por A+B que a fórmula dos japoneses é a mais acertada, tanto para os autores quanto para nós, o público. Pois aqueles que não limitam o seu imaginário vão sempre longe, não necessariamente sempre teremos coisas boas disto, mas demonstram que o ser humano tem um imaginário que pode o levar onde ele quiser, que resvala nos vários designs de personagens, diferentes estilos de roupas e mundos, diversas escolhas gráficas e estórias que podem ter inspiração em artefatos do mundo real, linhas de raciocínio variadas. Por conta disto, mesmo em um gênero que esteja relativamente saturado, ainda pode existir variedades interessantes. O que me impressiona do lado japonês é isto, eles não tem medo de fazerem o que querem no mundo fictício, diferente dos mimizentos que acham tudo ofensivo e não sabem diferenciar o fictício do real, eles conseguem colocar pra frente de um tudo mesmo, muitos reclamam do ‘‘ecchi’’, mas estão no Instagram curtindo cada foto sensual ou mesmo criando alguma sensualidade por conta própria, hipocrisia nas alturas (ao invés de falar de certos momentos onde ele é simplesmente desnecessário para a história), enquanto lá eles o fazem sabendo que aquilo é apenas uma estória, como bem quiserem coloca-lá, pois sabem que cada história é uma experiência diferente, cada personagem, ação, enredo servem a um todo e faz a diferença no final. Ou seja, os animes podem chegar a pontos virtualmente ilimitados, mas que existirão para demonstrar uma coisa que é necessária ressaltar, as diferenças, se fossemos todos iguais o nosso mundo seria chato e desumano, viva a diferença de todos, e deem vida à imaginação, não limite aquilo que é fictício, pois a limitação é algo do mundo real, e use aquilo do mundo real como inspiração, não como limitação, com discernimento e dedicação, para criar uma experiência única. Veja bem, os quadrinistas dos EUA se compararmos com seus relativos mangakás do Japão tiveram um background totalmente desfavorecido, há até hoje poucos quadrinistas independentes com disposição a ferramentas e plataformas para a criação de novos quadrinhos, se você der uma pesquisada mais a fundo, os mangakás tem acesso mais facilmente a ferramentas de criação dos mangás, light novels (que são a versão com os textos sem as ilustrações), o que é visto em vários animes, como Nozaki-kun, Eromanga Sensei, Eizouken ni wa Te wo Dasu na!, o que leva a desenvolvimentos totalmente distintos.
Só pra você ter ideia de onde isso tudo leva, se um japonês quiser entrar neste mundo da criação de conteúdos gráficos, ele pode começar a desenhar e montar textos pequenos em casa mesmo, lançar em sites na web e criar uma web novel, se quiser desenvolver textos (light novels) em casa mesmo ele pode, a partir deste ponto ele pode postar ambos na Internet e pode receber propostas de grandes plataformas de mídia para que sua obra possa ser entregue em grandes volumes, com mais apoio profissional e ter a sua disposição ferramentas ainda melhores e mais público. Daí em diante o mangá é questão de tempo até que alguém veja potencial para adaptação, e aqui tá um ponto chave, não necessariamente isto é uma escada, a pessoa não precisa começar a escrever web novels para um dia criar um mangá, se ela quiser se manter somente com web novels ou light novels ela pode, até mesmo se a pessoa tiver como, bancar a própria animação, como aconteceu com a primeira temporada de One Punch Man. Mais outro ponto de desvantagem para os americanos, que basicamente, se não tiverem condições próprias para criar quadrinhos novos, terão de conseguir entrar numa indústria que está começando a pagar mal por conta de obras mal feitas ao longo de anos, e a estagnação do mercado em relação aos gêneros abordados, que hoje é dominado pelo gênero de heróis. A minha conclusão é, se a indústria japonesa continuar assim, pode ter certeza de que novas estórias serão geradas aos montes, escritas por pessoas com vidas totalmente diferentes, visões de mundo diferentes, que geram novos gêneros e segmentos artísticos, e dando certo, outros seguirão neste caminho, basta ver que a quantidade de manhwas da Coreia do Sul estão cada vez mais populares, ainda mais tendo muitas parcerias com os japoneses que estão a mais tempo no mercado e suas respectivas animações, como a Torre de Deus (Tower of God).
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