Comédias românticas se tornaram um hit recentemente dentre os gêneros de animes, apesar de já existirem há muito tempo como somente um romance com doses de humor aqui e ali, só recentemente ganharam os fãs se jogando de cara na comédia e apresentando-se de maneira mais ampla para um público maior. Hoje temos desde a bem elaborada animação de Kaguya-sama: Love is War, até a cativante Komi-san, todas sendo únicas e bem balanceadas de comédia e de romance, mas o que torna Tomo-chan outro belo exemplar do gênero? Ele mostra algo único e diferenciado? Tem personalidade própria? Esta análise te mostra se compensa ou não a ter este anime em sua lista!
Enredo direto e diferenciado
O enredo é simples e direto, como o próprio nome do anime faz entender, Tomo quer ser vista como uma mulher por seu amigo Junichirō, mas para isto acontecer, ela tem de passar por todo um ciclo para se apresentar desta forma. A começar que Tomo é um belo exemplar de tomboy, é sempre agitada, animada e ativa em tudo o que faz, além de lutar judô no dojô do pai desde criança, foi ficando mais forte do que as garotas de sua idade, ao ponto de só poder lutar contra garotos, era tão moleca que quando criança, ao conhecer conheceu seu novo vizinho, o Junichirō, o próprio a confundiu com um garoto. A partir daí surge uma amizade que foi sendo tocada pra frente, até que ele descobre que Tomo era uma garota, mas apesar do “choque”, ambos continuaram a serem verdadeiros parceiros, o que acabou despertando em nossa protagonista algo diferente por seu amigo de infância, o que desenvolveu até chegar no primeiro episódio do anime, ela queria ser mais do que uma parceira de seu amigo, e sim ser vista como uma mulher.
O título só por si pode enganar, mas ao ver os episódios e conhecendo o enredo, você vai compreender o núcleo da obra, é óbvio que Jun sabe que Tomo é do sexo feminino, é um tanto quanto visível, mas o tapado não percebe que a proximidade de ambos desde a infância gerou algo nela bastante diferente, e ao longo dos treze episódios, Tomo vai mexendo os pauzinhos para mostrar isto a ele. É isso que toca a obra pra frente e é de cara um diferencial no gênero, se em Kaguya-sama: Love is War vemos o casal principal tentando convencer o outro de seu amor por meio da dominação, gerando um tipo de jogo onde o amor é a arma no campo de batalha, em Tomo-chan vemos uma personagem tentando se mostrar como uma mulher, não simplesmente como aparência, mas como alguém para se namorar como uma, em termos simples, sair da “friendzone” de um tapado que não entende nada de romance, mas Tomo também não sabe bem como fazê-lo, e essa é a comédia da animação.
A coisa dela ser uma tomboy, sarada e bem forte, mais alta do que as garotas de sua idade, e sendo tão forte quanto ele é bem usado no fator comédia, a questão é, como transformar uma figura dessas em alguém mais atrativa ao sexo oposto, que passou uma vida como amigos? A primeira transformação desta amizade em um romance é exatamente esta, a figura das tomboys é constantemente confundida com uma imagem masculinizada, tanto que Tomo usa um uniforme masculino misturado com o feminino, usando uma saia curta com um short cobrindo as regiões e um paletó masculino. Um bom exemplo disso está no segundo episódio, quando ela é encorajada a não usar o short, fica meio ressabiada em ter que “só’’ usar a saia e nada mais, e quando Jun a vê assim, é óbvio que a mente dele explode, e quando bate aquele vento, aí que o cara não aguentou e bugou de vez, essa dinâmica se repete de maneiras variadas, desde o linguajar mais bruto que Tomo usa, até a postura dela ao andar com ele. Mas o que impressiona é que não fica nessa coisa superficial, pois repito, a Tomo é um MULHERÃO como a mãe, e bem visível, é curvilínea (imagem abaixo), tem presença e tudo mais, mas ela ainda não se vê como mulher, e não no sentido biológico e sim da presença de mulher.
Tentam transforma-lá com roupas, penteados, e tudo mais, porém a obra mostra a busca da Tomo em ser esta mulher para o seu amado, por mais que o visual importe, eles abordam além dessa superfície e passam para algo mais profundo, e falo bastante aqui da Tomo pois ela é quem toma a dianteira das ações, ela quem despertou o amor primeiro entre os dois, e dá o nome a obra e não à toa, ela é o centro das ações, ela é a primeira figura da equação. E nisso, Jun acaba sendo o termômetro da ação, pois ele é o alvo de tudo, visível até mesmo na abertura da obra (imagem abaixo), pois para ele é complicado também, como passar de uma figura amigável para uma figura amorosa, com alguém que desde o primeiro momento foi um referencial em amizade? Eu estava ressabiado com o anime primeiro com isto, pois eu me perguntava, como um tapado pode confundir uma mulher com homem?
Mas descobri que a coisa com ele é esta, como superar a amizade com ela para se tornar uma namorada? E você percebe a transformação deste conceito nele, e agrada ver que o núcleo de toda a obra se mantém intacto ao longo dos episódios, não dá pra falar que o que move tudo isto seria genérico, a montagem disto tudo é bem feita e tocada no anime, se tem uma mensagem que vejo que cai bem para falar desta obra, seria para além do superficial.
Personalidade no que entrega
Eu poderia focar unicamente no núcleo da estória em si, pois senti algo que é complicado em sentir numa obra, o que chamamos na música de feeling, ou sentir o apego que a obra gera no espectador, e que gerou em mim a vontade de ir acompanhando os episódios e ver que ela anda para frente no que propõe, não é tão comum, ainda mais em alguém que não curte comédias românticas como eu. Mas as comédias românticas me ensinaram a perceber bem os outros personagens além do casal em foco, pois eles são parte ativa de todo o núcleo do enredo e devo dizer, que belo grupo é o desta obra. Se Tomo é uma moleca cheia de energia, ativa em suas ações, e um pouco ingênua em certos assuntos, para contrabalancear isto tudo e servindo até mesmo de pivô para ela, somos apresentados à Misuzu Gundō, amiga de infância de Tomo, ela é fria, retrancada, sempre com uma expressão mais condescendente e apática, é ela quem ajuda Tomo a descobrir seu potencial de mulher, e para unir à trupe, temos a figura da Carol, eu diria que seria uma mistura da Tomo e da Misuzu numa proporção estranha mas muito brutal, ela é aquela figura “kawaii” dos animes, uma gal de muito resPEITO, tem o charme e consciência da Misuzu, e a atitude propositiva da Tomo.
Jun, Tomo, Misuzu e Carol são as figuras mais ativas e abordadas do anime, então temos a seguinte fórmula, Tomo e Jun como o casal alvo da trama, e as outras duas servindo de pivôs direto à Tomo, Misuzu com a figura extra de intermediária entre os dois, já que ela os conhece desde a infância, e um detalhe, ela “namorou” o Jun no fundamental, e com o entre aspas eu digo, o Jun levava a donzela para pedaladas de 40 km ida e volta, e ela odiava isso, e quando ela foi terminar com ele, ele veio primeiro e botou pontos finais, e ela topou namorar com ele para que a Tomo voltasse de algum modo a reatar as relações entre elas, mostrando outra dinâmica da obra, pois parte da Misuzu praticamente todas as ações de unir ela com o Jun, seja o episódio onde ela e Carol mudam o visual da Tomo (imagem abaixo), seja ela ter ações mais visíveis com o Jun. Por mais que ela seja uma figura não muito agradável de primeiro relance, parte dela a coisa da Tomo descobrir o potencial dela como mulher, ela chama a responsabilidade pra si em toda a animação, por mais que pareça que ela manipule, mal sabe ela de sua importância entre o casal principal.
E digo principal, pois outro casal é abordado, a Carol não é só um rosto bonito no anime, que é, mas vai além disso, e descobrimos a verdadeira figura dela, pois ela também ama a um garoto, Kousuke Misaki, e que também serve de contrapeso ao Junichiro, se Jun é grosso, poucas palavras, Kousuke é o oposto extremo disso, e diferente do protagonista, Kousuke percebe ao longo dos episódios o desejo da Carol por ele, tudo bem que a mãe da Carol enfia isso na cabeça dele, literalmente (imagem abaixo) mas ele percebe.
E falando de mães, não tem como mencionar as mães das três personagens principais, Tomo puxou o pai na personalidade, mas o visual veio da Akemi (ainda bem), Carol só é quem é por conta da Ferris Olston, senhora sua mãe, na mesma a Misuzu, um puro tal mãe, tal filha. Elas são fundamentais para o andamento de tramas secundárias da obra, além de suas personas terem sido essenciais para suas respectivas filhas, além de preencherem bem a estória com a comédia do anime, e falando em comédia…
Uma comédia romântica com muita comédia e muito romance
Uma comédia romântica só é boa de fato se tiver uma evolução da estória, e é visível o desenvolvimento de ambas ao longo do anime, primeiro pelos nomes dos episódios, o primeiro se chama “Quero ser vista como mulher! / Um desafio aterrorizante” e chega nos últimos com “Adeus, melhor amigo” e “Para ficar ao seu lado” e sim, ele não precisa de três temporadas para mostrar todo seu desenvolvimento como uns aí, nos treze episódios há evolução da proposta que citei lá no primeiro tópico, aos tantos a Tomo consegue se descobrir mais, e o Jun consegue perceber e mudar de acordo, no começo andavam juntos como algo comum, se batiam aos tantos, mas ao avançar os episódios, Jun percebe que não dá pra sequer ficar com ela a sós num quarto, até o ponto que a Tomo não se aguenta mais e mete o beijo nele no último episódio, me irrita profundamente alguém enrolar tanto em propor algo e encher linguiça, aqui não há nada disso, ele se propõe e entrega aquilo que tanto queremos ver de fato em animes do gênero, desenvolvimento pleno e visível.
Mas além disto, é o balanço perfeito de humor com romance que mais chama a atenção, nem mesmo o último episódio que conclui com tudo e que finalmente une os dois pombinhos deixa de ter um humor característico, o melhor exemplo disso, é que para Jun finalmente namorar a Tomo, Gorō Aizawa, o pai dela, desafiou o cara para um duelo no judô, pense numa figura que se encaixa perfeitamente na descrição de um armário lutando contra um palito de dentes, pois é, e como Gorō sendo casado a tempos com Akemi (ele ainda parece um apaixonado da escola de tanta timidez que tem perto da própria esposa) por isso, Jun a traz ao dojô para tentar desconcertá-lo, Jun acerta um golpe na fuça do futuro sogro (ousado e suicida ao mesmo tempo) mas como é óbvio, o cara aguentou como se não fosse nada, daí a futura sogra interveio e Jun finalmente conseguiu o que tanto queria.
O humor é usado em tudo, no ecchi, nas características físicas dos personagens, nas boas sacadas que te fazem mijar de rir, como no quinto episódio, onde Tomo e Misuzu vão conhecer a mansão da Carol, onde a Carol explica o porquê de seu visual, explicação esta que veio de sua mãe, e tenho que abrir aspas pois é inacreditavelmente bom; “Tomo: Você sempre usou lacinho, né? Carol: Sim, a mamãe costumava dizer, que eu sou um pudim. Tomo: Ahm? Carol: Pudim! É por isso que devo usar roupas macias e fofas, o lacinho é a cereja que não pode faltar, só que o mais importante é… Misuzu: NÃO DEIXAR QUE NINGUÉM A COMA?” Mano, explodi nessa hora de um jeito que nem mesmo Goku Dolls me fez rir. Esta é uma das muitas e bem sacadas linhas de diálogo que a obra apresenta, um humor bem colocado e um romance que sempre andam juntos, não é um romance que vez ou outra tem um momento mais leve, mas ambos se completam bem nos episódios, ao invés daquele amor cheio de tensão, ele usa de um humor esperto para o romance, o que torna a obra palatável até para mim que não curto romances.
Notas
Animação: Por mais que seja uma animação onde nada muito movimentado aconteça, devo dizer que é bela ao olhar, e inteligente no modo que apresenta seus personagens, ele usa das caricaturas que todos conhecemos nos animes, sejam aquelas marcas de raiva nas testas, seja as expressões em cada reação marcante, só não ganha uma nota maior por não ser algo tão detalhado como Sono Bisque Doll, mas faz o básico direitinho! 8.0
Arte Gráfica: Consegue se destacar dos designs que vemos normalmente, nada absurdamente ousado, mas que dá personalidade aos personagens, desde a frieza da Misuzu, até o charme sem igual da mãe da Carol, é bom de ver personalidade própria num anime! 8.0
Personagens e Enredo: O grande destaque da obra, que se desenvolve bem ao espectador, personagens relacionáveis e bem usados na obra, é uma comédia e é romântica na proporção certa. 9.0
Trilha Sonora: Da abertura até o encerramento, a trilha agrada e casa com o que propõe, apesar de que a trilha sonora não seja o destaque da animação aqui, ela não destoa do que a obra propõe. 7.0
Geral: Regra minha, mas se um anime tem nota 8, é um anime a ser visto, e no caso de Tomo-chan, mesmo que você, como eu, não seja fã de comédia romântica, pode ver sem problemas ou dúvidas, são treze episódios bem desenvoltos e diretos, personagens bem feitos, estória bem montada e contada, Tomo-chan me surpreendeu pelo que conseguiu entregar em tão pouco tempo. 8.0
Veredito
Pude ao longo dos episódios, mostrar cenas dos mesmos em grupos por aí, não foram poucas as vezes que postagens assim alcançavam quinhentas curtidas, uma inclusive que passou das mil, e pude ir vendo nos comentários três coisas, a primeira é o bom feeling que a obra causou nas pessoas que acompanhavam o anime, sempre dispostas a verem mais episódios e gostando tanto do humor quanto do romance, a segunda é o desejo de pessoas que não conheciam o anime em ver os episódios por conta das cenas que eu mostrei, a terceira é o agrado pelo desenvolvimento da obra, inclusive nos últimos episódios, pessoas que sabiam que esta era a primeira e única temporada, estavam tristes em saber que tudo aquilo do anime acabaria ali, pois de fato, é muito bom ver o anime como um todo, as piadas, o romance bem trabalhado, os bons momentos que a obra gera são muitos e que trouxeram grande apreço em quem acompanhou o anime do começo ao fim. Você não se sente com aquela carga de tédio e ansiedade que alguns animes que se prolongam por muito tempo constantemente trazem a nós, ele é direito e honesto no que mostra, tem personalidade forte, é bem feito, é como todo anime deveria ser, e não tenho medo de dizer, uma obra prima da comédia romântica!
Esse anime é do crl, os personagens me chamam a atenção e o enredo dele tbm, afinal é uma luta da tomo atrair o jun
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