Quando lancei minhas Primeiras Impressões de Isekai Yakkyoku no ano passado, alguns me pediram pessoalmente para que eu assistisse a série inteira para realmente entender a obra por completo e não somente me levar pelo primeiro episódio, foi o que fiz, e hoje lanço a análise que basicamente será um complemento do texto das Primeiras Impressões, seja a estória, a animação, o enredo, a sequência das ações, nada se destoa muito do primeiro texto.
Anime comum, isekai genérico
Eu tenho algo em mente sempre que assisto a algum isekai, por que ele não foi concebido como uma estória em um mundo de fantasia? Como Fullmetal Alchemist, Nanatsu no Taizai, Basquash, onde cada mundo tem o seu próprio funcionamento e realidade, onde nada dependa do planeta terra real. Pois na vasta maioria das vezes, a parte em que o protagonista tem alguma ligação com o mundo dele, ou ela é risória, ou praticamente nula para o andamento e contexto da obra em si, e não foi muito diferente aqui em Isekai Yakkyoku, à parte do protagonista ser um farmacêutico tanto em seu mundo original quanto no novo, mais nada é relevante para o andamento dos episódios e dos acontecimentos da obra, concordo com uma autora que disse que “É verdade que há uma supersaturação do gênero isekai, mas é um problema que se resolve sozinho. Com o tempo, as pessoas vão se cansando e o público vai passar para outra coisa” . Ao menos, Konosuba é uma sátira dos isekais no final das contas, e Overlord usa seu núcleo de jogo como o novo mundo, já Isekai Yakkyoku gasta três minutos de seu primeiro episódio para nada.
Isekai já um gênero que pra mim não é atrativo, mas quando acaba não levando em conta o núcleo do isekai, que é o personagem indo para um novo mundo em que as coisas de seu mundo original acabam por dar ao personagem suas características, ele acaba ficando sem ponto de atração de fato. Kanji Yakutani morre de tanto trabalhar após uma pesquisa longa para encontrar a cura de uma doença que matou sua irmã caçula, acorda em um mundo no corpo de um garoto que faz parte de uma família de aristocratas, e que de quebra ainda são fármacos, muito conveniente, conveniência que é aumentada pelo fato de que eles usam artes divinas, um poder mágico concebido aos aristocratas, e que o garoto pode usar. Resumindo, ele renasce com tudo ao seu alcance e com um poder tremendo em suas mãos, como falamos no Brasil, com a bunda virada para a lua. Não é que eu não goste de ver personagens fortes, Saitama de One Punch Man não é forte desde o começo, ele se tornou forte com treinos ao longo de três anos, e mesmo o Naruto, não foi ter domínio pleno de seus poderes até Boruto, são exemplos de personagens que foram tendo sua força adquirida ou controlada ao longo dos tempos, e ver um garoto com poderes absurdos e capacidades que superam as capacidades de seu novo mundo não é particularmente atrativo ou interessante, já que não há uma evolução real, a não ser o personagem se acostumando com os novos poderes e a nova realidade.
Falta detalhes, sobram dúvidas e defeitos
Outro problema que percebi na estória em si foi também o quão vaga ela é e meio sem ponto, um exemplo que dou é o principal detalhe do protagonista, pois o poder de maior destaque de Farma, que é o garoto no qual o protagonista surgiu neste mundo, é sua capacidade de enxergar com o olho esquerdo a qualquer problema de saúde que a pessoa tem, e mais, é capaz de determinar não somente onde a doença ou patógeno está, mas qual é o problema, sua extensão, e se ainda tem cura ou não e com qual medicamento, acho que qualquer médico desejaria ter um poder deste tipo e focar-se inteiramente no tratamento e medicamentos, ao invés de ter que operar equipamentos inteiros para chegar na conclusão do exame. O método dele é único e totalmente diferente do que outros médicos fazem neste mundo, se ele tem este poder em si, então ele não precisaria de mais nada para examinar as pessoas, certo? Mas ele ainda criou uma ferramenta que temos no mundo, e que neste novo mundo não existe, que é o microscópio e lentes de ampliação, a nova ferramenta é até boa para as pessoas deste novo mundo, mas para ele acaba sendo sem ponto de fato.
E não é somente isto, com tanto poder assim, é óbvio que forças inimigas ou rivais que se sintam ameaçados farão algum movimento contrário, ou seja, um grande rival com um grande conflito dando cor à obra, o primeiro é quando Farma cria sua farmácia após salvar a vida da imperatriz, uma guilda de farmácias de plebeus aparece com seu representante se impondo contra ele, o problema é que não acontece nada de fato entre eles, surge um atentado depredatório à farmácia de Farma, suspeitaram da guilda concorrente e acabaram por não descobrirem o real culpado, e olha que guardei bem isto em mente ao longo dos episódios e nada mais disto fora mostrado, o outro é o grande templo dos sacerdotes, que é a entidade que dá e tira a arte divina das pessoas, que descobre que acontecimentos estranhos ocorreram pelas mãos de um garoto muito poderoso, eles armam uma emboscada para Farma, ele se defende muito bem e neutraliza a situação, e o templo sagrado acaba se tornando aliado do garoto, ao descobrir a marca da divindade dos fármacos em Farma. O único antagonista de fato em toda a obra é um conhecido de Bruno, pai do Farma, que abusou dos poderes da arte divina ao realizar experimentos fármacos em cobaias humanas, e o cara só dá o ar da graça no ÚLTIMO EPISÓDIO, quando ele leva a peste negra à cidade imperial, e em relances e outros dois episódios.
Ou seja, a grande figura de conflito da estória não é destrinchada nos episódios, só sabemos que ele é um degenerado que fazia experimentos em humanos vivos e que ele conhecia o Bruno e mais NADA! E é assim que a obra é tocada, muito vaga e apressada na forma de se mostrar ao espectador, não são poucas as vezes que uma cena acaba e sua transição fala de meses depois, não sabemos muito da entidade de sacerdotes do mundo, nem dos farmacêuticos plebeus, nem da divindade que marca o protagonista, nem do império, nem de nada dos personagens secundários que são apresentados ao longo da série. Fica difícil você como expectador realmente ter esta obra de tal maneira a ser lembrada por muito tempo, pois tudo que ela apresenta acaba sendo bem superficial e pouco abordado em doze episódios, por mais que tenham até bons detalhes, a estória em si fica meio desconexa e sem muitos pontos realmente bons de se apreciar em uma anime, até mesmo de se aprofundar e ir para o mangá.
Enredo é falho e tem lacunas
O enredo e seus personagens seguem na mesma tocada, você tem um protagonista ridiculamente poderoso e capaz, já que é um adulto feito no corpo de um garoto de 10 anos, com dinâmicas que acabam sendo vagas entre ele e os outros personagens, tanto que com frequência, tanto o pai dele, a imperatriz Elizabeth, quanto a professora Elen, constantemente duvidam que o garoto seja somente um garoto comum, por conta de suas habilidades estupefatas e fora de tudo que seja conhecido em seu mundo. Outro detalhe que me faz ficar longe dos isekais, como o personagem é um adulto formado, ou pelo menos um adolescente/jovem com seus traços de personalidade definidos, ao renascer em um novo mundo mesmo como bebês, eles já têm tudo formado dentro de si, logo, você não tem uma evolução de fato na índole e no caráter do personagem, ou mesmo essa coisa desconexa da pessoa com corpo de criança e mentalidade de adulto que sequer é bem trabalhada e tocada neste anime.
Não me entendam errado, essa obra até que tem detalhes legais de se ver, como Farma formulando as receitas dos remédios e mostrando as estruturas químicas e suas fórmulas, ou mesmo o fato de que com o conhecimento que ele já tem de seu mundo original, ele traz soluções ao seu novo mundo que ainda não existiam, como a cura da imperatriz infectada com pneumonia, citada como a Peste Branca, nomenclatura usada na antiguidade, só que tem outro problema, e para mostrá-lo devidamente qual é este problema, vou fazer um paralelo com Fullmetal Alchemist. O anime mostra a alquimia de maneira totalmente diferente, já que a alquimia tinha como objetivo a transmutação dos elementos, mas é uma ciência defasada e sem bases sólidas que se perdeu no tempo, mas que é convertida no anime como ciência plena, já que seus portadores transmutam matérias no que quiserem, como converter rochas em armas, usando seus minérios, e usando a Lei da Troca Equivalente, esta relevante até os dias de hoje, de maneira que, se o alquimista quiser converter uma matéria prima em um produto final, ele tem de trocar em algo de valor equivalente para que sua energização ocorra.
Já em Isekai Yakkyoku, a forma com que usam os fármacos é totalmente arcaica se comparar com as técnicas que o protagonista usa em seu mundo, tanto que ao mostrar a guilda de farmacêuticos plebeus, ficamos sabendo que neste mundo eles fazem o que podem, mas sem muito conhecimento e técnicas para fazer os medicamentos, e mesmo os nobres que usam artes divinas não são capazes de identificar certas doenças convencionais com seus poderes e suas curas. Ok, ele vem do seu mundo e já tem o conhecimento que adquiriu lá, mas ao chegar na vida nova, ele simplesmente ignora o convencional de sua nova realidade e passa a tratar a saúde pública como em seu mundo original, ele até mesmo cria máscaras para evitar o contágio de doenças que não existiam neste novo mundo, basicamente, não há empecilhos para ele fazer o que faz, e com isto não há conflitos e superações na estória, ou seja, tudo está lá desde o começo e nada progride de fato. Em Fullmetal Alchemist você os vê em todos os episódios algo a ser abordado, desde o polêmico episódio onde a garotinha é fundida à um cachorro, até mesmo o uso de figuras religiosas usando poder descabido em uma região por meio da alquimia, criando um corpo volumoso à obra e que são lembrados até hoje, em Yakkyoku não temos isto de forma alguma, e em certos momentos de desconfiança sobre o protagonista, a coisa simplesmente trava e não é mais abordada.
Expectativas
Tudo aquilo que pude atestar em minhas Primeiras Impressões foram trazidas aqui, a animação tem traços bem feitos, mas é inconsistente, pra certas coisas ela é detalhista e até bem feita, mas economiza onde não precisa, muitas são as cenas estáticas na série. Os episódios são acelerados, não no quesito da velocidade, mas na questão de mostrar o que ela é e como os acontecimentos e sua desenvoltura, tudo acontece muito rápido e sem detalhes maiores, os episódios não tem um pivô para o próximo, sinto que a linha temporal é vaga e muito solúvel. É um anime que você até dá conta de assistir, mas com certeza é uma obra que não terá relevância e grande lembrança ao longo dos anos, como até mesmo outros isekais.
Notas
Animação: É legal, mas é inconsistente, quando tem ações ela mostra boa qualidade, como na luta final do último episódio, ou na hora das formulações dos medicamentos, mas em cenas básicas falta vida e expressão, faz o básico pelo menos sem bizarrices. 6.5
Arte Gráfica: Reconheço que o design dos personagens é legal, mas não tem traços de destaque ou diferenciados do que já vimos por aí. 7.0
Personagens e Enredo: A grande decepção, personagens quase genéricos e estória vaga, faltam detalhes maiores dos acontecimentos e dos próprios personagens, e falta aquele ponto de interesse que nos faz vidrar nos animes. 5.5
Trilha Sonora: Vaga e inconsistente, a estória é passada num cenário medieval e tem toques de música clássica instrumental, mas de repente tem inserções de rock pop, meio deslocados do clima da obra. 4.5
Geral: Tá longe de ser algo tão ruim, que mal daria para passar da metade do primeiro episódio, mas a jornada da estória é muito vaga e pouco relacionável, o cara era um farmacêutico em seu mundo, e continuou a ser no novo mundo sem grandes alterações ou destaques, tinha até algum potencial, mas é uma estória que vai passar batido quando alguém procurar um anime mais antigo pra ver daqui a algum tempo, não conseguindo ser um bom isekai como Konosuba ou Overlord. 5.7
Veredito
É um anime que você pode ver numa manhã inteira aos doze episódios, é só mais um anime que aparece nas temporadas, repito que está longe de ser ruim, mas quando fica na meiuca entre bom e ruim para mim, é medíocre e muito provavelmente esquecível, um que assisti, mas que ao longo dos animes que verei na vida, provavelmente não terá aquele espaço na memória que outros tantos tiveram.
Uma coisa que acho repetitiva é um protagonista morrer ou ficar em coma e acordar em outro mundo misteriosamente ,é mais interessante é quando aparece uma explicaçao dessa viagem que é relevante para a trama,poderiam fazer alguma surpresa no final no estilo de O Planeta dos Macacos.
sim, ao menos mushoku tensei tem isso