Ficha Técnica: Domestic Girlfriend (Domestic na Kanojo)
Gênero: Drama, Romance
Estúdio: Diomedéa
Produção: Toshihiro Maeda, Hiroyuki Aoi, Youhei Itou
Origem: Mangá
Data de estreia: 12 de janeiro de 2019
Ouça: UNITEDcast #410 – Domestic na Kanojo
Domestic Girlfriend foi um verdadeiro hit lá em 2019, e o lembro até hoje como um dos animes mais dramáticos e emocionalmente carregados que já assisti, e o público em geral o lembra da mesma forma, e o que parecia ser um típico clichê romântico, foi além das fronteiras do convencional, e teve em seu mangá, um dos finais mais controversos e discutidos na Internet nos últimos anos.
E para começar, a temática de um triângulo não é algo novo em nenhuma extensão, e muito menos quando dois terços deste triângulo são irmãs, KissXsis já estava fazendo barulho anos antes com as gêmeas e seu “irmão”, já que o Keita foi um sortudo cujo pai se casou novamente e arrumou uma mulher com duas filhas, então, nada de errado aqui.
Só que KissXsis é uma comédia ecchi que cria as mais absurdas e hilárias situações, com um garoto que nasceu virado para a lua, tendo a sorte grande de ter à disposição duas mulheres que o desejam, e o poder do protagonismo simplesmente foi de foguete para o espaço. Domestic Girfriend já foi para uma toca muito carregada emocionalmente, até certo ponto, mais realista.
A obra começa logo de cara com dois adolescentes tendo um bom momento de intimidade, se é que você me entende, nada de anormal até agora. Até você descobrir que a Rui, a guria em questão, simplesmente queria umazinha e escolheu a Natsuo sem mesmo conhecê-lo. A coisa avança tão rápido, que ambos saberiam que se tornariam uma família não muito depois disso, já que a mãe dela se casa com o pai dele, daí o nome da obra, ‘domestic’.
Se as coisas já não tinham ido rápido o bastante para fritar os processadores, eis que Natsuo me vem com a revelação de que gostava de sua professora, Hina, que acontece por ser a irmã mais velha de Rui. O que temos aqui é uma bomba relógio armada para explodir a qualquer momento, e de fato, é o que ocorre durante toda a obra.
Voltando a comparar com KissXsis, onde ao menos o pai de um e a mãe das gêmeas estão casados há bastante tempo, e até estimulam o protagonista a tomar iniciativa para uma das duas, em Domestic Girlfriend a família é recém-criada e com um homem e duas mulheres com hormônios borbulhando e sex appel no talo, ou seja, temos um background perfeito para ser desastroso para todas as partes.
O que me prendeu de fato foi exatamente essa panela de pressão que é o enredo, e devo dizer, não são muitas obras que tem essa característica. 2019 foi a época de muitas comédias românticas que estavam em alta, como Kaguya-Sama: Love is War, e que abriram porta para uma miríade de animes do tipo, com grande humor e uma leveza no geral.
Domestic Girlfriend já começa com uma das aberturas mais bem boladas dos últimos anos, com Kawaki wo Ameku de Minami sendo tão intensa, que a cantora japonesa teve de tomar fôlego no meio da música por várias vezes, o que é audível a todos, e uma tensão constante entre as irmãs Tachibana. E a trama avança igualmente tensa com o desenrolar, o que acabou sendo o grande diferencial para outros animes de romance da época.
E quando no começo falei sobre uma tocada mais realista do que pode ocorrer quando um relacionamento a três existe, não era um exagero. Rui e Natsuo tentam disfarçar o rala e rola, como se nunca tivesse acontecido para o resto da família, e Natsuo tem de conviver com a professora de quem tanto gosta, vendo ela numa intimidade que aumenta a libido dele no ambiente.
Daí em diante, a bola de neve se tornou uma avalanche de situações que elevaram as tensões dentro de casa, quando Rui não se aguenta e voltava a ser a atacante do começo, e é óbvio que esconder tal coisa do resto do povo de casa vai se tornando um problema, até que Hina descobre tudo. E a intimidade de Hina também é revelada, quando ela aparece com outro relacionamento escuso na obra, quando ela estava namorando seu professor de faculdade, bem mais velho.
Temos então um aluno que cobiça sexualmente sua professora, que por sua vez, mantém um relacionamento com seu professor da faculdade. O avanço dos episódios é bom e mais fica claro de que a qualquer momento a bomba explodirá na cara de alguém, e em todo episódio algo fica claro para todos, e algum elo é fechado para a abertura de outro.
Natsuo chega a “pedir” para que seu pai divorcie, o entre aspas aqui fica muito explícito quando esse rolo todo fica complicado de se esconder numa casa cheia de pessoas, ainda mais sendo uma família. Este é o grande ponto de Domestic Girlfriend, e independente se você gostou ou não da resolução das tramas geradas na obra, principalmente no material-fonte dela, que é um dos mangás que mais gerou discussões por conta de seu final, há de se concordar que é o que manteve sua atenção no anime.
Apesar de que tenho que dizer, o avanço da trama é meio travado no começo, pois, com a família recém-criada, as aparências são mantidas até certo ponto, mas possui dinâmicas que chamam as tramas subsequentes. A obra usa bem do ecchi como forma de provocar as reações de Natsuo com as irmãs Tachibana, o que dá corpo para a obra e reações mais orgânicas para os personagens.
É que colocar um garoto em seus 16 anos com outra garota de sua idade, e uma mulher de 23 em seu auge de beleza, juntos sob o mesmo teto, e quem não possuem relação sanguínea (à parte das irmãs) não é das situações que se espere algo tranquilo. Óbvio que uma vai sentir ciúmes da outra, o protagonista se mete em uma sinuca de bico a cada episódio, a família quase é desfeita por conta disso, e mais interessante a obra vai ficando.
Os personagens dessa trama são bem orgânicos, e tem um desenvolvimento realmente conturbado. Rui não é alguém normal, já que chamar um cara desconhecido para um rala e rola do nada, não é algo que posso falar que seja comum em lugar nenhum. Hina é inocente ao ponto de parecer lesada em alguns pontos, e quando possui um forte pulso com responsabilidades, se coloca num ponto de hipocrisia, quando namora com seu professor durante a faculdade, e fica dando sopa para um aluno, que por mais que não seja tão mais novo, é moralmente complicado, para dizer o mínimo.
E o protagonista masculino, Natsuo, mais parece pensar com a cabeça de baixo do que com a de cima, além de ser outro que tem problemas em compreender certas coisas, o que o leva a tomar decisões muito esdrúxulas ao longo da obra. Não existe aqui uma figura que se salve, todos se colocam em situações absurdas, numa naturalidade que dá gosto de acompanhar, até por não ser algo voltado para o humor.
O final tem um desfecho que está no cesto de possibilidades, com Natsuo decidindo se envolver com sua professora NUM PASSEIO DA ESCOLA, como eu disse, aqui o espectador não se desprende por tédio. Mas foram descobertos numa investigação digna de CSI, com ambos sendo flagrados num zoom ridiculamente descoberto na foto feita para o passeio.
Por mais que não caiu no clichê de deixar o personagem em cima do muro, escolhendo entre cair num lago com jacarés ou no mato com cobras, eu senti que a trama ofuscou o principal, a persona de cada personagem principal. Ao longo dos episódios, personagens secundários são introduzidos para comporem o corpo da obra, mas não alteram muito a situação e as escolhas feitas como um todo.
Só podemos tirar conclusões de quem são os personagens por meio disso, e não são mostradas certas justificativas necessárias para compreendermos cada decisão, por ser algo autoexplicativo, ou por preguiça da autora. Sinto que faltou desenvolver mais os personagens para uma afirmação de quem são, além de simplesmente desenvolver as decisões deles.
O drama é bom, mas acaba sendo 8 ou 80, ou você passará por alguns momentos de raiva por conta da natureza das decisões e a falta de certas razões de serem o que são, e por conta da falta de uma melhor definição da personalidade dos personagens você abandona a obra, ou a carga emocional que dá para sentir no ar o prenderá na tela para assistir.
Konosuba tem algo interessante e semelhante em relação aos personagens, nenhum presta de verdade, todos ali têm algum defeito que os tornam interessantes, o que dá mais naturalidade e menos previsibilidade dos acontecimentos da obra.
A trama romântica acaba se destacando das demais, não seria estranho se fosse feito uma novela ou dorama de Domestic Girfriend, e a todo momento uma bomba estoura, o que não mata o espectador de tédio.
Notas
Animação: Não há anomalias, mas fiquei esperando certas coisas que a abertura mostrou com muitos detalhes, com um tom mais cinzento e tenso, mas cumpre o seu dever. Apesar de que tal trama merecia ter algo chamativo para um enredo igualmente chamativo. 6.5/10
Arte Gráfica: O design dos personagens é bem comum e não transmitem algo mais detalhado de suas personas, e facilmente pode ser confundido com outra obra, não que seja feio em qualquer medida, mas poderia ser algo mais memorável aqui. 5.5/10
Personagens e Enredo: O drama carregado aqui vale por 10 obras, e creio que foi mais bem trabalhado do que seus personagens em certa extensão. Os personagens funcionam bem nele, mas por conta da intensidade, certas coisas poderiam ter uma atenção melhor. 8.0/10
Trilha Sonora e Ambientação: Da abertura ao encerramento, o espectador é bem informado de como será a obra, apesar da trilha sonora ser interessante, não é algo brilhante. 7.0/10
Geral: A obra é um chamariz para o mangá? Diria que cumpre bem seu papel nisso, apesar da imensa frustração sobre a conclusão da obra. Mas ficou faltando certas coisas, que talvez uma segunda temporada faria bem, como ocorreu para Horimiya, que foi bem elogiado pelo avanço de seu romance, e Horimiya: Pieces concluiu certas coisas em aberto da primeira temporada. A trama chama a atenção, mas a falta de um design mais atrativo, e uma animação mais trabalhada, fora a falta de uma dublagem para nós no Brasil, pode ser que seja uma obra preterida por outras no mesmo gênero. 6.75
Veredito
Apesar da obra ter um enredo bastante dramático e bem interessante, não posso dizer a mesma coisa da animação e dos designs dos personagens. Não é por ser um romance com slice of life que a coisa não poderia ser melhor, Kaguya-Sama foi bem elogiado em ambos os quesitos, apesar de que a abertura mostrou ter mais persona do que o resto da animação.
O design dos personagens é bem convencional, imagine um personagem masculino de anime com cabelo curto e estatura mediana, e voilá, temos o Natsuo. Rui é a mais fria em suas expressões, não sendo muito diferente de outras personagens do mesmo tipo, como a Ichigo Morino de Onegai Sensei, e se você pesquisar a imagem de Hina por imagem, não se surpreenda em ver uma das irmãs de Overflow, a Ayane, como uma das referências.
Mas para ser justo, a caracterização casa com cada personagem apresentado, Rui sendo mais nova que Hina, tem bem menos corpo e curvas, o que mexe com a atração de Natsuo por vezes, e alguns diálogos surgem, mas não é uma obra que vai te cativar por conta da animação ou traços dos personagens.
A trama é o que mais se destaca, os episódios não são repetitivos e enjoativos, e evoluem bem, mas a falta de uma segunda temporada, ou uma melhor adaptação dos volumes nos doze episódios, é sentida aqui. A obra tem personalidade própria, não apresenta um roteiro comum, mas faltou em não colocar os ovos em outras cestas.
Se você se interessa por uma trama carregada de emoções, Domestic Girlfriend será uma boa adição, e como eu disse, será 8 ou 80. Por ser tão carregado, parte da trama acaba vindo ao espectador, e ou você toca o barco para o desfecho, ou passa raiva logo de cara. Há naturalidade e mais realismo do que em outras obras, mas faltou mais explicações sobre os personagens, para que ao menos pudéssemos entender suas decisões.
Mas a obra vale a pena, mesmo com defeitos que poderiam sofrer alguma interferência para tornar a obra ainda mais palatável ao público geral.
deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.