Nakitai Watashi wa Neko wo Kaburu é o filme que escolhi para analisar hoje e já devo dizer que foi uma grande experiência emocional, sobretudo ao comparar com todos os outros filmes que vi recentemente.
Produzido pelo Studio Colorido e lançado em 2020, esse filme também conhecido como “Olhos de Gato” tem pouco menos de duas horas de duração, mas consegue concentrar todo seu enredo e os altos e baixos durante cada momento até seu último segundo.
Sinopse:
A história original sobre encontrar o verdadeiro eu se passa em Tokoname, Aichi, e se concentra em Miyo “Muge” Sasaki. Ela é uma aluna peculiar do segundo ano do ensino médio que se apaixonou por seu colega de classe, Kento Hinode. Muge persegue Hinode resolutamente todos os dias, mas ele não a nota. No entanto, enquanto carrega um segredo que ela não pode contar a ninguém, Muge continua perseguindo Hinode. Muge descobre uma máscara mágica que permite que ela se transforme em um gato, chamado Tarō. A mágica permite que Muge se aproxime de Hinode, mas, eventualmente, também pode torná-la incapaz de se transformar de volta a um humano.
Falando agora da história, conhecemos Miyo (Muge) desde o início como uma garota alegre, extrovertida e que não tem nenhuma vergonha de expressar o que sente, ainda mais quando o assunto é seu amor por Hinode, também colega de sala. Para ela, todo o resto não passa de fantoches sem vida quando comparado ao que ela sente pelo garoto.
No entanto, por não ser correspondida, a garota recorre a um método mágico para conseguir passar todo o tempo com seu amado e conhecê-lo muito mais. Em determinado dia, ela conhece um vendedor de máscaras que oferece uma máscara de gato para ela que possuía um grande segredo: a capacidade de transformá-la em um gato sempre que quisesse. Ao descobrir essa possibilidade, Miyo decide sempre encontrar Hinode, transformada em gata, para se tornar quase que seu “animal de estimação” e estar sempre ao lado dele, recebendo carinhos e atenção.
Toda a atmosfera do longa é muito linda e leve, feita para te deixar à vontade, mas preocupado ao mesmo tempo. Ele te traz conforto e também um brilho nos olhos com as relações entre cada personagem. O filme se concentra, basicamente, na interação e nas reflexões de Miyo como um gato e como o interior dela é totalmente o oposto do que ela deixa transparecer.
Quando pequena, Miyo teve que enfrentar a separação de seus pais e, em consequência, o bullying sofrido na escola por ter sido “abandonada pela mãe”. Alguns anos depois ela ainda precisa se acostumar com a nova esposa de seu pai e, agora, com sua mãe tentando reivindicar sua guarda. Tudo em um furacão de emoções sem fim, ainda somado ao frequente bullying que continua sofrendo na escola pelo seu jeito de ser. O que ninguém sabe, no entanto, é que essa pessoa extrovertida não consegue exprimir tudo o que realmente sente e deixa todos os seus sentimentos acumulados dentro de si mesma. Seu único refúgio é o amor sentido por Hinode que não dá nenhuma atenção para ela como humana.
Assim, ao se aproximar dele como uma gata, Miyo descobre que eles possuem muito mais em comum do que ela imaginava. Porém, seu maior medo era que ele nunca gostasse dela como humana, principalmente quando descobrisse que ela era a sua gata esse tempo todo.
Dessa forma, o grande dilema de Miyo, enfatizado e provocado pelo vendedor de máscaras, era continuar vivendo e “sofrendo sem amor” como humana ou se tornar uma gata para sempre e nunca mais sair de perto de seu amado. Mas o que ela não percebeu é que, fora aqueles que praticavam o bullying, todos ao redor da garota a amam e tentam fazer de tudo para que ela se sinta bem, tanto sua amiga que sempre está lá por ela, quanto seu pai e a madrasta que tentam não a pressionar em todas as situações. São as experiências como gata que realmente irão abrir seus olhos, mas antes ela ainda tinha todos os seus sentimentos não resolvidos que foram sendo deixados de lado durante todo esse tempo.
Essa é a trama principal de Nakitai Watashi wa Neko wo Kaburu e, portanto, somos levados nesse mar de emoções de uma adolescente que vive sofrendo internamente e nunca deixa transparecer, mas que só quer ser amada. Seus questionamentos são dilemas até comuns para crianças da sua idade, o que justifica suas atitudes durante o filme.
Não que emoções de uma adolescente sejam irrelevantes ou devam ser minimizadas, muito pelo contrário, na história os sentimentos de Miyo e Hinode são extremamente acentuados e valorizados, ainda mais o amor de Miyo que eleva seu amado acima de tudo e todos, mesmo quando ele a faz passar por uma grande tristeza na frente da turma.
Inclusive, neste momento eu dei uma segurada para não chorar junto com ela, porque foi impactante. Ela se dedicou a demonstrar seu amor e tentar tirar um pouco de alegria de quem estava se sentindo para baixo, mas no final saiu rejeitada e assim começa o segundo ato do filme que vai descarrilar em uma enxurrada de acontecimentos e descobertas pessoais para cada personagem.
Sem querer dar muitos detalhes para não estragar ainda mais a experiência de quem for assistir, preciso começar a destacar todas as qualidades gerais do filme em si a partir de agora.
Como já estamos acostumados a perceber em muitos dos filmes animados japoneses, a qualidade da animação de “Olhos de Gato” é sensacional. Você consegue imergir e notar cada mínimo detalhe do cenário e das paisagens ao redor, juntamente com a excelente direção de arte e fotografia que acentua ainda mais as grandes belezas de design do filme. Nós conseguimos notar as emoções em cada foco de câmera nos olhos dos personagens, até mesmo na gata Miyo, com cortes precisos e belos durante cada transição excepcionalmente emocionante. Definitivamente esse é um dos filmes que existem para serem admirados e apreciados como um todo. Sem falar no enredo bem balanceado que não deixa nada passar e consegue se amarrar em todos os detalhes e também na trilha sonora extremamente precisa e bem selecionada que traz um excelente contraste para as emoções e ações de cada cena. Logo, não existe aqui nenhum defeito a ser apontado em Nakitai Watashi wa Neko wo Kaburu.
Quando paramos para entender a real mensagem desse filme, percebemos que ele tenta passar que não devemos deixar acumulado nossos sentimentos e fingir que está sempre tudo bem. Uma hora tudo vai estourar em um grande ressentimento com a vida e podemos nos arrepender pelas decisões tomadas baseadas nessas emoções fortes e passageiras. Muitas vezes o que vemos pelo nosso ponto de vista é apenas a parte mais superficial de toda a realidade. Miyo não queria mais ser humana porque não sentia o amor de ninguém, mas foi preciso olhar de outra perspectiva para que ela conseguisse entender que não era da forma que ela enxergava, era apenas os seus ressentimentos falando mais alto.
Por isso deixo aqui essa recomendação da vez, mesmo sabendo que muitos já devem ter assistido, mas, para aqueles que não conhecem: Nakitai Watashi wa Neko wo Kaburu vale muito uma chance. As emoções e a apreensão em cima de cada situação fazendo valer cada segundo dedicado apenas para assistir.
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