Mobile Suit Gundam Iron-Blooded Orphans certamente vigora entre as melhores obras envolvendo “mechas” que eu já vi na vida. O anime é muito rico, consegue construir personagens complexos e colocá-los em uma envelopagem cheia de tramas muito bem pensadas. A série mostra uma sociedade que não segue as regras da teoria da modernização. Gundam Iron-Blooded Orphans é bem categórico em colocar que processos de modernização econômicos não levam necessariamente a um ambiente democrático, tudo isso com uma trilha sonora impressionante.
Isso pode ser visto logo de cara pelo ambiente no qual Orga Itsuka e Mikazuki vivem. Eles são escravos que vivem em Marte, não tem autonomia e seu planeta é um quintal das elites econômicas da Terra. Por outro lado, temos Kudelia Aina Bernstein (ela poderia ter sido melhor explorada, diga-se de passagem, apesar de ser uma personagem que amplia muito os limites da trama) que é uma ativista política e resolve conhecer o lugar onde as crianças são escravizadas para ampliar a sua noção do universo e saber pelo que lutar.
Luta política
Como já tinha sido dito anteriormente, a Kudelia adiciona um grau de mobilização política para a trama, o anime consegue passar a importância não só dos discursos e também de uma construção política dos atos. A mídia também é retratada na trama e, apesar de parecer fazer um papel passivo e subserviente na maioria das vezes, ela é colocada como um fator decisivo nas mais diversas situações.
Falando em mobilização política, a ideia de uma luta contra um sistema palatável (sem ser aqueles sistemas absurdamente complexos e completamente definidos), neste anime, mostra que é possível uma mudança de estruturas através da luta política de atores contrassistêmicos. Neste anime é colocado de uma forma muito clara o discurso: “se existe uma força muito maior que a sua te oprimindo, te deixando sem nenhuma saída viável que não seja lutar, revidar não é simplesmente ser agressivo e sim uma forma de resistência, uma forma de seguir em frente”. Quando Orga e os outros órfãos reivindicam o fato de poderem existir com dignidade, eles estão resistindo na acepção mais básica do termo.
Além disso, apesar do anime não focar em romance, é importante relatar que a diversidade sexual é um ponto forte do anime que soube encaixar isso com muita naturalidade. Dois dos principais personagens da trama vivem um “trisal” e uma das cenas mais emocionantes do anime é a vivenciada entre Shino e Yamagi (vou parar por aí para evitar spoilers pesados).
Diversidade de temas
Um outro fator relevante é o equilíbrio entre mobile suits (robôs) e as naves deste mundo. Se em outros gundams os robôs destruíam naves com a maior facilidade, no mundo de Mobile Suit Gundam Iron-Blooded Orphans, as batalhas são mais parelhas, é muito difícil uma unidade garantir-se sozinha no cenário de batalha. Por outro lado, muitas outras questões são colocadas na mesa neste anime que discute política, questões sociais, modificação corporal e que tem uma influência muito forte do ciberpunk, principalmente no que refere-se a separação corpo e mente.
Se você gosta de animes de sci-fi, política, mechas o que tem como tema revoluções é indispensável que você veja esse anime que bota muitas tramas desses nichos no chinelo. Mobile Suit Gundam Iron-Blooded Orphans é um anime que tem uma trilha sonora alucinante, sempre continua em frente e reserva um lugar especial para o telespectador.
10/10
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