Bucchigire!!, dentre vários lançamentos há sempre os animes que naturalmente serão os mais visados, e aqueles que são ofuscados por estes, mas há no meio de tantos lançamentos aqueles que conseguem se destacar do resto com personalidade forte e visível, Bucchigire está entre estes. Mas Josué, é só mais um shounen, o que há de diferente em um gênero já tão saturado de opções? Simples, PERSONALIDADE PRÓPRIA! E eis aqui os motivos para você dar uma chance à Bucchigire!
Enredo original ao quadrado
Nas Primeiras Impressões que fiz sobre o anime aqui na Anime United, eu destaquei pontos da estória que já mostraram um diferencial nato, e olha, que não é sempre que vemos estórias neste molde, ela não foca simplesmente em um cara com uma capacidade incrivelmente desproporcional e centro de tudo, vai além disto. Um grupo de criminosos é reunido para o sacrifício como sentença de seus crimes, mas ganham uma nova chance na vida ao terem uma proposta para recomporem um grupo de samurais conhecidos como Shinsengumi (新選組 ou 新撰組) que lutam em defesa do imperador japonês. Ichibanboshi, Sakuya, Akira, Sogen, Suzuran, Gyataro e Bo aceitam a proposta de Heisuke Todo, o único membro vivo do Shinsengumi original, para entrarem numa missão contra um grupo de criminosos que não querem que o Japão, da era da restauração Meiji, se abra para o mundo, conhecidos como ‘demônios mascarados’. Até aqui pode não ter parecido um enredo tão diferente de um ‘Esquadrão Suicida’, onde bandidos se tornam num grupo contra os vilões, MAS, ele vai além disto. A estória de Bucchigire é um misto de fatos históricos do Japão do final do século 19 com contos folclóricos japoneses. Por exemplo, as espadas deste grupo de samurais são preenchidas com as almas de seus portadores originais, já que de acordo com o Bushido, o samurai e a espada e suas habilidades são um só, e com os recursos da animação, as espadas brilham e exalam as habilidades de seus portadores originais.
Já vimos a vários animes com o tema, como Samurai Shamploo, mas quantos deles são originais de fábrica e não adaptações? Poucos, e ainda menos uma obra que pega fatos e os converte em estórias sem corromper os fatos. Por exemplo, os sete samurais substitutos mostrados como os personagens centrais, todos eles são equivalentes da história japonesa. Ichibanboshi representa Kondō Isami, Sakuya representa Hijikata Toshizo, Akira representa Souji Okita, Sogen representa Keisuke Yamanami, Suzuran representa Hajime Saitou, Gyataro representa Shinpachi Nagakura e Bo representa Harada Sanosuke. Todos os sete personagens fictícios da obra carregam detalhes de sua personalidade, representação histórica, importância de seus equivalentes da vida real em algum relevo, exemplo disso é Akira, que apesar de ser mulher substituindo um homem, assim como seu equivalente real ela vem de uma família de samurais com um dojô e é uma exímia espadachim. Sendo uma animação original, eles tiveram que elevar a criatividade a um outro patamar, e usando referenciais do mundo real foi uma sacada de mestre, não somente fizeram bons personagens com algum relevo, como os encaixaram numa estória equivalente com boas doses de ficção e folclore japonês a níveis bem dosados. Mas para saber da trama, precisamos ver quem são as personas dessa estória que são igualmente bem feitos.
Personagens com persona
Ichibanboshi é o pivô de Bucchigire, ele é o primeiro personagem a ser mostrado, e é mostrado que ele perde a família, ou pelo menos é o que ele achava que tinha acontecido, pois com o passar da estória se sabe que seu irmão mais novo, Tsukito, ainda era vivo e ele tinha matado sua mãe, Ichibanboshi escapou ao ser jogado num rio durante a ação, e cresceu achando que os samurais tinham matado sua família, quando que na realidade eram os “demônios mascarados”, dessa forma ele cresce como um antagonista dos samurais, e é preso logo de cara no primeiro episódio, ele é impulsivo como Naruto, estourado como Edward Elric, ele é motivado por conta própria, sempre pra frente, une valores como poucos e acaba sendo o personagem central. Sakuya veio de uma família de samurais e também perde sua família só que, ele mata o próprio pai que estava agredindo a sua esposa, ele o mata e logo em seguida sua mãe se mata por conta do ocorrido, e com isso acaba se unindo a um grupo de assassinos profissionais, ele é frio como um Sasuke da vida, mas não inconsequente com amplo conhecimento do bem e do mal, ele não hesita em matar àqueles que na sua visão precisam ser neutralizados, por conta disso foi preso e introduzido na estória. Akira nasceu também em uma família de samurais, mas descobriu ainda criança que seus pais queriam um filho, não uma filha, e que fosse um filho com dotes para cuidar do dojô da família, ela então tratou de ser um samurai competente, mas seus pais ainda não estavam satisfeitos, então abandonou sua família se disfarçando de homem para ser aceita como samurai. Sogen é um cientista maluco que é obcecado pela origem das coisas, e tem amplos conhecimentos médicos e de ciência em geral, o louco entra por dissecar pessoas sem um pingo de peso moral no que está fazendo, sendo preso por isso, sempre apto a descobrir o porquê das coisas. Suzuran é um religioso, inicialmente era monge, mas conhece como poucos a fé das pessoas, ajudando inclusive a cristãos a terem sua fé numa época onde era proibido, sendo descoberto e preso por isso, apesar da origem budista, é conhecido por ser um monge saliente. Gyataro é criminoso de fichinha, sempre andando em gangues por Kyoto, rouba e nem vê, mas “ajuda” a menores abandonados pelas ruas, “ajuda” pois se por um lado ele dá comida e abrigo, ele os ensina a serem criminosos, por isso sendo preso. Bo é uma figura peculiar por si só, é grande como uma montanha e forte como uma tempestade, mas tem bom coração e um apetite irracional, foi preso pegando comidas dos outros.
Cada um aqui tem um caráter diferenciado, cada um tem sua importância e participação no enredo, ninguém aqui citado é inútil, não somem para de repente brotarem do nada, até por quê em 12 episódios não há tempo hábil pra isto, mas cada um tem sua vida e visão de mundo apresentados durante os 12 episódios da série. Com toda a certeza é um outro ponto positivo para a obra, que sendo original, não poderia desperdiçar absolutamente nada de seu conteúdo, tendo que partir pra cima com tudo que podiam, a se demonstrar pelos bons personagens formulados, que por mais que tenham inspirações claras em outros personagens que detalhei anteriormente, tem personalidades sólidas e bem definidas e aproveitadas. Por mais que Ichibanboshi seja o ponto central, o roteiro não gira entorno dele somente, a sensação que tenho ao ver os episódios é que todos os personagens estão devidamente apresentados igualmente, não tendo um personagem só ganhando espaço nas cenas, mas unindo todos juntos com suas peculiaridades e personalidades distintas de uma forma que te convida para assistir. E falando da obra em si, e as várias referências de outras histórias, as pessoas por trás dela mostram muito da obra em si.
Por trás da obra
Nas minhas Primeiras Impressões, uma das primeiras coisas que notei são as coisas flutuando na obra, as referências, o estilo artístico de roteiro e animação, a música, tudo tem um motivo de me ser familiar, Yasuharu Takanashi é um dos compositores de animes mais consagrados do Japão, fez Naruto, Fairy Tail e outras obras conhecidas do grande público, e as músicas aqui são fenomenais, agregam bastante no clima do anime. E agregar é a palavra-chave aqui, Tetsuo Hirakawa foi o responsável por dar vida à Bucchigire, ele foi um dos responsáveis por montar algumas das cenas de Jujutsu Kaisen, bem visível nas cenas de luta absurdamente bem montadas e com personalidade, além de também ser o roteirista da obra. Masafumi Yokota tratou de fazer os personagens, e se algum design te lembra algum personagem, o cara simplesmente trabalhou em Os Sete Pecados Capitais (Nanatzu no Taizai), Neon Genesis Evangelion 2.0.
Hiroyuki Takei autor de Shaman King é outra figura chave na animação original, que também participou do roteiro e criação dos personagens, ou seja, um bolo de nomes bem graúdos dos animes que fizeram um trabalho do 0 com grande qualidade, desde a animação até a música tem uma personalidade marcante, como poucos animes tem a oportunidade de ter.
Eu sempre em minhas análises destaco a personalidade, pois sem ela nada se destaca, nada se é lembrado e marcado em nossas memórias, quantos animes não vimos ao longo da vida e quantos são aqueles que de fato lembramos? Poucos e quando lembramos são de detalhes como este, como a trilha sonora, a arte gráfica, das cenas que marcam a estória, de personagens importantes ou com alguma relevância no enredo, e este anime esbanja personalidade, e mesmo usando de bases conhecidas por conta das pessoas que compõe a obra, ela consegue ser diferente do habitual.
Animação com vida
A animação em si é fruto resultante de tudo destacado anteriormente, algo que reclamo da maioria das animações é o quão genéricas elas tendem a ser, as vezes para corte de gastos, mas as vezes usando de recursos que não chamam a atenção do espectador, Bucchigire usa bem dos recursos disponíveis para se destacar, chamando a atenção para a estória em si. Cada personagem é um personagem diferente, tendo seu próprio design que reflete a personalidade e sua capacidade na estória, as expressões de cada um também são únicas, o que significa? Você não estará olhando para um bando de papelão repetido e sem personalidade, e sim para personagens que esbanjam vida. O cenário também se destaca, se inspirando diretamente no Japão do final do século 19, das roupas até as construções casam com a proposta da animação e são muito bem feitos, mesmo que não fosse dublado e as legendas sempre atrapalhando a vista, você não acha defeitos na animação e nos traços gráficos da obra, ela é constantemente boa do primeiro ao último episódio.
Expectativas atendidas?
Com toda certeza, se tem fãs por aí fazendo petição pra refazer o anime do 0 por vir de um conteúdo já feito,por outro lado, Bucchigire sendo um anime original se apresentou bem no primeiro episódio ao mostrar seus personagens e seu objetivo de estória, e ele seguiu os episódios seguintes com grande consistência e qualidade. Sempre é complicado analisar o que esperar de um anime no primeiro episódio somente, pois o que tem de exemplo de animes que ficaram mirrados e chatos de se acompanhar para depois do primeiro episódio, Bucchigire entrega uma estória que se desenvolve de maneira direta e alcança os objetivos propostos, mostra seus personagens e os usa bem durante os episódios e cada episódio te chama para o próximo. É um tipo raro de anime que tem em cada episódio um motivo para assistir a obra, a quantidade com o conteúdo que tem até poderia ser maior do que meros 12 episódios, mas a obra é direta e não enrola, só vejo bons motivos para se acompanhar Bucchigire!
Notas
Animação: Um dos grandes diferenciais é sua animação de grande qualidade, as cenas de luta são fenomenalmente bem feitas, os personagens em si têm vida assim como os cenários onde a ação ocorre, mas mesmo outras cenas mais paradas ela é constantemente bem feita, não há anomalias aqui e o nível do todo aqui é visivelmente superior a outras obras. 10/10
Arte Gráfica: O que fazer quando você é novo na praça e quer ter relevância? Faça o básico direito e tenha algo para se destacar do resto, e se tem uma coisa que isto é visível é a arte, o design dos personagens, dos cenários, as cores usadas, os traços escolhidos, o estilo proposto com o enredo, e nisso Bucchigire faz muito bem, enquanto muitos são genéricos, se você bater o olho Bucchigire você sabe bem o que ele é e o que tem. 9/10
Personagens e Enredo: Não diria que é espetacular, mas diria que é muito bem montado, a estória mistura fatos históricos com ficção de maneira impecável, personagens com caráter bem definido e com características que não se repetem, só que é visivelmente uma estória mais acelerada no ritmo, poderiam explorar mais os personagens e dar mais tempo para conteúdo, mas ao menos tem começo, meio e fim. 8.5/10
Trilha Sonora: Nunca é fácil transmitir o significado de uma obra por sua trilha sonora, sendo mais simples e fácil comprar já prontas e usar nos episódios, mas em Bucchigire isso não existe, a música é um elemento chave na imersão da obra, casa bem com a animação, estória, personagens, unindo o estilo de músicas bem enraizadas da cultura japonesa com uma mistura que só os japoneses são capazes de fazer, e se sua obra tem uma abertura e encerramento feitos especialmente para ela, é que algo de diferente sua obra tem. 10/10
Nota:8.6/10
Visão Geral
A animação como um todo tem uma tocada de todos os animes que víamos na TV no começo dos anos 2000, Naruto, Full Metal Alchemist, Samurai Champloo, a trilha sonora impactante e de qualidade que te imerge na obra, uma animação diferenciada e de muita qualidade que dá destaque aos seus personagens e a ação, mas ao invés de tentar modernizar o shounen, como aqueles carros que as fabricantes resgatam e lançam uma nova geração e tentam emular a personalidade e importância, como o novo Fusca, eles simplesmente continuaram a usar uma boa fórmula de maneira em que o conceito foi bem polido e bem usado. A estória é direta e bem montada, a qualidade da animação é de visível qualidade, todas as peças aqui se encaixam e se diferenciam de outros animes com tranquilidade. Pode não ser tão conhecido por não ser uma adaptação, pode não ter a mídia de Sono Bisque Doll ou Spy x Family, mas como eles, esbanja personalidade e qualidade!
Indicações
Bucchigire tem ação em boa dose, tem comédia, tem suspense, tem um folclore e fatos na medida certa, e é simplesmente bom no que apresenta ser, pois usa de bases bem conhecidas do grande público a sua própria forma e gosto a ponto de se diferenciar do resto, é algo novo no mercado e se apresenta assim. Se você quer algo diferenciado para assistir, que não seja maçante de tão chato e clichê de tão batido, Bucchigire é um anime que eu recomendo para você, pois tenho a certeza de que mesmo se você não gostar por não ser do seu gosto pessoal, não é um anime que te deixará na mão com decepções, ele é constante e consistente no que mostra ser.
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