O Futuro dos Animes – Parte 2 Propaganda, dublagem, transmissão ampla, a fórmula para o sucesso dos animes no Ocidente!

Josué Fraga Costa
(Redator)
Anime United
©Anime United

Leia também: Animações curtas – Um tiro no pé da Crunchyroll

Os animes estão em alta no mundo, e por diversas vezes eu trouxe os motivos por trás disto, mas agora a discussão é, o que será do mercado de animações por aqui? Em janeiro, trouxemos aqui na Anime United uma informação sobre a insatisfação de produtoras japonesas com a Crunchyroll por conta da péssima gestão que a plataforma de animes de propriedade da Sony vem tendo.

Não somente isto está dando olhares para as situações grotescas que estão ocorrendo lá desde a fusão com a Funimation, mas estão colocando à discussão sobre certas dinâmicas que as plataformas de streaming terão de se sujeitar para terem sucesso com o crescimento na demanda por animações japonesas.

E aqui vale notar algo, que é o primeiro detalhe fundamental para quem for trazer animes para o mercado ocidental. Os animes japoneses não são somente animações como os cartoons do Ocidente, geralmente voltados para um público infantil, e sim parte vital da programação na televisão aberta e paga do Japão, sendo obras que passam em horários nobres para uma ampla gama de expectadores, e precisam de melhor atenção nestes detalhes.

Propaganda

Bocchi the Rock!
©Bocchi the Rock!

E ainda tratam animes como sendo algo infantil e divulgam como tal, o que simplesmente não gera engajamento para fora da bolha dos fãs, que por sua vez, não atraem mais público, e não traz renda para a plataforma. Animes são consumidos por adultos, jovens, adolescentes, até mesmo idosos, e tratá-lo como os cartoons, não funciona.

Para tal, as plataformas precisam divulgar mais das obras que estão e estarão em seu portfólio, ou então, não terão lucro e relevância para com o público, e as donas destas obras se colocarão no direito de procurarem outros lugares para que sua obra tenha o destaque que mereça. Trabalho como assessor e redator aqui na Anime United virtualmente, e no esporte a motor no mundo real, e como feito mais recente, pudemos trazer para vocês textos especiais sobre a Shonen West, para que você conheça mais sobre seus trabalhos aqui no Brasil.

Sendo uma mão lavando a outra, nós divulgamos o trabalho deles, e seus assinantes acessam nosso site, e assim vamos crescendo juntos. E não vejo em lugar nenhum as plataformas fazendo algo semelhante, trazendo entrevistas especiais com autores, algum conteúdo especial sobre uma obra em específico, tão pouco, teaser trailers de suas obras sendo compartilhadas em propagandas no YouTube, Facebook e por aí vai. Outro dia assisti a True Beauty, anime baseado no drama sul-coreano de mesmo nome, disponível na Crunchyroll dublado, mas lançado no meio de uma temporada de animes, sem nenhuma cerimônia, e isso precisa mudar para ontem.

True Beauty
©True Beauty

Sem que haja tal divulgação, como você espera que os seus próprios usuários conheçam do que está passando em sua plataforma, ou mesmo, fazer com que as pessoas assinem por conta de suas obras? Eu não vejo trailers sendo lançados em stories, em propagandas nas redes sociais, enquanto isso, até comercial de utilitário elétrico eu já pude ver no Facebook, mas nunca de anime algum.

E propaganda é algo que os japoneses levam bastante a sério, e se não tem comercial e chamadas por aí que informem que um anime será transmitido, pode ter certeza, irá fracassar memoravelmente. Quando a Shueisha, Kodansha, e outras reclamaram, foi principalmente neste quesito, já que o anime é parte de um todo na gama de produtos, já que as adaptações vêm de mangás, novels, light novels e webnovels, e até mesmo de jogos, isso quando estas obras não geram outros produtos, desde merchandising, a obras derivadas.

E quando uma obra simplesmente passa batido por um público que vai se tornando maior, no caso do ocidente, todo o resto vai sendo perdido e gerando dividas enormes, o que ninguém realmente quer. Na outra mão, é fácil ver até na televisão aberta comerciais da Netflix, Amazon Prime Video e Disney Plus, mas nunca dos animes que são transmitidos nelas. É inaceitável ver que uma das maiores franquias dos animes, que fez um retorno triunfal no mercado, que é Bleach, estar escondido na Disney sem a audiência que tem no Japão.

Dublagem e disponibilidade

Bleach: Thousand-Year Blood War Part 3
©Bleach: Thousand-Year Blood War Part 3

Já fiz textos sobre a importância da dublagem, e o quanto que ela aumenta o público de uma obra, além de mostrar uma atenção ao mercado. E tenho que trazer uns números interessantes, na última temporada foram lançados 36 animes, destes, trouxemos as primeiras impressões de 21. Chutem por baixo quantos destes foram dublados, e aposto que a quantidade é menor. Sakamoto Days (Netflix), Medalist (Disney+), My Happy Marriage: 2ª temporada (Netflix), Solo Leveling: 2ª temporada (Crunchyroll), e Dr. Stone: Science Future (Amazon Prime Video).

Eu trouxe a mesma quantidade de Primeiras Impressões, é ridiculamente pouco, e não tem como alcançar mais pessoas se esta for a quantidade de obras direcionadas em nosso mercado. Repare que a Netflix tem trazido mais obras dubladas do que a Crunchyroll, sendo ela exclusiva de animes, deveria trazer muito mais.

E se tem uma coisa que é muito de bolha, são os animes e mangás japoneses, e olha que sendo do esporte, eu posso falar que há bolhas que estouram mais facilmente em certas épocas, do que animes terem permeio em outros públicos.

Watashi no Shiawase na Kekkon
©Watashi no Shiawase na Kekkon

Sem que haja simudub generalizado, incluindo obras menos conhecidas e com bem menos aguardo, esqueça até mesmo a ideia de trazer estes animes para cá, e poupe uma grana valiosa para outros investimentos. Medalist, por exemplo, pude trazer a obra para uma Primeira Impressão e acompanhei desde então, apesar de não estar na minha lista de observações, tem me surpreendido, enquanto que Aquarion, só vi o primeiro episódio e não toquei mais na obra.

E como eu disse anteriormente, animes são parte de um todo, sendo o elo de maior visualização de disponibilidade ao público, como todo conteúdo audiovisual. E há animes por aí que sequer estão disponíveis em nosso país, nem mesmo em outros mercados mais graúdos, como Boku no Kokoro no Yabai Yatsu, e que fizeram sucesso na Terra do Sol Nascente.

Os japoneses têm obras das mais variadas, e tem umas que sequer temos a oportunidade de conhecer, pois os direitos não estão disponíveis para nós, e ainda querem combater a pirataria, sendo que a principal razão dela existir, depois dos preços proibitivos, é exatamente sua disponibilidade. Ora, ainda perguntam por que as produtoras japonesas não estão satisfeitas, dona Crunchyroll?

Pulverização dos direitos de transmissão

Boku no Kokoro no Yabai Yatsu
©Boku no Kokoro no Yabai Yatsu

O futebol aqui ficou simplesmente uma maravilha de assistir, hoje, qualquer emissora da televisão aberta ou canal no YouTube tem algum campeonato para assistir, seja nacional, continental, ou internacional, por que se tornou inviável financeiramente de manter algo exclusivo, a Globo que o diga, teve de engolir seco compartilhar a Libertadores da América com a Disney, fora os 3 anos sem a competição na aberta, vendo o SBT ter bons números de audiência.

Nem a F1 é exclusiva mais, a Band transmite na aberta, e a categoria do esporte a motor disponibiliza um streaming pago cheio de conteúdo exclusivo, fora a transmissão ao vivo das sessões. A mesma coisa será daqui para frente com os animes, como foi o caso de DanDaDan, sendo transmitido na Netflix e Crunchroll, que causou uma das maiores esquisitices, já que ao invés de compartilharem a dublagem, resolveram fazer cada uma a sua própria versão.

Uma das novidades trazidas com a fusão entre a Discovery Channel e Warner Bros, foi a decisão da liderança em abrir mão da exclusividade de muitos dos seus próprios conteúdos, e não sobras quaisquer, Liga da Justiça está na Netflix, por exemplo. Eu entendo, trazer uma obra que esteja só em sua plataforma, é uma forma de atrair novos assinantes, mas isso não funciona com animes.

Dandadan
©Dandadan

Repito, Bleach é exclusivo da Disney, e quem disse que explodiu de sucesso? Nem mesmo os americanos ficaram sabendo de tal coisa, a terra de onde se propaga de tudo, e que em sua primeira passagem por lá, recebeu dublagem e foi sucesso entre os fãs de animes.

Quem é fã de anime, não vai pagar uma plataforma ampla só para ver uma única coisa, e a Netflix está vendo isto, e trazendo mais animes do que nunca.

Precisamos de mais concorrência de mercado para uma ampla demanda, mas principalmente, mais animes compartilhados do que exclusivos, para alcançarem mais público do que o convencional. Saber que tem obras graúdas por aí que sequer tem serviço em nosso país, e que outras estão no mar do esquecimento de um servidor qualquer, é muito ruim, pois não valoriza a área.

Conclusão

Sousou no Frieren
©Sousou no Frieren

Isto vale para todos, e não falo de achismo, animes são assim como futebol, automobilismo, séries e filmes, conteúdo audiovisual de transmissão em massa, e segue de tabela a certas dinâmicas quando se trata de transmissão. Veja que Record e Globo transmitirão o Brasileirão de maneira compartilhada, com cada uma trazendo uma gama de times diferentes, e transmitindo apenas jogos de times mandantes de cada liga feita.

A Stock Car Pro Series passa no YouTube dela, da Motorsport Brasil, Band na televisão aberta, SporTV na fechada, pulverizando seus direitos de transmissão para uma audiência muito ampla, tendo comerciais sobre seus eventos em todos os lugares, e isso precisa ocorrer com os animes. Somente uma placa num prédio do Rio de Janeiro sobre Jujutsu Kaisen não é o bastante.

Precisamos de mais obras dubladas e disponíveis em nosso mercado, sem isso, esqueça qualquer vislumbre de sucesso. Sakamoto Days foi um sucesso, sendo uma das mídias de língua não-inglesa mais vista em sua semana de lançamento, pela Netflix. Mostrando pôr a+b que a dublagem faz sim todo o sentido comercial para o sucesso de uma obra, e só não vê isso quem teima em negar a realidade.

Jujutsu Kaisen
©Jujutsu Kaisen

Os animes estão com mais moral do que nunca, me arrisco a dizer que estão mais em alta do que quando chegaram para nós nos anos 80, pois a disponibilidade é muito grande, e não tem mais nada que sobre para falar no Ocidente, com exceção de raríssimas obras.

Mas pouco se vê propagandas nos mais variados meios de mídia, e é hora de ver que a Internet pela primeira vez na história passou a televisão aberta em anúncios e receita bruta. Onde estão os animes nisso? Estou no meio de imprensa sobre cultura japonesa há quase 3 anos, e quase nunca vi comerciais de episódios anexados em vídeos no YouTube, patrocinados no Facebook, e por aí vai.

Olhem quantos canais além da Anime United transmitem a cultura japonesa por meio dos animes, mangás e jogos, e quase nunca vejo uma Crunchyroll da vida patrocinando canais e vinculando anúncios, e querem ter sucesso como? Enquanto que empresas das mais diversas, como a Insider, estão patrocinando a torto e a direito, vendo a audiência destes canais. Ou a coisa muda, ou esqueçam do sucesso por aqui.


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