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Na mesma intensidade que os japoneses podem ser pervertidos, eles também conseguem criar obras que mexem lá no fundo do nosso emocional. E não é por acaso que deixo aqui essa afirmação, pois todos presenciamos os diversos longa-metragens, animados, produzidos por eles que deixam qualquer um com o coração em pedaços.
Look Back (recém disponível em alguns streamings) é um desses exemplos e que possui tamanha junção de qualidades que até está cotado para indicação ao Oscar de melhor animação. Produzido pelo Studio DURIAN (Heikousen; Attack Zero x Evangelion; Shishigari) e lançado em junho deste ano, o longa é baseado em um mangá one-shot publicado por Tatsuki Fujimoto (Fire Punch; Chainsaw Man), em 2021.
Sinopse:
A aluna da quarta série, Ayumu Fujino, desenha regularmente mangás de quatro painéis para o jornal da escola e é elogiada por ter as melhores obras de arte de sua classe. Um dia, seu professor pede que ela dê um de seus espaços de mangá no jornal da escola para um aluno ausente chamado Kyomoto. Quando o mangá de Kyomoto aparece ao lado do de Fujino, ele recebe muitos elogios por suas ilustrações detalhadas, deixando Fujino com ciúmes. Fujino se recusa a ser derrotada por alguém que mal vai à escola e se dedica a aprender a criar mangás. Porém, com o passar do tempo, seu objetivo de eclipsar Kyomoto parece cada vez mais distante, e Fujino, agora na sexta série, acaba desistindo e parando de fazer mangá. Chega o dia da formatura e Fujino é solicitada a entregar seu certificado de graduação a Kyomoto. Por acaso, os dois acabam se encontrando cara a cara, e o encontro inesperado acabará tendo consequências muito além do que qualquer um deles poderia prever.
Agora falando um pouco mais sobre essa obra, podemos refletir sobre as suas diversas nuances de superação. Tentarei não dar nenhum spoiler, mas é bom entendermos que o sentimento básico trabalhado ali é justamente esse. Quando nos sentimos em um momento como o centro das atenções e logo depois outra pessoa toma o “nosso lugar” e passamos a nos sentir rejeitados, mas a real é que muitas dessas vezes o que precisamos é entender que todos possuem seu momento de brilhar e se superarmos nossas frustrações, podemos alcançar a paz de espírito e seguir em frente muito mais rápido.
Fujino é a nossa “personagem principal” (afinal quase todo o filme é pela sua perspectiva) e é ela quem vai nos guiar por essas zonas de desconforto que a própria vive. No entanto, ela é apenas uma adolescente que descobre uma parte da vida que ela não sabia que existia: dividir com alguém um mesmo sentimento. E não estamos aqui falando de romance ou amizade, pois o longa não se limita nessas explicações, mas sim sobre descobrir uma pessoa que compartilha de uma paixão igual a nossa, que no caso de Fujino e Kyomoto é pela arte.
São duas dolescentes que se conhecem por um grande acaso e superam seus medos e frustrações juntas, evoluindo e se tornando pessoas melhores e ainda mais talentosas. Esse crescimento de ambas é mostrado de uma maneira muito breve, mas ainda deixa uma marca profunda que nos afeta a partir do ponto em que tudo desmorona.
E sim, existe um momento de aperto no coração, pois essa é uma animação japonesa e é quase uma regra quebrar seu público emocionalmente. Porém, logo depois, como se quisesse nos confortar de alguma maneira, é como se a protagonista olhasse para trás e tudo o que viveu se transformasse em uma vida diferente por conta de uma única mudança no destino. Ainda assim, nossas expectativas são mais uma vez frustradas e esse momento de conforto acaba, voltando para o mundo real e mostrando que a única forma de superar é mesmo seguir em frente, pois não adianta mais olhar para trás e imaginar como tudo poderia acontecer, a vida continua.
Esse longa-metragem, com uma trilha sonora perfeitamente balanceada com sua fotografia esplêndida, cenários belíssimos e seu design de animação muito característico, traz um mix de emoções que absorvemos a cada frame e ingerimos por completo logo em seus últimos minutos, quando a noite chega, o trabalho termina e a luz se apaga. Ficamos extasiados com sua narrativa e com todos os elementos dispostos por todo o período de tempo de quase uma hora, algo que se concentra fundamentalmente nessa jornada emocional pela busca da identidade, superação de medos e angústias, arrependimentos e uma conexão com o outro. Mas, acima de tudo, traz uma reflexão do “eu” e da “arte”.
A principal mensagem de Look Back gira em torno do poder da arte como uma forma de expressão pessoal, e como ela pode servir como um veículo para o autoconhecimento e para o entendimento das nossas próprias emoções e experiências. O filme explora como a arte pode ajudar a lidar com perdas e traumas, e como ela pode criar vínculos entre pessoas que compartilham as mesmas inquietações.
Nossas protagonistas, em momentos de vida diferentes, buscam entender o que significa realmente “olhar para trás“, sendo assim refletir sobre o passado e como ele nos molda. Em determinadas situações elas acabam se superando e chegando a suas próprias conclusões, mas não antes de entender seus próprios traumas.
Dessa maneira, podemos tirar muitas reflexões importantes dessa obra maravilhosa de Tatsuki Fujimoto que, finalmente, viu a luz do dia em uma gloriosa adaptação animada, mostrando que o sucesso de Chainsaw Man não se limita apenas em si, pois seu autor é mesmo um grande exemplo de criador de histórias brilhantes e extremamente reflexivas. Não é à toa que Look Back está sendo cotado para concorrer ao Óscar.
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