A guerra cultural aos animes e mangás – Parte 2 Os tentáculos da censura

E cá estamos uma vez mais falando de censura, será que essa turma que deseja “proteger” os outros realmente está querendo proteger? Ou estão usando como desculpa para algo muito maior? Ó dúvida cruel! Outro dia, a Anime United soltou uma matéria informando sobre uma censura que Assassination Classroom sofreu nos EUA recentemente, a censura foi feita alegando que a obra poderia ser um mau exemplo para os infantis por conta do tema que o mesmo aborda e ainda fazendo alelo a ti***eiros nas escolas por lá (leia a matéria aqui).

E se fazer alelo da estória com um crime já não seria um absurdo descomunal o suficiente, ainda estão com a ideia de que o mangá é má influência e tem um conteúdo “problemático”, o que é um pulo para que outros mangás sejam igualmente censurados e erroneamente taxados de algo cri**noso e que este tipo de mídia seja lançada ao ostracismo, pois abre algo que é conhecido no meio jurídico como precedente, ou seja, dá a oportunidade que o mesmo ato ocorra com seus semelhantes.

E se isso já não seria ruim o bastante, já que afeta tanto quem já consome mangás, quanto novos leitores e consumidores pares à área, o nosso Brasil varonil insiste em importar exemplos ruins, já que infelizmente, ti***eiros em escolas também ocorreram por aqui, e um deputado federal propôs que “jogos eletrônicos com conteúdo violento sejam suspensos temporariamente no Brasil por 30 dias”, repetindo o mesmo alelo que fizeram nos EUA entre mangás e crim**. E este texto destrinchará os tentáculos que a censura toca.

O motivo da censura, a mídia e os representantes do povo

Já adianto algo fundamental, tudo isto que está acontecendo faz parte da guerra cultural, que já abordei no primeiro texto da saga (leia-o aqui) onde eu explano mais a questão do que é a cultura em si, lembrando de trechos que citei: “atacando a cultura, ataca-se tudo o que a ela pertence” e “atacando este meio de mídia, elimina-se a concorrência”. E pelos exemplos que dei em meu preâmbulo, isto se torna ainda mais visível e fácil de ser identificado quando abordamos o assunto, mas a primeira questão que eu faço para você caro leitor é a seguinte, censurar conteúdos acabaria com a violência nas escolas?

A resposta fica a cargo de vocês nos comentários, mas quero mostrar a vós sobre minha parte, pois vivi uma vida escolar infernal, onde eu sofria bullying a torto e direito, e acontecia duas dinâmicas em todas elas, uma era a impunidade, pois vários foram os professores que não mexiam um dedo para me ajudar e repreender os valentões que me agrediam, xingavam, humilhavam e depredavam meus materiais escolares, a outra era a falta de apoio que não tive nas escolas ao sofrer várias violências, ou me chamavam de fresco, ou de ator, me acusavam de me vitimizar e de até ser o culpado, vejam só, de sofrer a violência que eu sofria.

Sabe o que me diferencia do cara de realengo em 2008 ou de qualquer outro que tenha cometido alguma violência justificando bullying? Tive dois pais que me protegiam em casa e me ensinavam no que era verdadeiramente necessário para superar tudo isto, e que delimitavam tudo aquilo que teria acesso ou não, inclusive aos animes, tempo de TV e etc.

O ambiente escolar tem se tornado um formador de potenciais criminosos, pois os valentões não sofrem reprimendas e fica por isso mesmo, e quem sofre violência não tem nenhum tipo de acompanhamento, e logo fazem besteiras por aí. E tentam jogar a culpa novamente na conta dos games e dos mangás, confirmando meu pensamento do primeiro do texto, querem fazer de tudo para que estes meios de mídia e entretenimento sejam esculachados pela opinião das massas para um objetivo, CONTROLE.

Pensem um pouco com mais uma pergunta, há alguma conexão real entre os cr**es e estas mídias? Comprovadamente que não, inclusive no caso de Blumenau, o cri**noso tinha várias passagens pela polícia e estava solto, não precisa ser um Einstein pra ligar os pontos e ver o que causou a tragédia por lá, IMPUNIDADE, mas não é de interesse para a mídia falar disto, pois não é a impunidade que está tirando a audiência da TV e transferindo nos animes e nos jogos.

Mas e no caso dos EUA, Josué? Você me pergunta, bem, você sabia que lá, as escolas são zonas livre de armas? Ou seja, se um cri**noso querer cometer algo por lá, não terá nada e ninguém para se proteger dele, é a+b=c, duvido muito que um cri**noso teria tempo para ficar jogando, pois a qualquer momento a polícia poderia prendê-lo ou um cri**noso inimigo poderia mat**-lo.

Usam os games, mangás, animes, filmes e documentários como bodes expiatórios, onde a culpa de tudo é jogada para cima deles exatamente por conta da guerra cultural que é constante em todos os lugares do mundo desde que o mundo é mundo, saibam disto, principalmente quando alguma cultura estrangeira está dominando a sua, ou você acha que a China limita a visualização a trinta filmes estrangeiros por ano em seu país atoa?

Tampouco para valorizar a cultura local, e sim para controle da população e do que ela pode consumir na cultura, pois relembro, cultura vem do latim de cultivar, comemos por colher, garfo e faca por cultura, são valores carregados a séculos que nos fizeram por aqui comer com estes talheres, e não por hashi como na Ásia.

Segundo o site Good Reader, “vendas de mangás nos EUA cresceram 9% em 2022” (veja aqui), e segundo o site Publishing Perspectives (veja aqui), as vendas de quadrinhos, lá referenciados como comic books:

“Nas primeiras seis semanas de 2023, o mercado total de quadrinhos e histórias em quadrinhos dos EUA caiu 13% em relação aos números de 2022, de acordo com Kristen McLean, da NPD” Mclean ainda coloca: “quadrinhos e histórias em quadrinhos tiveram um dos crescimentos mais rápidos na indústria [dos EUA] desde 2019, impulsionados por fatores únicos, incluindo o aumento da visualização de anime durante a pandemia, gerando novos fãs de mangá, vendas consolidadas de certos títulos de alto perfil séries infantis como os livros ‘Dogman’ em muitas lojas nos últimos anos, e a elevação do conteúdo de plataformas de próxima geração como Webtoon dando o salto para a página e a tela.”

Ambos os sites mostram o quanto que os animes impulsionaram as vendas de mangás sobre as comics, e não são poucos os vídeos de americanos mostrando os números baixos de vendas das comics por lá, como este link que deixo (aqui).

A real é que estão sentindo isto na pele, pois a cultura oriental está mais forte do que nunca pra cá, outro dia mesmo fiz compras aqui em Goiânia e vi duas vendedoras vizinhas de bancas falando de um dorama sul-coreano, pessoas comuns falando de um conteúdo que a pouco tempo sequer era conhecido pelas massas, até aqui em casa minha irmã começou a assistir alguns doramas e recomenda para as amigas dela, e olha que eu já conhecia doramas a mais de uma década, e hoje vejo uma boa disseminação deles por aqui.

Estão temendo isto todos os dias, enquanto as animações americanas estão natimortos, bem como os quadrinhos, os animes japoneses estão puxando vendas de mangás e destruindo a concorrência americana, praticamente em todo o mundo, por isso aos tantos os grandes meios de mídia aqui no Ocidente estão colocando a culpa das mazelas de nossa sociedade na culpa dos mangás, animes e jogos, ou o fazem isto, ou então sofrerão uma lavada dos asiáticos, e não se esqueça dos doramas e manhwas da Coreia do Sul e até as animações chinesas estão começando a aparecer mais por aqui no Ocidente.

Como eu disse no meu texto anterior sobre o tópico, não se estranhem com a censura que a mídia quer jogar para as massas, mas comecem a espalhar isto para todos, pois se passam a censurar os mangás e animes por suposições infundadas, outras coisas também poderão sofrer igual censura por conta do precedente.

O precedente da mídia alcança os pais

Eu entendo que pais e responsáveis queiram proteger suas crianças de conteúdos por aí, a Internet deu um acesso a tanto conteúdo nunca antes visto na história do mundo, mas, quem tem a responsabilidade em mãos, e quem tem o caráter de discernir o certo do errado?

Eu jurava que eram os adultos, mas quando eu vejo homens barbados e mulheres feitas não sabendo diferenciar o que é real do que é o lúdico e fictício, eu começo a ver um gigantesco problema tornando forma, a primeira parte deste problema é que estes adultos serão facilmente manipulados pela mídia que abordei no primeiro tópico, logo, farão tudo aquilo que a televisão falar para fazer, a outra parte, o poder em exercício criará métodos de censura travestidos de algo supostamente bom, como algo que “dará segurança na net” ou algo semelhante, como foi o caso da censura dos americanos, com conselhos escolares, associações de pais e políticos, enquanto aqui no Brasil pelos políticos e amplamente divulgado pela velha e carcomida imprensa.

Pais e responsáveis, TOMEM VERGONHA NAS SUAS CARAS, se vocês que são os adultos da equação, não são capazes de regular o que seus filhos e filiados estão consumindo, não venham depois querer pedir que uma obra venha ser proibida, pois ela abrirá precedentes danosos para todos, pois, para o que serve a classificação etária anunciada?

Imagine o seguinte cenário, um cristão achando um absurdo que um ateu seja um ateu, ou que um ateu ache um absurdo o cristão ser cristão, e eles pedem que a crença/visão de mundo do outro seja proibida, sabe o que acontecerá de fato? Se o cristão não puder ser cristão, o ateu não poderá ser ateu, se começarem a considerar que um certo conteúdo é “problemático” jogando a ele algum problema que a ele não pertence, hoje é o anime, o jogo, amanhã serão livros sagrados, atividades culturais e etc.

E é um recado pra turma do cancelamento, nome bonitinho para assassi**to de reputação, uma hora este bumerangue volta pra você muito mais forte, como dizem num conto sobre o governo na**sta: “vieram buscar o judeu, mas como eu não era, não me importei, buscaram o cigano, o cristão, outro dia me buscaram e não tinha a quem recorrer”.

Tentar destruir a reputação de alguém por não saber conviver com o contraditório, é imbecilidade de quem ainda não sabe viver em sociedade e afeta todo um ambiente social da pior forma possível por conta disto, e no ramo do entretenimento, se você não tem uma ampliação do público, seu serviço está fadado à irrelevância no meio cultural, ou ele nunca decolará, ou simplesmente deixa de existir.

Não queira proibir as pessoas de ter acesso a um determinado conteúdo, não resolve, é mais eficaz explanar para as pessoas sobre o conteúdo em si e o que ele é do que querer que não tenham acesso, pois assim como a criança dá seu jeito de buscar aquilo que o adulto proibiu, assim também foi com a proibição de bebidas alcoólicas nos anos 20 nos EUA, não resolveu o problema de alcoolismo por lá, aliás, ele piorou a situação e um tal de Al Capone veio a existir, o resto é história.

E comece a acompanhar meios de mídia especializados, como o nosso da AnimeUnited, feito por pessoas que realmente entendem do assunto, ao invés de políticos e representantes sociais que só sabem de games, música, filmes e séries pelo aquilo que contaram a eles, o que é nada. Pois fazendo isto, você estará melhor inteirado do que está ocorrendo no meio do entretenimento por pessoas que realmente acompanham a área e não cairá no conto do vigário de aproveitadores que queiram te contar do contrário.

O comportamento das fandoms não ajuda

No texto anterior eu já dou uma dica de como se preparar para a Guerra Cultural, e neste já abordei a picaretagem de políticos e autoridades sociais querendo leis a favor da censura, já abordei a mídia podre que não relata mais nada e só quer mostrar para você o que ela quer que você veja, e já abordei a omissão de adultos, mas se tem um grupo que não pode passar desapercebido, são as bases de fãs da Internet.

Não foram poucas as vezes que tive brigas grandes com grupos e páginas que estavam prestando um desserviço para a comunidade, ou estavam promovendo um conteúdo que nos denegria e que era usado de chacota contra nós, ou certos comportamentos realmente tóxicos da comunidade que só prejudicavam as boas discussões que são necessárias dentro da comunidade, sejam fãs de animes e mangás, sejam fãs de filmes e séries.

Eu quero focar em três coisas que a comunidade geek passou da hora de fazer mudanças para que melhorassem este meio:

• Divulgação de Conteúdo dos Membros do Grupo e de Outras Páginas: Quando entrei na Anime United a quase um ano, pensei em partilhar meus textos e entrevistas nos grupos que participo no Facebook, Telegram, WhatsApp, para aumentar a divulgação e discussão sobre temas da área, dei de cara com grupos que simplesmente impedem uma auto divulgação de qualquer membro ou o compartilhamento de links de matérias, aí você me diz, como que poderemos aumentar e melhorar o nível das conversas sobre os assuntos da área se não podemos compartilhar nossos conteúdos sobre a coisa? Não faz o menor sentido, se não dermos vozes e espaço para pessoas que estejam contribuindo com as comunidades, como atrairemos novas pessoas para os grupos? Compartilhar fotos dos episódios e nada mais? Páginas de animes e mangás, parem de tanta mediocridade e comecem a ajudar umas as outras, nunca vi meios tão fechados e tão desunidos por aí como vocês, e olha que eu participo de grupos que vão desde mecânicos, fãs de aviação, esporte, automobilismo, até páginas de humor, e se tem um que se destaca negativamente são os de obras audiovisuais;
• Discussões Ridículas, Comportamentos Imbecis e Moderação Fraca: Outra coisa que me estressei com algumas fandons por aí é o fraco (pra não falar inexistente) debate sobre os tópicos de discussão, quando não é uma coisa da rodinha da administração, é simplesmente maçante ver a monotonia nas discussões, sempre pegando a modinha do momento, não aprofundando em nada e discussões que não vão levar ninguém a lugar a lugar nenhum, como ainda querer comparar quem tem a melhor estória, se é Naruto ou Dragon Ball Z, eu vejo essa conversa desde os tempos de Orkut e sempre dá no mesmo resultado, começa com uma “zueira” e termina em brigas infantis. Isso quando a conversa não fica no tal do “shippar”, e bolam teorias mirabolantes irreais sobre o anime, não me surpreenda que nos vejam como imaturos por aí. E nem preciso falar de comportamentos tóxicos como o que mostrarei em um print logo abaixo, quando eu postei um meme simples em dois grupos, um brasileiro e outro americano, adivinhem em qual deles deu briga? Ou isto muda, ou começarão a nos censurar sem nem pensar duas vezes;
• Interações Fracas e Falta de Agregação: Sabe o que leva certos grupos na net a simplesmente acabarem do dia para a noite? PANELINHAS, estou farto de ver grupos que simplesmente não espalham nosso tão amado hobby com as pessoas, se fecham completamente e impedem interações, não me impressiona que também nos vejam como um bando de esquisitos e retrancados, já não basta o comportamento de um bando de pessoas e a falta de lideranças de fato nos grupos e páginas por aí, ainda temos que ver um bando de esquisitos que tornam o hobby repudiável para a maioria das pessoas. Sem renovação de público, nada vai pra frente, e não há nada de novo nos grupos a anos, a não ser muita briga desnecessária e fútil, e que vão fragmentando a área.

Mudemos então nossa área, faltam vozes de liderança nestes meios das fandoms, que coloquem ordem nos grupos e que criem coisas diferentes para a área, mas que se posicionem sobre o que está acontecendo na área do entretenimento, pois eu tenho certeza que se tivesse um homem ou mulher de verdade no meio, não teria acontecido a treta com o Guilherme Briggs no começo do ano, pessoas saberiam que mangás estão sofrendo censura por aí, que sites de animes foram derrubados sem aviso prévio e por aí vai.

Eu participo de uma scan, e muitos não sabem da dificuldade que está de achar bons tradutores, editores e revisores para trazer conteúdos que não são trazidos para cá, se tivéssemos uma comunidade madura e ativa de verdade, teríamos vários mangás, manhwas, comics, materiais autorais estrangeiros independentes a rodo em português.

Eu poderia falar da mobilização de eventos que poderiam ocorrer por aí e agregar pessoas talentosas para fazer algo diferente para nossa turma, ou de coisas ainda maiores para que pudessem ver nossa comunidade com os olhos certos, e o caso da censura que citei no começo do texto não teria acontecido por aqui, se tivéssemos pessoas vocais sobre a coisa, mas enquanto for esta zorra, tripudiarão sobre nós sem piedade e seremos vítimas de nossa própria omissão.

Conclusão

Os tentáculos deste polvo podem facilmente serem cortados a qualquer momento e por nós mesmos, você olha o exemplo do Japão de qual nosso site tanto se apoia, onde eles têm um legislador que é mangaká, Ken Akamatsu, e que recentemente está levando uma discussão sobre as Inteligências Artificiais no meio artístico (veja aqui), enquanto não temos um representante brasileiro da área, seja jornalista, seja fã, seja um quadrinista ou roteirista que vá as forras no Congresso Nacional e que representem esta área, enquanto isto estão tentando a todo custo censurar os jogos, já censuraram os animes na tv aberta, e não temos um vocal na área, pelo contrário, temos um bando de imbecis funcionais que só nos desmoralizam para os outros com discussões ridículas e sem propósito, um meio que não se ajuda e que é estupidamente individualista que só quebra a cara, que já tirou bons dubladores de seus papéis e não por um trabalho ruim, e sim por imaturidade de uma comunidade, que até mesmo prejudicou que animes como Naruto pudesse ser finalizado em sua dublagem, uma comunidade assim dá passos largos a própria destruição.

Quer resolver este problema? Vocalize-se! Comece a trazer boas discussões sobre os episódios, sobre enredo e personagens, sobre aberturas e encerramentos, comece a explanar mais sobre os animes e mangás àqueles que não tem contato direto e que agregariam muito a nós, pois são estas pessoas que no fim das contas serão controladas por discursos errôneos e preconceituosos sobre nosso hobby, e apoiarão a censura e cauterizará nosso meio.

Faltam bons lideres nas comunidades, seja grupos ou páginas, ou até canais no YT, e faltam pessoas que vistam a camisa da comunidade de fato, pois pessoas assim, explanariam mais da área e a censura não teria vez em nosso meio.