A surpresa é definida no geral por algo que é inesperado em sua forma, e surpresa é uma boa palavra para definir Overlord, e sejamos sinceros, quando a obra surgiu lá em 2017, o gênero de isekais já estava bastante saturado de opções, parecia até mesmo que as produtoras tinham se acomodado a somente virem com a ideia de personagens vivendo uma vida de ferrados em seus respectivos mundos, morrendo por alguma coisa aleatória, e aparecendo num mundo totalmente novo para uma nova vida, e obras que abordavam o tema de viver um mundo fictício de games também já estava bem manjado. Só que Overlord conseguiu aparecer e ser um dos raros casos onde animes ganham mais temporadas além da primeira, quatro ao todo, quantos animes não queríamos que fossem para além de meros doze episódios e explorasse bem o material que tinham em mãos? Uma penca enorme, mas este veio do nada e conseguiu quatro temporadas de treze episódios cada na base da sorte? Creio que não, pois esta análise mostrará o porquê Overlord conseguiu garantir presença não só em uma matéria aqui no site, mas como conseguiu ficar por tanto tempo no mercado, vamos mergulhar nas temporadas e descobrir os ‘porquê’!
Não é um mundo de jogo, é um jogo no mundo
Uma das razões dos isekais terem enchido o saco e verdadeiramente saturar o gênero são suas fundações, é resumidamente a vida de uma pessoa sendo mostrada como a pior de alguma forma, de repente ela morre ou é invocada para um novo mundo para viver uma vida nova com pouca ou nenhuma característica de seu mundo original sendo fundamental para o enredo ou mesmo para o personagem, seria mais criativo fazer uma animação de fantasia ou algo do tipo, além de mais original, e Overlord não é exceção aqui, a animação começa com um cara no Japão do futuro se conectando numa máquina de realidade aumentada, entrando num jogo chamado de Yggdrasil, no último dia dos servidores do jogo online e ele adormece no jogo, tentem adivinhar o que ocorre com o cara logo em seguida, pois é, agora ele está dentro do jogo sem saber o porquê. O começo é muito manjado e um tanto quanto genérico e até mesmo inútil, pois nada do começo dele segue ao longo da animação, a única coisa que aparece dele é que era um cara que trabalhava como um condenado num mundo lascado e escolhia a realidade virtual como vida paralela.
Assim como em outros isekais da Kadokawa, como Konosuba, Re:Zero e Youjo Senki, que juntos compõem o Isekai Quartet, Overlord conseguiu contornar este começo genérico e entregou algo diferente dos outros tantos isekais, e digo que foi além, pois ao invés de remoer a vida regressa ao longo do anime, aqui o personagem simplesmente toca a nova vida no jogo, assume a forma de Ainz Ooal Gown, como ele foi o único da guilda que ficou preso no mundo do jogo, agora ele é o mestre solitário da grande Tumba de Nazarick, e comanda os personagens criados por seus amigos de guilda. Se Konosuba é uma zoação e esculhambação aos isekais, sempre usando de estereótipos dos isekais de maneira sensacional e hilária para gerar o seu núcleo, Overlord vai num rumo diferente, onde a graça da coisa é vivenciar de fato o personagem central em um mundo diferente com uma vida diferente, ou seja, Momonga que é o personagem principal da saga, vivencia seu personagem Ainz Ooal Gown em toda a sua capacidade do jogo, só que com mais um detalhe, ele não simplesmente vai parar no universo do jogo em que logava, mas toda a Tumba de Nazarick acabou parando num novo mundo novo, o que acaba saindo do óbvio e já batido modelo de alguém indo parar no mundo dos jogos, para um modelo que usam pouco, onde o personagem assume de fato o corpo e alma do personagem.
Então os personagens do jogo estão em um mundo totalmente desconhecido por eles, e aí? Aqui começa a aparecer um bom detalhe da obra, eles não estão no mundo original do jogo, estão no mundo novo fazendo o que faziam no jogo. O que se torna batido em obras que trazem alguém num universo de jogos é a mesma ladainha de sempre, que é moral cometer coisas no jogo que na vida real você não o faria, aqui não tem disso, aqui o personagem principal se toca que está mesmo preso no personagem e toca o barco para frente, detalhe importante, a guilda dele era uma de monstros e vilões, ou seja, o Ainz Ooal Gown não é mocinho, na realidade ele é o mais poderoso membro da guilda, guilda essa que era a de vilões no jogo, e agora neste novo mundo permaneceram o mesmo, só que o tal do Momonga só poderia ser descrito no bom português como sendo um mongol, o cara se toca que tem muito poder, itens dos mais variados e de grande poder, os NPC’s da guilda agora são seus subordinados, apesar de não terem o nível poder dele, são bem fortes, eles guardam os andares da Tumba, por fora é um senhor morto-vivo que toca o terror só com sua imagem imponente, por dentro é alguém sem habilidades de gerência, estratégia e liderança.
É muito engraçado ver este tipo de interação de Ainz com seus liderados, pois eles têm o grande Ainz Ooal Gown como sendo o líder supremo, mais forte e capaz, como em Yggdrasil, mas não sabem que por trás dele há um jogador que não entende patavinas do que está fazendo, e você vê isto sempre que há uma decisão para ser tomada e Ainz simplesmente não sabe o que fazer, fala o que acha que sabe e seus liderados acham a coisa mais sábia a ser dita, e ironicamente dá certo, ou então quando os NPC’s de Nazarick estão debatendo e o grande líder simplesmente se perde nas discussões, mas que enxerga em cada um dos liderados as personalidades de seus antigos amigos de jogo. Outra coisa agradável ao espectador é o tema do anime, realmente você vivencia discurssões sobre os próximos passos que a grande Tumba de Nazarick precisa tomar para se estabelecer no novo mundo, como conseguir construir os itens que eles precisam, como conquistar uma nação, eles usam e abusam disso ao longo dos episódios, criam táticas de combate e persuasão, os caras realmente entram no papel para criar uma obra com corpo e alma, o que acaba criando um bom clima em cada episódio, não tem lutas genéricas, movimentos estúpidos, tudo aqui é levado a sério no enredo, algumas vezes você esquece completamente que tem um burro por trás de Ainz Ooal Gown, de tão cheio que o roteiro é.
Levando bem o que se propõe
A dinâmica da saga de Overlord se concentra em fazer tudo aquilo do jogo de Yggdrasil, um RPG de conquista e estratégia, e é o que dá gosto em ver no anime, como eu tinha dito, não é um Sword Art Online da vida, e sim o jogo que se tornou a realidade. Não que não tenham personagens legais, pois até tem, e na variedade que jogos de RPG tem, tem uma súcubos (Albedo), elfos negros (Aura e Maure), uma vampira (Shalltear Bloodfallen), um guerreiro (Cocytus), um Demiurgo, e uma penca de personagens de apoio e secundários que são mostrados ao longo das quatro temporadas, dos membros de Nazarick até as figuras dos reinos deste novo mundo, há uma lista bem grande de personagens que é bem explorada em cada temporada que tem personalidade e algum nível de importância ao enredo, mas o que realmente os faz brilharem aqui são seus papéis na estória, mais do que suas personas. Lembram que eu falei que é um jogo que se tornou realidade? Pois então, não foram poucas as vezes que senti estar vendo um jogo em si, com enredo montado, personagens estabelecidos e objetivos traçados. A coisa é simples, Nazarick está num mundo desconhecido, e qual é a melhor forma de descobri-lo que escolheram? Conquistando-o, e com isto, Momonga quer descobrir se há outros jogadores que assim como ele foram parar neste mundo e se há como sair disto, porém com este objetivo se é mostrado o outro grande ponto da saga, a progressão da estória.
É realmente chato vermos um anime que só dure em média meros doze episódios, pois quando é um bom anime e que cai nas graças do público, acaba que só teremos estes episódios pra consumir, o que sempre nos dá uma sensação de insuficiência, mas é explicado, se usa uma temporada de anime para divulgar o mangá, jogo, novel ou qualquer outro material fonte de onde são adaptados, já que os animes são o meio de mídia mais comum de ser disseminado mundo afora, mas tem uns sortudos que vão além da primeira temporada, ganhando as vezes até filmes, e que é o caso de Overlord, e a obra mostra como se fazer continuações com objetivo de existirem, mais do que encher linguiça sem motivo algum, Overlord teve o luxo de se desenvolver ao longo de quatro boas temporadas de pura evolução do enredo, cada temporada não são simplesmente aleatoriedades dos personagens por meio de fillers, todos os episódios importam para a narração da estória em si, e em cada temporada vemos um avanço claro e bem definido do enredo, são elas:
- Primeira Temporada: A grande Tumba de Nazarick chega num mundo desconhecido, conhecemos os personagens que a compõe e logo se é traçado o objetivo, de conquistar este mundo novo, os principais são os guardiões de Nazarick, além do próprio Ainz, e aos tantos estes personagens são usados nos episódios com suas habilidades, nasce a ideia de fazerem um reino para si;
- Segunda Temporada: Tendo eles conhecido o local, outros reinos e suas principais figuras são mostradas, começaram a avançar neste novo mundo, o cenário vai evoluindo junto para demonstrar este avanço do enredo e se concretiza a ideia de um reino;
- Terceira Temporada: Nas últimas duas temporadas, Nazarick reúne grandes informações das forças deste mundo e começam a conquistar ainda mais territórios e povos, com isso o Reino Feiticeiro de Ainz Ooal Gown vai sendo mais vezes conhecido por todo o continente e novos combates nascem ao longo dos episódios.
- Quarta temporada: A última das temporadas encerra todos os laços apresentados, várias tramas foram surgindo em relação à geopolítica que Ainz e seus comandados se sujeitaram, o reino de E-Rantel foi destruído e o poder de Nazarick foi demonstrado com mais intensidade, e finalmente vemos que de fato há outros jogadores de Yggdrasil além de Ainz.
De repente me vi desejando ver mais episódios da saga, e quando escrevia esta análise eu fui entendendo o porquê, foram inteligentes em usar as temporadas para irem evoluindo o enredo e deixar a coisa mais apresentável, as vezes vemos muito nos animes em quererem colocar em doze episódios algo que deveria estar colocado no dobro disso, ou seja, fica tão enlatado e cheio de informações pra processar, que você se perde fácil. Há também o uso prudente de seus personagens, tanto os da linha central de Nazarick, quanto os personagens secundários da saga, numa temporada os personagens aparecem mais, na outra diminuem, mas a importância de cada um é bem delimitada e bem usada na obra, como eu disse, nada aqui é desperdiçado e tão pouco usado casualmente, personagens morrem, outros substituem ou são agregados de acordo com o avanço da obra, ele se usa bem como poucos animes com tantos personagens.
Palatável e agradável
É realmente agradável ir assistindo a cada temporada, pois a estória da saga não fica sem fios soltos e tão pouco são maçantes de se acompanhar, realmente criaram uma realidade que pode ser executada como em um jogo de fato. Grande exemplo disto é mostrado nas batalhas onde os poderes e armas são demonstrados e usados por todos, a cada batalha e guerra ganhos, Ainz consegue aos tantos ir compreendendo seu espaço e se jogando cada vez mais no personagem, fora que a cada conquista, conhecimentos a respeito de como se produzir os itens para os feitiços e poções necessários para Nazarick são conquistados, já que não tem mais uma loja online, eles tem de ser autossuficientes de alguma forma, motivo pelo qual conquistam mais povos e mais recursos, e cada vez mais a estória avança, a um ponto que você se satisfaz em vê-los conquistando tudo e avançando, e como o vão fazendo. A obra tem toda essa ação e volume que são aproveitados em cada episódio de maneira que faz o anime progredir num ritmo não forçado, e surpreendentemente os arcos tem uma naturalidade que raramente se vê em outros animes, um bom exemplo disso é quando os personagens secundários, como os reis e nobres dos reinos abordados no anime começam a ganhar destaque, eles não são limitados a aparecer com os personagens principais, eles aparecem por conta própria, há vários episódios onde eles aparecem mais do que os principais e ajudam a evoluir a narrativa apresentada por Overlord.
Conversas sobre a geopolítica local em relação ao Ainz Ooal Gown acontecem e te mantem a par do que está acontecendo, ou seja, a estória é tocada até mesmo pelos secundários, dando vida para o anime que outros animes não conseguem, como eu disse, os personagens aqui tem seu espaço em cada temporada e interação, ou seja, o anime tem volume de fato, não enrola, não se desperdiça e se mantém constante nas quatro temporadas, realmente ele te coloca dentro do universo de Overlord. Ser direto no que você propõe deveria ser obrigação de qualquer obra, mas umas se perdem facilmente ou demoram para encontrar um ritmo agradável de acontecimentos, outro ponto positivo de se ter várias temporadas, há uma coesão no que se apresenta, a coisa do personagem principal estar preso no seu personagem de jogo não é esquecida, as conquistas e feitos não são deixadas de lado, pra resumir, tem um banquete cheio de coisas, mas que apesar de ser grande, pode ser consumida se bem apresentada e disposta nos episódios, e é o que acontece no anime.
Notas
Animação: É uma mistura de 2D com o 3D usado nos momentos de luta, principalmente em personagens para dar volume por repetição e nas armas, mas não é bem integrado como poderiam ter colocado, 3D é usado pra cortar custos e tempo, mas quando não o fazem com primazia fica algo descasado, mas o 2D é bem feito, nada estrondoso, mas decente. 6.5
Arte Gráfica: Gostei dos traços apresentados, apesar de não serem tão inusitados, tenho que admitir que usar uma gama bem variada de personagens dá um bom toque de qualidade para dar variedade à obra, cada personagem tem presença e não são genéricos, e seus detalhes físicos condizem com suas personalidades, seja a Albedo sendo bem atraente como uma súcubos ou a presença temorosa de Ainz como um esqueleto morto-vivo, o design dos personagens sozinho já mostra o que o anime é. 8.0
Personagens e Enredo: O que realmente dá gosto de ver numa estória é ver que ela não trava, que não há pontas soltas por mal desenvolvimento de diálogos e acontecimentos, nem há personagens inúteis com personalidade de papelão, e o principal, tem um desenvolvimento de verdade e se dá tempo para apresentar, aproveitaram a chance de terem quatro temporadas com treze episódios cada para mostrar o que Overlord é, quem são os envolvidos da trama, e para onde a animação vai, cada temporada é uma diferente com diferentes tons e personagens, você não só percebe a evolução, mas a presencia. 8.5
Trilha Sonora: Ela lembra temas dos jogos de MMORPG Online que vemos por aí, não que seja aquela coisa de original, a coisa básica de uma trilha sonora é que ela case com o tom da obra, e o fazem bem. 6.5
Dublagem: E como ele está dublado, tenho que dar um extra para o anime, dos animes que analisei até aqui na Anime United, Overlord é o segundo anime que tem dublagem, a mesma é boa, mas apresenta figuras novas e experientes do cenário de dublagem, algumas escolhas foram muito bem feitas, mas alguns personagens não chegaram lá, pode ser um gosto pessoal meu, mas pude aproveitar bem a experiência do original e compreender bem a estória, fazendo seu papel e ajudando a tornar a obra mais conhecida para mais pessoas: 7.5
Geral: É um anime realmente surpreendente, tinha tudo para ser mais um anime genérico num gênero saturado, mas apresentou detalhes que realmente realçam sua personalidade, dá gosto em ver a progressão da estória, os personagens são bons e bem apresentados, não enrola no que apresenta, tem momentos de ação incríveis que se assemelham aos momentos de jogos, tem momentos de comédia, momentos mais técnicos de estratégia, realmente a vibe de um jogo num mundo real faz a alma de Overlord. 7.4
Veredito
Overlord seria ainda melhor se não fosse um isekai, mas ele se diferencia num ponto fundamental de outros do gênero, o personagem central não se incomodar de fazer nada no mundo por alguma moral do mundo dele, ele assume o papel de seu personagem virtual em um mundo real com vontade de fato, o anime inteiro te dá bons motivos para acompanhá-lo, tem muita ação, estratégia, ele explora outros personagens que não somente os centrais, uma estória que evolui de fato e dá gosto de assistir, tudo isso em quatro temporadas, ele se apresenta bem para o espectador. Overlord é o anime que você gostaria de maratonar a qualquer momento, é consistente no que ele mostra e nem parece um isekai de tanta coisa que ele apresenta e que destoa do comum do gênero, vale ver com certeza colocar na sua lista de animes pra ir assistindo aos poucos, não é algo genérico que será esquecido ao longo dos anos, isso eu garanto!
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