Como já dizia Miguel de Cervantes: “Não existe maior loucura no mundo do que um homem entrar no desespero”. E é justamente sobre essa ascensão do desespero humano que é retratada em Danganronpa e que iremos debater agora.
Antes de mais nada, é extremamente válido deixar claro aqui que não darei nenhum detalhe importante da história, isto por que o mistério é uma parte fundamental do anime – que nos traz uma surpresa em cada episódio – e, afinal, spoilers aqui não passarão.
Danganronpa: Kibou no Gakuen to Zetsubou no Koukousei The Animation (ou apenas Danganronpa: The Animation) é um anime de apenas 13 episódios, baseado na franquia de visual novel homônima de investigação e assassinatos, tendo como estúdio responsável pela sua adaptação o Lerche no ano de 2013.
A história principal gira em torno de Naegi Makoto e seus outros colegas de classe selecionados cuidadosamente como sendo o futuro da humanidade, cada um representando um talento em nível super colegial e escolhidos com o objetivo de desenvolverem suas habilidades naquele lugar.
O que acontece é que todos eles, ao entrarem no colégio chamado Pico da Esperança (ou Topo da Esperança, depende da tradução), uma instituição super respeitada e autorizada pelo governo, eles apagam e acordam com tudo diferente do que imaginaram. O problema é que eles descobrem que estão presos nesse colégio e são mantidos com o aviso de que ficarão para sempre ali, porém existe apenas uma regra para quem quiser sair: matar alguém e não ser descoberto.
Todas essas notícias são dadas por uma espécie de “porta-voz” da mente criadora de tudo isso: Monokuma, um urso de pelúcia metade preto e metade branco, que mistura gestos “fofos” com ameaças e piadas desagradáveis sobre toda a situação. A intenção é que todas as ações do Monokuma sejam o estopim para que o desespero se instale e se dissemine entre os estudantes, fazendo com que todos ali se matem.
“Uma situação desesperadora onde as esperanças do mundo vão se matar”
O problema é que, inicialmente, por acharem toda aquela situação absurda demais, os estudantes ali se recusam a iniciar qualquer tipo de série de assassinatos ou causar algum mal ao outro. Monokuma, ao ver que eles não vão fazer o que ele quer, passa a mexer com as mentes de todos e inicia seu plano de espalhar o desespero.
Dessa forma, Danganronpa mostra a evolução do desespero, quando Monokuma usa de artimanhas precisas para convencer todos a se matarem. Primeiro os manipula com vídeos de familiares/amigos, para que se preocupem com a situação do lado de fora, depois os chantageia com seus segredos obscuros e até tenta suborná-los com dinheiro. Tudo para promover o caos.
Também é muito interessante ver as reações de desespero dos culpados ao serem desmascarados, além de colocar também uma espiã e revelar a todos, só para deixá-los ainda mais descontrolados e desunidos. A mente por trás de tudo se submete em um nível que até manipula evidências para criar o desespero geral.
Percebemos, portanto, como é “fácil” uma mente que acreditamos ser equilibrada – já que todos ali possuem talentos excepcionais e se sobressaem entre os estudantes comuns-, se entregar ao sentimento mais insano de todos e olhar no abismo do desespero a ponto de não enxergar nenhuma esperança de salvação da sua alma. A real mesmo é que eles estão ali para serem manipulados e satisfazerem o desejo de caos e de desespero que o idealizador de tudo almeja.
Como disse, Monokuma é apenas o porta-voz de todo esse “teatro” articulado por uma mente astuciosa e maníaca pela decadência do ser humano, demonstrando que aquele colégio passou a muito tempo da estética de “esperança” que ele tenta promover e agora está destinado a ser a sede do caos entre aqueles que seriam o futuro da humanidade.
Assim, aqueles que deveriam ser os jovens mais talentosos de sua área se findam em uma tormenta desesperadora criada pelo sadismo de outra pessoa que transmite seus prazeres mórbidos por um urso de pelúcia mecânico que dramatiza todas as situações e ri em cada momento martirizante que surge em meio às circunstâncias enlouquecedoras para pessoas tão jovens que nem sabem como tudo aquilo começou e nem possuem alguma luz do futuro que já se tornou incerto diante das ameaças invisíveis e iminentes de morte.
Afinal, como você se sentiria no lugar deles, precisando escolher entre viver eternamente em um colégio com colegas que não conhece ou matar alguém e não ser descoberto para conseguir sair e buscar a verdade por trás do que se chama do “maior desastre da humanidade” e salvar aqueles que ama? Assim destaco aqui algo que eles chamam de “julgamento estudantil” que consiste em todos os sobreviventes se juntarem e debaterem as evidências do caso com o objetivo de solucionar o crime, assim, se o culpado fosse descoberto, ele seria executado, porém se ninguém acertar, todos os outros morrem e apenas o assassino permanece vivo e livre.
É tudo muito desesperador porque, no fim das contas, eles acabaram de se conhecer, estão presos juntos, e não sabem da índole e nem das capacidades de ninguém ali, também estão perdidos no mistério do “porquê” aquilo tudo está acontecendo e como conseguir sair daquele inferno, portanto a imparcialidade e o autocontrole são fundamentais para não sucumbir ao caos que Monokuma está buscando disseminar, porém tudo perde o controle a partir da primeira morte e enquanto eles seguem na estrada da loucura, a esperança de uma salvação só vai ladeira à baixo.
A pressão de toda aquela situação e o instinto de “matar ou morrer” muitas vezes se sobrepõem às dúvidas e a vontade de solucionar o mistério daquele colégio para fugir de toda essa prisão e assim cada elemento presente no anime passa a ser um complemento cuidadosamente pensado e arquitetado para refletir o sentimento do desespero que buscam tratar na história.
Sendo assim, é notável que a estética do desespero se mantém do início ao fim, em todos os detalhes do anime, desde a história que vai se desenvolvendo, com os acontecimentos abruptos e os julgamentos que os estudantes precisam realizar para descobrir o verdadeiro culpado, até o design de animação e sua trilha sonora perfeitamente esplêndida.
Partindo do design, vemos como tudo parece bem arquitetado em cada aspecto que se estende não apenas ao tipo de animação, mas também a detalhes únicos dessa produção, como o sangue rosa que é presente em todas as cenas de assassinato. Essa cor diferenciada pode nos fazer crer que seja mais uma consequência da mente deles estar se forçando a não enxergar que tudo aquilo realmente é real, sobretudo pelo fato de que há uma cena em especifico onde o personagem Byakuya Togami vasculha partes desconhecidas do prédio e encontra uma sala repleta de sangue, porém a cor está em um vermelho normal, contrastando com tudo que presenciamos até agora na história.
A estética da animação também é bastante singular, fazendo uma ponte clara com a franquia de visual novel onde foi inspirada -onde cenas especificas são desenhadas para parecer mesmo um frame do jogo-, além de que as marcações profundas e destacadas dos ambientes e dos personagens em momentos específicos (como a chamada para avisos importantes, a hora que o culpado é descoberto e sua execução) consegue nos passar essa sensação perturbadora do caos, isso pois dá para notar a mudança evidente nos traços do personagem que estava agindo normalmente até que é descoberto como o verdadeiro assassino e aí a face do desespero por estar à beira da morte se revela.
O fato da execução de cada culpado ser planejada de acordo com o perfil do personagem também reforça a angústia e o tormento daqueles jovens que veem em seu fim aquilo que mais buscaram durante sua vida, fazendo com que suas habilidades/desejos se tornassem o objeto de sua morte.
Por fim, vale destacar também a trilha sonora excelente que ganha seu espaço naquele ambiente de caos e desânimo, com uma opening em que Monokuma dança sensualmente como se estivesse desfrutando daquela situação terrível. A ending também merece ser mencionada por mudar em cada episódio, aparecendo sempre a mesma foto, porém acrescentando o personagem morto da vez nela. É tudo muito contagiante!
E aqui termino meu extenso monólogo sobre a linha crescente do desespero no anime Danganronpa, deixando minha opinião de que, apesar de ser um excelente anime, pode pecar um pouco na rapidez de como tudo ocorre. Desde a primeira vez que vi ele, sempre imaginei que o clímax se revelou de maneira muito rápida e que 13 episódios foram poucos para externar toda essa obra que é a série de mistérios e assassinatos no colégio Pico da Esperança, porém fica a ressalva de que a história continua nos jogos e nos outros animes da franquia que foram lançados, então a ponta solta do final ainda será emendada com o que vem a seguir e, só assim, descobrimos o que realmente aconteceu ali.
Danganronpa: The Animation é o primeiro anime de uma franquia com mais outros dois que prosseguem na história do que aconteceu com o mundo e com o colégio Pico da Esperança. O anime pode ser encontrado no site da Funimation para assistir, até mesmo com a conta gratuita, e possível desfrutar dos mistérios que envolvem os alunos e a instituição que foi criada com o propósito de dar esperança, mas terminou sendo a causa do desespero geral.
Então, o que acharam? Pode ter sido um artigo muito longo, mas valeu à pena dissecar um pouco esse anime tão maravilhoso. Deixem aqui nos comentários sua opinião sobre ele e se já viram ou não. Divulguem para o coleguinha e busquem as continuações que são fantásticas e muito brutais.
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